Aquelas palavras, ditas com tamanha naturalidade, arrepiaram cada centímetro do corpo dela.
Helena respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. Parte dela queria virar as costas e correr, mas outra parte - a mais irracional - já havia se rendido ao olhar intenso daquele homem.
Com passos hesitantes, entrou no carro. O interior era luxuoso, o couro macio exalando um perfume caro, inebriante. A porta se fechou atrás dela com um clique suave, como se tivesse acabado de se aprisionar por escolha própria.
Lorenzo deu a volta e sentou-se ao volante.
Por alguns segundos, o silêncio reinou. O ronco do motor encheu o espaço, vibrante e ameaçador, como se refletisse a essência do próprio dono.
- Por que... por que você me ajudou? - Helena perguntou, quebrando o silêncio, a voz trêmula.
Ele não a olhou de imediato, apenas arrancou com o carro pela rua deserta.
- Porque ninguém toca no que é meu.
Helena arregalou os olhos.
- Eu não sou sua.
Dessa vez, ele virou o rosto em sua direção. O olhar era afiado, penetrante, como se quisesse gravar a verdade dela à força.
- Ainda não. - O sorriso dele surgiu lento, quase cruel. - Mas será.
Um frio percorreu-lhe a espinha. Helena virou o rosto para a janela, tentando ignorar o peso daquelas palavras. Quem era aquele homem para falar assim, como se tivesse poder sobre o destino dela?
A cidade passava diante de seus olhos, as luzes borradas pela velocidade. Ela não fazia ideia de para onde estavam indo, mas a estranha ausência de medo absoluto a surpreendia. Era como se, no fundo, soubesse que Lorenzo não a deixaria em perigo... pelo menos, não de outros.
- Você não respondeu - insistiu. - Como sabe meu nome?
Lorenzo apoiou uma das mãos no volante, a outra no câmbio, dirigindo com precisão impecável.
- Eu sei de tudo o que importa nesta cidade. Quem deve, quem mente, quem trai... e quem ainda não descobriu a própria força.
Helena franziu a testa.
- Está dizendo que me conhece?
- Estou dizendo que observei você - respondeu sem rodeios. - Há meses.
As palavras caíram sobre ela como uma avalanche.
- Me observou? - A incredulidade deixou sua voz mais alta. - Isso é... isso é insano!
Ele riu baixo, mas sem humor.
- É prudência.
O silêncio voltou, mas dessa vez era pesado, quase sufocante. Helena não sabia se queria saltar do carro em movimento ou continuar ali apenas para desvendar o mistério daquele homem.
Depois de alguns minutos, Lorenzo estacionou em frente a um prédio luxuoso, com porteiros uniformizados e mármore reluzente na fachada. Tudo ali gritava riqueza e poder.
- Onde estamos? - Helena perguntou, olhando ao redor, assustada.
- Minha casa. - Ele desligou o motor e se virou para ela. - E, por esta noite, também será sua.
Helena balançou a cabeça, os olhos arregalados.
- Não. Eu preciso voltar para casa. Minha mãe está me esperando.
Por um instante, o olhar dele suavizou, quase imperceptível.
- Já cuidei disso.
- Como assim? - Helena sentiu o sangue gelar. - O que você fez?
- Relaxe - disse Lorenzo, o tom baixo, porém firme. - Enviei alguém para cuidar dela. Está segura.
O coração dela disparou ainda mais.
- Você não tinha direito de...
- Eu tenho direito sobre tudo o que desejo. - Ele a interrompeu, a voz carregada de certeza. - E agora... desejo você.
As palavras o preenchiam com uma intensidade assustadora, e Helena se viu dividida entre repulsa e uma atração perigosa. Algo nela gritava que deveria odiá-lo, mas a cada segundo ao lado dele, o instinto a traía.
Lorenzo saiu do carro e abriu a porta para ela. Helena hesitou, mas, como se estivesse sob um feitiço, acabou descendo.
O saguão do prédio parecia um palácio moderno: lustres de cristal, mármore branco, funcionários que abaixavam a cabeça em sinal de respeito quando Lorenzo passava. Ele caminhava com passos firmes, o braço estendido em um convite silencioso para que ela o acompanhasse.
Dentro do elevador, o espaço fechado fez a tensão aumentar. Helena sentia o cheiro dele - amadeirado, quente, dominador. Não ousava olhar diretamente, mas a cada vez que seus olhos se encontravam no reflexo do aço polido, um arrepio percorria sua pele.
Quando chegaram à cobertura, Lorenzo abriu a porta de vidro e revelou um apartamento tão vasto quanto um museu. Janelas enormes ofereciam uma vista privilegiada da cidade iluminada, enquanto móveis minimalistas de design italiano decoravam o espaço.
Helena ficou sem palavras.
- Você mora... aqui sozinho?
Ele se aproximou, a presença dele preenchendo o ambiente.
- Eu nunca estou realmente sozinho.
Ela recuou um passo, mas Lorenzo continuou avançando até que a distância entre eles fosse quase inexistente. Sua mão tocou suavemente o queixo dela, erguendo-o para que seus olhos se encontrassem.
- Não adianta fugir, Helena. Eu já escolhi você.
O coração dela batia como um tambor. As mãos tremiam, mas havia algo naquele olhar que a impedia de recusar, de resistir. Era como se estivesse sendo tragada para dentro de um labirinto sem saída.
Ela respirou fundo, tentando recuperar a voz.
- Eu não sou uma peça no seu jogo, Lorenzo. Não pode simplesmente me ter porque quer.
Ele inclinou o rosto, os lábios quase roçando os dela.
- O problema é que eu sempre consigo o que quero.
E, naquele instante, Helena percebeu que estava diante de um homem para quem "não" nunca foi uma resposta.
O verdadeiro jogo havia começado.
E ela não fazia ideia de como sair dele sem se perder completamente.