Exceto por uma pessoa, todos que estavam na casa naquele dia para organização do jantar, foram interrogados por meus homens, sem sucesso. Ninguém sabia de nada. Nem uma única informação que pudesse nos direcionar. Por fim, receberam a punição tradicional e foram liberados, porém, coloquei um pessoal à paisana para evitar surpresas ou mesmo que algum dê com a língua nos dentes.
O que dificulta muito é que devido a sua vida reclusa, e mesmo em casa com a família, fotos eram proibidas e não tem nem ao menos uma que possa servir para identificação. Umas poucas de quando ainda tinha cinco anos não ajudou em nada. Tornando ainda mais difícil achá-la. Mas depois de tudo, algo não se encaixava e esse pensamento se mostrou acertado quando, ontem, conseguimos colocar as mãos no desgraçado que a ajudou, claro que tinha um cúmplice na história. Assim que soube, fui direto ao galpão para onde o levaram. Ele se manteve calado, mesmo sob tortura e só quando soube quem eu era, o infeliz abriu a boca e contou o que tinha feito e o que pretendia fazer com minha noiva.
Mesmo para quem vive em meio ao submundo, existem crimes inaceitáveis. E para mim, estupro é um deles. Como um demônio liberto, os olhos inflamados de ódio, o levei para o meu paraíso particular. O local onde até o mais resistente dos homens sucumbe diante das brincadeiras que proporciono a eles. O último que esteve lá visitou o terrário. Uma caixa de vidro, de quatro metros quadrados com minha criação especial de formigas paraponera, uma espécie que trouxe da Nicarágua e é dona de uma picada cuja dor se compara a de um tiro, capaz de deixar a vítima imobilizada por quase vinte e quatro horas. O veneno disseminado no sangue ataca o sistema nervoso e pode causar espasmos musculares. Agora imagine mais de vinte mil delas protegendo seu território? Não foi nada agradável.
Mesmo tentando negar, Hyun Youg Lee, foi identificado pelas câmeras de segurança do local e embora as imagens não mostrem para onde ele foi, é certo que esteve com ela. Ele não tinha sido encontrado para o interrogatório e seu pai e amigo do meu futuro sogro, disse que ele estava em viagem, resolvendo assuntos particulares, o que não foi engolido por mim, então coloquei um dos meus homens, conhecido como rastreador, em seu encalço. O desgraçado estava se escondendo como um rato imundo, em um buraco fedido nos Bronx. Faltava apenas encontrar a loira, e eu sabia que ela era a Ann Mi-Suk disfarçada. Depois de colocá-lo algemado em uma cadeira sem fundos e completamente despido, o apresentei a minha amiga Mafalda, uma palmatória de estimação que adoro usar nas partes intimas dos malditos, por baixo da cadeira. A cada golpe, seus gritos ficavam mais altos e em poucos minutos ele estava urrando de dor, até por fim se tornar um choramingo. Mas meu ódio era tanto que não parei por aí, ele iria aprender a nunca mais colocar as mãos naquilo que me pertencia, porém, antes o fiz sentir um pouco mais de dor, enfiando agulhas por baixo de suas unhas, até por fim, arrancar os dedos de cada uma de suas mãos.
Não pretendia matá-lo, ao menos por enquanto. Farei isso na frente dela, para que saiba que não deve desafiar um homem como eu. E só não faço isso com seu pai, porque não quero, por enquanto, problemas com a Yakuza, máfia ligada diretamente à organização que ele faz parte. Ou fazia. Não sei qual sua verdadeira relação com a Yakuza, mas que ele tem contato com pessoas de lá, isso tem. Meus investigadores não falham, por isso não vou me indispor nesse momento. Eles ainda são peça fundamental para o que tenho em mente, por isso terei paciência e no momento certo, entro em ação.
Deixo os pensamentos sombrios de lado e me concentro no momento presente, Drake manobra pela frente do imponente prédio onde funciona a RVF Inc., que é uma holding e abrange um conglomerado de várias empresas vinculadas à área da tecnologia. A construí com o intuito de servir para lavagem de dinheiro, mas com o tempo fui tomando gosto pelo assunto, ingressei em uma universidade no Japão e em bem pouco tempo estava ganhando destaque nesse mercado, ao mesmo tempo em que mantive meus outros negócios, porém, resolvi não misturar uma coisa com a outra e assim tenho vivido a pouco mais de uma década.
Neste momento tenho meu olhar atraído para uma cena que se desenrola em frente ao prédio. Um dos seguranças do local tenta espantar uma pessoa de rua, que muito provavelmente deve ter dormido ali. Infelizmente isso tem ocorrido com mais frequência do que gostaria nos últimos tempos. Vejo quando a pessoa se abaixa para pegar um pedaço de pano sujo e, alterado, Northon se abaixa de forma agressiva e puxa o braço do desconhecido, quando tenta se desvencilhar, seus longos cabelos escapam do capuz e ela cai no chão, ele desfere um chute que acerta precisamente suas costelas.
― Pare o carro ― digo soltando o ar pesadamente pelas narinas.
― Senhor!
― Agora. Pare a droga do carro.
Drake para e eu saio sentindo todo meu sistema agitado com o que acabei de presenciar. Nesse momento Northon a está puxando em direção à calçada.
― Por favor, está me machucando.
― Suma daqui sua delinquente ― ele grita.
― Largue a moça, agora ― falo por entre os dentes, me aproximando.
― Senhor, ontem ela veio e eu disse que não podia dormir aqui e hoje de novo.
― Eu não venho mais, eu juro. Fiquei com medo de dormir na praça ― ela fala choramingando.
― Eu disse para largar ― me aproximo mais, olhando diretamente em seus olhos e diante disso, ele a solta.
― Perdão, senhor, não queria causar nenhum trans... ― A moça não conseguiu terminar a frase e desmaiou bem na minha frente, com agilidade, segurei seu corpo para evitar que fosse de encontro ao chão.
― Drake, para o Mount Sinai Hospital, agora ― falei indo em direção ao carro.
― Senhor, o New York Presbyterian está mais perto.
― Que seja ― respondi. Tinha falado o primeiro que veio em minha mente, talvez por ser perto de onde moro. ― Quando eu voltar teremos uma conversa séria ― disse ao segurança que vinha logo atrás de mim.
― Senhor... Eu só est... ― não dei importância e fechei a porta. Drake arrancou com o veículo em seguida.
Apoiei a cabeça da desconhecida em meu colo e pedi que Drake deixasse os vidros abertos, o cheiro que vinha dela não estava nada agradável. Porém, seu rosto era quase como a de uma boneca de porcelana de tão alvo. Os lábios um pouco esbranquiçados e os cabelos estavam todos desgrenhados, mas tinha uma beleza singular. Corri os olhos pelo corpo pequeno e magro, coberto pela blusa larga, parecia uma adolescente.
De alguma forma, me senti mexido por aquela estranha e não estava sabendo lidar com o instinto de proteção que ameaçava me dominar.
― Quem é você? ― murmurei para mim mesmo.