Agora, enquanto Dante tentava gaguejar uma explicação para seu comportamento no restaurante, Isabella soltou um grito suave e desabou no chão.
Sua reação foi instantânea. Ele não me lançou um único olhar - eu, pingando e tremendo do rio - enquanto pegava Isabella em seus braços. Seu rosto, que já foi meu santuário, agora era uma máscara de indiferença glacial.
Ele passou direto por mim.
"Espere aqui," ele ordenou, sua voz desprovida de qualquer calor.
Pouco antes de seus olhos se fecharem, eu vi. Um sorriso fraco e triunfante curvou os lábios de Isabella.
Acordei com o cheiro de desinfetante e o bipe constante de um monitor cardíaco. Um soro estava preso na parte de trás da minha mão.
Dante estava sentado em uma cadeira perto da janela, sua expressão sombria. Ele não perguntou se eu estava bem. Ele não mencionou o rio, ou o medalhão do meu pai.
"Seu estado mental está instável," ele disse, sua voz plana e clínica. "Vou te mandar de volta para a clínica em Campos do Jordão. É para o seu bem."
As palavras me esvaziaram, um soco fantasma no estômago. Ele estava transformando o trauma que ele infligiu em uma arma, me rotulando como instável.
"Você vai se divorciar dela algum dia?" perguntei, minha voz um sussurro rouco.
Ele desviou o olhar, encarando as luzes da cidade pela janela.
"Existem... complicações."
Tirei o anel de prata simples do meu dedo. Aquele que ele me deu anos atrás, uma promessa de um futuro que foi roubado. Com um movimento do pulso, eu o joguei. Ele voou pela janela aberta e desapareceu na noite.
Sua mandíbula se contraiu. Ele parecia que ia dizer algo, mas uma enfermeira apareceu na porta, sua presença uma intrusão aguda.
"Sr. Moretti, sua esposa está com dor de cabeça. Ela está pedindo por você."
Ele se levantou imediatamente.
"Ligue se precisar de algo," ele me disse por cima do ombro, já saindo pela porta para cuidar dela.
Ele nunca mais voltou. Não nos três dias seguintes. Ele mandou seus homens, é claro. Eles traziam comida em recipientes estéreis e frascos de suplementos nutricionais, deixando-os na mesa como oferendas a um fantasma. Eu era um problema a ser gerenciado, não uma pessoa a ser cuidada.
No dia da minha alta, meu celular vibrou. Era uma mensagem de um amigo da faculdade de arte.
*É você? O que está acontecendo?*
Era um link. Eu cliquei.
Minha respiração engatou. Era a minha arte. Meu portfólio. As peças nas quais eu derramei minha alma para minha inscrição na academia de Paris. Elas estavam espalhadas por um blog de arte popular, exibidas em uma galeria digital.
Mas o nome sob a coleção não era o meu.
Era Isabella Rossi Moretti.
O artigo que acompanhava acusava uma estudante anônima - eu - de plágio descarado, de tentar roubar o trabalho da talentosa esposa do Don.
Meu sangue gelou. Apenas uma pessoa no mundo tinha acesso àquele portfólio. Apenas uma pessoa poderia tê-lo dado a ela.
Dante.
Fugi do hospital, minha mão tremendo enquanto chamava um táxi. Eu tinha que vê-lo. Eu tinha que ouvi-lo negar.
O táxi me deixou em frente ao imponente prédio da Corporação Moretti. Enquanto eu tropeçava do táxi em direção à entrada, meu olhar foi capturado pelo enorme letreiro de notícias que passava pela fachada do prédio.
CORPORAÇÃO MORETTI DIVULGA COMUNICADO CONFIRMANDO ISABELLA MORETTI COMO A ARTISTA POR TRÁS DA COLEÇÃO 'ECOS DE INVERNO', CONDENA TENTATIVA DE PLÁGIO.