A babá do meu filho
img img A babá do meu filho img Capítulo 2 Uma funcionária
2
Capítulo 6 Cativeiro img
Capítulo 7 Eu te odeio img
Capítulo 8 Ela não é confiável img
Capítulo 9 O desaparecimento img
Capítulo 10 Você me abandonou img
Capítulo 11 Desafeto img
Capítulo 12 Não toquem nela! img
Capítulo 13 O resgate img
Capítulo 14 O meu lugar img
Capítulo 15 Verdade amarga img
Capítulo 16 Deixa eu te tocar img
Capítulo 17 Homem cruel img
Capítulo 18 A próxima vítima img
Capítulo 19 Ardiloso img
Capítulo 20 Ele não está aqui img
Capítulo 21 O código img
Capítulo 22 Uma ótima mãe img
Capítulo 23 Quero ouvir você gemer img
Capítulo 24 Prometa que vai voltar img
Capítulo 25 Vamos conversar img
Capítulo 26 O submundo img
Capítulo 27 Uma concussão img
Capítulo 28 Redenção img
Capítulo 29 O casamento img
Capítulo 30 Epílogo img
Capítulo 31 O Bastardo img
img
  /  1
img

Capítulo 2 Uma funcionária

Perséfone tentava fazer o filho se alimentar enquanto Ícaro franzia a testa, recusando-se a engolir mais uma colherada do cereal. Estava emburrado, olhando para a tigela ainda pela metade.

- Coma mais um pouco. - Ela murmurou, passando o polegar no queixo do filho com delicadeza.

O menino afastou a mão da mãe com um muxoxo mal-humorado.

A governanta surgiu à porta com os passos leves.

- Perséfone... - falou, mantendo a postura ereta e as mãos unidas na frente da barriga. - O senhor Apolo está perguntando pelo filho.

Perséfone ergueu os olhos devagar. Não havia recriminação na fala da mulher, mas o tom implícito era nítido. Engoliu em seco, forçando um sorriso que não alcançou os olhos.

- Ícaro não quis terminar o café. Mas está pronto. - Acariciou os cabelos do filho, depois se levantou com cuidado, guiando-o pela mão.

A governanta inclinou levemente a cabeça, em uma despedida seca. Virou-se e desapareceu no corredor. Perséfone suspirou antes de abaixar-se, ficando na altura do pequeno.

- Vamos ver a professora Léa? - sugeriu, tentando animá-lo com um sorriso cálido.

Segurando a mão pequena, conduziu Ícaro até a sala de estudos ampla, com janelas abertas. Sobre a grande mesa de carvalho repousavam livros infantis, lápis de cor e um globo antigo girando lentamente com a brisa.

Ícaro fitou a professora com olhos aflitos e então balançou a cabeça negativamente. Ainda segurava firme no pulso da mãe.

- Quero ir para a escola. - A voz embargada da criança mal disfarçava o choro iminente.

O garotinho correu na direção contrária, mas ficou sem saída quando dois seguranças surgiram no final do corredor.

Ao chegar perto, Perséfone se abaixou, abraçando-o com força. Sabia que o filho sentia falta da rotina, dos coleguinhas, dos sorrisos que não precisavam ser contidos naquela casa. Mas não tinha escolha. Não mais.

- Hoje a aula será aqui, querido.

Mas Ícaro já estava aos prantos. As mãos pequenas agarraram o pescoço dela com força enquanto a boca se escancarava em um choro alto e inconformado. A cada soluço, o corpo estremecia.

No escritório, Apolo tocava o queixo com os dedos longos, mas os olhos dele estavam fixos na tela do laptop. A câmera do corredor transmitia em tempo real. Ele observava o filho agarrado à mãe, chorando.

Apolo fechou o notebook com firmeza. O estalo da tampa ecoou pela madeira da mesa. Inspirou fundo e tocou a mandíbula que pulsava sob a barba rala.

Apoiado na bengala, empurrou a cadeira para trás com o peso do corpo. O rangido das rodinhas riscou o piso e foi abafado pelo som da ponta da bengala batendo contra o mármore.

Levantou-se com esforço, ajeitando o peso do corpo na perna boa. A outra mal sustentava o equilíbrio. Mancando, atravessou o escritório. Os olhos escuros faiscavam sob as sobrancelhas cerradas.

Desceu o corredor lentamente. Cada toque da bengala no chão era um aviso. A cada passo, o som aumentava com aquele ritmo marcado, desequilibrado e impaciente.

Perséfone ouviu antes de vê-lo. Ela se levantou depressa, o menino ainda estava agarrado ao seu quadril. O pequeno soluçava contra o tecido do vestido. As mãos trêmulas de Perséfone acariciavam os cabelos dele, em vão.

Os olhos de Apolo varreram a cena diante dele com frieza. Não disse nada de imediato. Ele avaliou a criança. Depois, Perséfone.

- O que está acontecendo aqui? - indagou, com a voz modulada por um autocontrole treinado.

Endireitou a postura, apoiando o punho sobre a bengala de madeira escura. Os dedos apertavam o cabo entalhado com força.

Perséfone respirou fundo, tentando manter a compostura.

- Ícaro queria ir à escola hoje.

Apolo desviou os olhos para o filho, que ainda chorava, mas agora de forma mais contida. Os soluços vinham espaçados, o rosto enterrado na lateral da mãe. Ele não se aproximou.

- Ícaro, vá para a sala. - As palavras do pai irritado não eram uma sugestão, e sim uma ordem.

Apolo endireitou os ombros. A dor na perna o fez contrair as narinas, mas não cedeu. A posição de autoridade era mais importante que o incômodo constante.

Perséfone vacilou. Os olhos buscaram os do ex que continuava parado à sua frente, e por um instante, quase rompeu o silêncio, mas mordeu o lábio inferior e se calou. Era inútil discutir com o homem que sempre ameaçava afastá-la do filho.

- Ele só está confuso. Foi tudo muito repentino.

- Confuso? - repetiu, com ironia. - Ícaro não está doente e nem mesmo com febre. - Vociferou com veemência. - E você não está aqui para justificar os caprichos dele.

Perséfone levantou, segurou a mão pequena de Ícaro e recuou um passo, instintivamente. O menino se agarrou à mãe com mais força.

Apolo inclinou-se levemente, com os olhos escuros fixos no filho.

- Ícaro - chamou, o tom mais brando, mas ainda duro. - Olhe para mim.

O menino ergueu o rosto molhado, os olhos marejados, o nariz escorrendo.

- Hoje você vai estudar aqui. A professora Léa já está esperando. Agora, vá para a sala.

O garoto hesitou, a boca se contorcendo num choro contido. Mas, devagar, acompanhou a mãe que caminhou com passos inseguros até o outro cômodo. Perséfone parou ao ver o menino atravessando a porta. Ícaro se virou, ainda tinha esperança de que alguém o tirasse daquela solidão, mas ninguém o fez.

Apolo ficou em silêncio, observando-o desaparecer. Só então voltou-se novamente para Perséfone.

- Não admito esse tipo de espetáculo nesta casa. - disparou com frieza.

Perséfone engoliu em seco. A raiva latejava em seus pulsos, mas ela manteve a postura. O olhar, porém, traía sua revolta.

- Crianças choram. - Ela disparou num sussurro.

Apolo mancou com dificuldade, parando a poucos centímetros dela. O cheiro dele - amadeirado, intenso - invadiu o espaço entre os dois. Seus olhos a examinaram como se fosse um erro em sua organização meticulosa.

- Não se esqueça de que você é apenas uma funcionária nesta casa. - Articulou como se fosse uma sentença.

Ao surgir na porta, Léa observou o homem com os ombros largos, que vestia terno escuro e tinha uma presença que preenchia os espaços com sua postura intimidadora, quase opressora.

- Excusez-moi, monsieur Apolo. - A professora pediu em francês. - A babá do Ícaro pode ficar aqui durante a aula se o senhor permitir.

Espremendo os olhos, ele continuou estudando Perséfone. Logo, desviou o rosto para Léa e, a contragosto, Apolo concordou com um leve movimento de cabeça.

Após dar a permissão, ele se virou com o mesmo movimento de sempre. A bengala tocou o chão, preenchendo novamente o corredor.

Perséfone ficou parada, com o corpo inteiro trêmulo. A sua pele queimava e os seus olhos ardiam com as lágrimas. Quando o ex sumiu de seu campo de visão, ela entrou na sala e caminhou até a mesa onde o filho soluçava enquanto se sentava na cadeira.

Conforme tentava acalmar o filho com afagos em seus cabelos e beijos no topo da cabeça, Perséfone dava olhares furtivos para os locais onde tinham câmeras naquela sala de aula improvisada.

- Pode fazer ele parar de chorar, s'il te plaît! - Ao sentar na cadeira, Léa pediu como se fosse superior a Perséfone. - Começarei a aula em dez minutos.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022