Lá dentro, Perséfone ficou aliviada quando não ouviu mais o som da bengala batendo contra o piso.
Ela estava sentada no chão com os joelhos abraçados contra o peito.
As palavras de Apolo daquela manhã reverberavam como um eco venenoso: "A babá do meu filho." A humilhação queimava como ácido.
Ela engoliu o choro mais uma vez, decidida a não derramar mais uma lágrima por ele. Deitada em sua cama, virou de um lado para o outro até que adormeceu em meio às lágrimas.
Pouco antes do amanhecer, a porta do quarto se abriu sem aviso, rangendo levemente.
A luz tênue do abajur iluminava a silhueta de Apolo enquanto ele caminhava até a cama onde Perséfone tentava, em vão, ignorar a presença que se anunciava.
Sem uma palavra, ele puxou sua camisola com força, rasgando o tecido delicado que mal cobria seu corpo. O contato do braço forte contra a pele desnuda fez um arrepio percorrer sua espinha. Ele a fitava com malícia.
- Você tem mais responsabilidades nesta casa, Perséfone - sua voz saiu rouca, quase um sussurro exigente. - Deve cumprir suas obrigações se quiser continuar aqui.
Ela engoliu em seco, o medo de ser afastada de Ícaro apertou seu peito e, contra sua vontade, assentiu. Queria evitar mais conflitos, queria manter seu filho perto.
Naquela noite, porém, havia uma diferença.
Apolo não foi o homem bruto e impaciente que ela temia. O vigor de antes parecia ter dado lugar a um toque mais contido, mais cuidadoso, embora ainda dominante.
Desde que voltou a sentir o movimento das pernas, Apolo se revelou um amante vigoroso, surpreendendo-a.
Em um desses momentos, ele gozou enquanto ela o montava, e foi ali que ele soube que havia uma chance de caminhar de novo.
Mas, à medida que se recuperava, ele se tornou mais intenso e mais exigente.
No entanto, as noites de sexo entre eles diminuíram após a chegada da nova assistente, uma mulher elegante e misteriosa. Perséfone tinha certeza de que era a amante do pai de seu filho.
Por um lado, ela chegou a ter ciúmes, mas, por outro, estava aliviada por não ter que satisfazê-lo entre quatro paredes. Só que naquela noite, Apolo a procurou de um jeito diferente.
A boca deslizou do pescoço aos lábios, provocando-lhe arrepios e desejos reprimidos.
Seus ouvidos captaram o som da fivela se abrindo e, então, o zíper da calça. Os primeiros botões da blusa de linho estavam abertos, expondo o peitoral másculo.
Subitamente, Apolo despejou sua força ao arrancar a sua camisola, expondo seus seios, que ele tomou entre as mãos com uma suavidade quase cruel, os dedos apertando e girando os bicos túmidos, marcando a pele.
Seus beijos desceram ao ventre, até o centro das coxas. Lambeu suas dobras e se deteve no botão rosado acima de seu clitóris, onde ele girou lentamente com a língua, arrancando um gemido.
Apolo a virou de quatro, sua respiração pesada ao penetrá-la de uma vez só, profundo e lento, explorando cada centímetro, abrindo-a completamente.
Os tapas nas nádegas ressoavam como fogo contra a pele, deixando-a vermelha, excitada pela mistura de dor e prazer.
Perséfone agarrou os lençóis, sentindo o corpo ser tomado pelas penetrações intensas, entregando-se mais e mais àquele encontro avassalador.
Inesperadamente, sentiu o abandono.
- Vire-se! - Apolo grunhiu enquanto se livrava da blusa e da calça.
Resignada, ela deitou de costas obre a cama. Perséfone estava de olhos fechados até que sentiu o muro de músculos pressionando o seu corpo contra o colchão. Ele se colocou por entre suas pernas e penetrou de uma vez. O movimento dele era firme, subindo e descendo, montando-a com força.
A boca voraz de Apolo continuava deixando sua marca de posse no pescoço, ombro e nos mamilos, onde a boca dele se deliciou numa sucção profunda.
Aquele calor mais que conhecido se apossou de seu corpo. Aconteciam tantas coisas que mal tinha tempo de pensar no porquê estava sofrendo tanto meia hora antes.
Quando sua musculatura íntima enrijeceu, apertando-o involuntariamente, ele continuou com estocadas, socando selvagemente, até que se derramou dentro de Perséfone, com um gemido rouco.
As respirações continuavam entrecortadas enquanto os olhos semicerrados de Apolo encontraram os seus. O coração batia ferozmente no segundo em que seus olhos tinham um vislumbre do homem que ainda amava.
Mas, ao final, ao invés de carinho, veio o distanciamento frio e repentino.
Apolo se afastou, limpou os lábios. Saltou da cama e vestiu-se rapidamente.
- Ícaro tem consulta com o psicólogo amanhã... - disse Apolo, enquanto fechava o zíper da calça.
- Por quê? - Com as sobrancelhas arqueadas, Perséfone indagou.
- A professora Léa sugeriu... - Pegou a bengala depois que informou.
- E quanto à aula?
- Foi cancelada! - Com aspereza, ele comunicou enquanto mancava até a saída.
Antes que Perséfone fizesse mais perguntas, Apolo saiu do quarto, deixando-a sozinha.
Ela fechou os olhos e pôs o antebraço sobre as pálpebras cerradas. Sentia-se descartada feito um preservativo após o sexo. Perséfone era uma mulher marcada pela paixão e pela dor. Estava envolta numa teia e cada vez que tentava escapar, ficava mais presa naquela armadilha.
Na manhã seguinte, ela se levantou e caminhou até a janela. Puxou a cortina de leve e observou o jardim iluminado apenas pelos postes baixos. Em meio ao vento frio da manhã golpeando o seu rosto, ela fechou os olhos e respirou fundo... mas foi interrompida pelo toque do celular.
O número era desconhecido. Ela hesitou... mas atendeu.
- Perséfone? - A voz do outro lado tinha um sotaque grego misturado com italiano.
- Quem está falando? - Ao indagar, ela congelou.
- Não posso me identificar... só escute. Os seguranças vão te seguir até o consultório do psicólogo onde seu filho faz o tratamento.
O coração de Perséfone disparou.
- Por quê? O que está acontecendo?
- Você precisa sair antes. Não confie em ninguém. Se te levarem, você não volta. - A ligação foi encerrada abruptamente.
Por alguns segundos, Perséfone ficou imóvel, sentindo o sangue gelar nas veias.
Após vestir um roupão, ela fechou o laço apressada antes de sair e andar às pressas para o quarto do filho. Assim que entrou, colocou a mão no lado esquerdo do peito, sentindo o coração saltar com força.
Ela olhou para Ícaro, dormindo, inocente...
Era capaz de fazer qualquer coisa para continuar ao lado do filho, mas no fundo, Perséfone sempre soube que o dia da ruptura chegaria... só não imaginava que seria tão repentino.