Bonecas - Dark Romance Parte 1
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Bonecas - Dark Romance Parte 1

A.Fagundes
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Capítulo 1 1

SINOPSE

Uma das "bonecas" de Benny consegue escapar do cativeiro. Entre culpa e desespero, ela luta para sobreviver enquanto o homem que a aprisionava enlouquece com a perda de sua favorita. Um jogo mortal entre amor doentio e liberdade começa.

JADE

Dezoito anos de idade...

Papai sempre nos disse para ter cuidado. Para não falar com estranhos, não importa o quão amigável as pessoas pareçam. Para questionar todos. Com duas meninas ingênuas crescendo em um mundo iníquo, ele queria nos educar e explicar o mal que corria desenfreadamente nos canais de notícias. Ele nos obrigou a assistir aos acontecimentos de um mundo longe que parecia ser o nosso, nos educou sobre os animais que andam na terra com rostos como os nossos, como o dele - mesmo no meio da América. Nós vivemos em uma rua tranquila, em um bairro tranquilo, em uma cidade tranquila, mas isso não significa que os monstros do mundo não estavam à espreita.

Eles estão em toda parte, segundo ele, não apenas nas sombras.

Ele queria que nós percebêssemos o mundo com os olhos apertados e os corações fechados.

E assim eu fiz. Eu sou completamente a menininha do papai, - cética por natureza. Suspeita. Distante. Desconfiada. Eu atendi suas instruções ao pé da letra e mantive minha irmã e eu seguras.

Até que eu não consegui mais. Até o dia que meu mundo girou, girou sobre seu eixo, e tudo foi roubado de nós.

Ou devo dizer, até que fomos roubadas do mundo.

Quatro anos atrás, eu abaixei a guarda por um homem. Eu permiti que a menina curiosa dentro de mim esquecesse a mensagem mais importante que o nosso pai nos ensinou: nem todos os monstros caçam no escuro. Baixei a guarda constante pela atenção dos olhos castanhos e dourados e um sorriso torto. As paredes que eu segurava firme, se enfraqueceram, roubando meu equilíbrio e levando meus hormônios ao caos. Aos quatorze anos de idade, eu estava apaixonada por um homem muito mais velho do que eu.

Benny.

Pelo menos esse é o nome que ele me disse. Ele mentiu sobre isso... ele mentiu sobre tudo.

Pequenas lindas bonitas de Benny.

Eu revivi aquele dia mais e mais, fantasiando um resultado diferente, mas eu sempre acabo aqui. Meu coração ainda gagueja na memória da primeira vez que eu o vi. Eu nunca vou esquecer esse dia.

* * *

Meus pés estão doloridos. Eu devia ter usado minhas outras sandálias como Macy. Ela pula através dos estreitos corredores lotados do mercado, parando para admirar qualquer coisa remotamente brilhante ao longo do caminho. Como ela pode estar tão enérgica com este calor, me surpreende, mas essa é a nossa Macy, cheia de vida e aberta para o mundo. O suor escorre pelo meu lábio e a explosão de sal agita sobre a minha língua, me lembrando da minha sede. Meu vestido adere à minha carne úmida como uma camada extra de pele. De algum modo está mais quente sob o abrigo das tendas do que sob o sol escaldante. Eu limpo o suor no meu lábio superior com a palma da minha mão e vejo um brilho desagradável no olhar de um dos homens com uma barriga saliente, sobre a minha irmã mais nova, enquanto lambe os lábios gordos e ajusta suas calças. Porco.

Precisamos ir.

Eu estou preocupada com o que papai me ensinou. Meu coração troveja em meu peito com a necessidade de arrastar a minha irmã de volta para casa, onde mamãe está nos esperando para jantar daqui meia hora.

Claro, Macy não será dissuadida facilmente.

Sempre curiosa, sorrindo, e ansiosa para conhecer o mundo.

O mercado é o destaque da sua semana e a única liberdade fora do perímetro da nossa rua que papai nos permite ter. Todos os sábados, ela pega o dólar que ganhou por ajudar com as tarefas da casa e passa pelos itens que não pode pagar antes de escolher um brinquedo simples dentro de sua faixa de preço, que ela vai quebrar ou perder e eu vou ter que substituir com alguma coisa minha para ela parar de chorar.

Quanto a mim, eu sou econômica.

Poupo cada dólar.

Assim como papai me ensinou.

Um dia, eu quero ir para uma dessas grandes cidades que sempre vemos na TV, que mamãe assiste, e encontrar esses monstros à espreita. Eu vou ser uma policial e proteger mais do que apenas minha irmã.

Eu não sou impulsiva ou precipitada.

Eu posso esperar.

Infelizmente, minha irmã não pode.

- Oh meu Deus, Jade, - diz ela com um guincho, dando um sorriso brilhante na minha direção e acabo sorrindo em sua excitação. - Olha como eles são lindos.

Eu cerro meus dentes para o homem barrigudo de sorriso lascivo que está andando na mesma direção que nós durante os últimos dez minutos. Ele observa a minha irmã quando ela se inclina para pegar uma boneca da mesa. Quando ele percebe meu olhar mortal, ele dá um olhar envergonhado e se afasta.

- Vinte e oito dólares, - ela murmura com uma pontada de tristeza em sua voz.

Sacudindo a minha atenção para minha irmã, eu sorrio quando vejo a boneca. É uma boneca de porcelana de trinta centímetros com cabelos sedosos na altura do queixo e amplos olhos castanhos, uma réplica exata de Macy.

- Oh, - eu lamento, - ela é linda, mas muito cara. Escolha outra coisa, Macy.

Macy faz uma cara de tristeza antes de colocar a boneca de volta no balcão. Estamos prestes a ir embora quando uma voz nos interrompe.

- Boneca bonita para uma boneca bonita, - um homem afirma em tom suave.

Macy e eu levantamos nossos olhares para o proprietário do estande. As bonecas são esquecidas enquanto nós duas olhamos o rosto bonito sobre nós com um sorriso torto e travesso. Um tufo de cachos castanhos pendem sobre as sobrancelhas em seus olhos cor de âmbar. Com apenas a menor camada de pelos faciais, posso dizer que ele é mais velho, talvez vinte e poucos anos, mas carrega uma inocência nele que o faz parecer mais jovem.

- Ela não pode pagar a boneca, - digo a ele com um ligeiro tremor na minha voz. Ele é bonito como os caras das revistas para adolescentes que mamãe, as vezes, nos permite comprar no supermercado quando não estamos muito apertados.

Seu olhar se fixa entre nós e ele sorri. - Talvez possamos chegar a um acordo. Eu não acho que eu gosto tanto dela quando deixa meninas tão bonitas quanto vocês duas tristes. Eu as prefiro... - ele faz uma pausa, os dentes superiores perfurando seu lábio inferior grosso, quando ele olha para mim enquanto pensa. Prendo a respiração, quase hipnotizada enquanto espero sua resposta. - Sorrindo. - ele sorri e vem em direção a mim. - Quanto você tem?

Eu não tento me concentrar no fato de que ele tem músculos, ao contrário de Bo, da casa ao lado. Ele está no último ano da escola e ainda não tem músculos, não gosto disso. Esse cara é melhor do que Bo, melhor do que esses caras das revistas. Ele é um sonho. Meu estômago se aperta.

Mamãe chama isso de hormônios. Diz que eu vou ser uma mulher em breve. Aiai.

- Eu tenho um dólar, - Macy lhe diz orgulhosamente, levantando o queixo, ganhando sua atenção de volta, e eu lamento a perda do contato. Suas bochechas rosadas viram e eu suspeito que ela esteja envergonhada de ter a atenção desse cara bonito. Eu quero a atenção dele de volta em mim...

Com isso, ele ri. Não parece rude ou como se ele estivesse tirando sarro dela, mais como se ele estivesse entretido pelas palavras dela, como se ele a achasse bonita também.

Uma pontada de ciúme pica através de mim. Eu rapidamente a esmago e me lembro que eu devia estar cuidando da minha irmã, protegendo-a do olhar lascivo de homens e de se meter em encrencas. O ar começa a ficar um pouco mais frio e a multidão começa a diminuir, me alertando de quanto tempo passou.

- Vamos, Macy, - eu assobio, segurando seu cotovelo. - Precisamos ir pra casa. Estas bonecas são muito caras. E você sabe que papai não quer que a gente fale com estranhos.

- Benny, - ele sorri para mim. Uma sobrancelha escura desaparece sob seus cachos e uma pequena covinha se forma ao lado do rosto. - Eu sou estranho, mas eu não sou um estranho. Meu nome é Benny.

Minhas bochechas ruborizam e eu engulo seco. - Não podemos pagar a boneca.

Ele dá de ombros, seus olhos se movendo como se estivesse assistindo a um jogo de pingue-pongue entre eu e minha irmã. - Como quiser. - seus ombros se encolhem de forma indiferente e ele reorganiza a boneca até que ela está de volta no lugar.

Macy se vira e olha para mim. Minha irmã é doce e despreocupada; quase nunca vejo seus olhos castanhos brilhando com raiva. - Você tem dinheiro guardado. Talvez possa emprestar pra mim. Eu nunca tive uma boneca como esta antes. - suas sobrancelhas se juntam e seu lábio inferior se projeta.

Culpa escorre através de mim da mesma forma que o suor pinga nas minhas costas: lento e tortuoso.

- Eu não tenho vinte e oito dólares, - digo a ele com a voz rouca.

O sorriso dele é quente e não faz nada para refrescar minha pele aquecida ou nervos. O tempo está passando e é uma longa caminhada para casa. - Eu poderia vender a boneca para você por vinte dólares. - ele inclina a cabeça, me estudando e eu me viro sob seu olhar.

Macy me dá um olhar esperançoso. Sua raiva desaparece e seus olhos brilham com prazer.

- Quinze. Tudo o que tenho são quinze dólares, - eu digo em derrota, minha respiração saindo num acesso de raiva.

Benny passa a mão na nuca e depois em sua mandíbula enquanto ele contempla o negócio. Há um vislumbre de vitória em seus lábios. - Quinze. Ok.

Soltando um grito, Macy pega a boneca de porcelana em seu braço e gira em um círculo enquanto a abraça contra o peito. Pirralha.

- Obrigada! Eu juro que vou pagá-la em breve! - ela grita.

Engolindo em seco, eu dou a má notícia para os dois. - O dinheiro está em casa. Não tenho certeza se tenho tempo suficiente para ir até lá e voltar antes de o mercado fechar. - ou se o pai vai me permitir voltar uma vez que eu chegar em casa.

Ele franze a testa, os olhos se arrastando entre nós dois. - Acho que posso esperar.

As mãos de Macy tremem quando ela coloca a boneca de volta em cima da mesa, claramente derrotada.

- Ou, - diz ele com um sorriso fácil, - vocês duas podem me ajudar a arrumar aqui. Vou abater mais cinco dólares por seus serviços e então eu posso levar vocês em casa depois de terminarmos aqui. Posso até encontrar seus pais. Quem sabe, talvez nós pudéssemos convencer o seu pai a comprar uma para você também. - seus olhos voltam para mim e minha carne aquece novamente.

- Eu não brinco de bonecas mais, - digo a ele em um tom seco. Por alguma razão, eu quero que ele pense em mim como uma menina mais perto da sua idade, em vez de alguém que brinca com bonecas como minha irmã.

Decepção é gravada em seu rosto e suas sobrancelhas se unem como se eu o tivesse ferido fisicamente. Eu imediatamente me sinto horrível e fico com medo de que ele volte atrás no negócio, deixando Macy irritada e chateada.

- Quero dizer, uh... papai não quer que nós peguemos carona com ninguém.

Os olhos dele se arregalam com compreensão. - Eu não sou ninguém. Sou Benny.

- A menininha quer uma boneca? - uma voz profunda canta atrás de mim. Uma friagem, apesar do calor de agosto, se arrasta até minha espinha. O cheiro de álcool e tabaco me sufoca. - Talvez eu devesse comprar uma para as duas. Mas o que eu recebo em troca? - o homem de antes volta, e desta vez, não há nenhuma vergonha em seu rosto ou na sua sugestão.

Benny foca a sua atenção no homem atrás de mim. Eu fico momentaneamente atordoada por sua súbita ferocidade e me aproximo de Macy. - Fique bem longe, pervertido, antes que eu chame a polícia, seu pedófilo.

- Sim, vá se foder, viado, - o homem grunhe antes de se afastar.

Momentos antes, eu me preocupava que Benny fosse uma ameaça. Agora, eu percebo que ele é simplesmente um cara legal, que quer que uma garota tenha sua boneca e espanta os predadores. Papai iria querer conhecer o homem que assustou um monstro.

- Na verdade, - eu digo a ele com a minha voz brava, - Nós vamos te ajudar. Talvez papai me compre aquela. - eu aponto para uma boneca de porcelana com olhos cor de mel, como Benny e cabelo castanho bagunçado.

Benny sorri. - Você tem um acordo, bonequinha.

* * *

- Última caixa, - Benny diz com um grunhido quando ele a solta na parte traseira de sua van velha. Deve ser daí que todos os músculos tensos em seus braços vieram. Estas caixas são pesadas. Macy e eu não conseguimos levantar nenhuma, mas demos uma boa ajuda embalando as mercadorias.

- Agora podemos ir até o pai de vocês e eu posso tentar convencêlo a comprar duas bonecas. A sua mãe gosta de bonecas?

Macy ri quando fecha as portas de trás da van. - Ela brinca de Barbie comigo às vezes.

Benny dá a ela um sorriso antes de abrir a porta lateral. Ele balança as dobradiças. - Eu já gosto da sua mãe. - sua mão se movimenta para o interior do veículo.

- Eu posso sentar na frente, - digo a ele.

Um lampejo de emoção passa pelo seu rosto antes dele endurecer o seu olhar. - Na verdade, as dobradiças da porta do lado do passageiro estão enferrujadas. A maldita porta pode cair se nós a abrirmos. Você disse que vive aqui perto. Vou aumentar o ar condicionado. Você vai ficar bem na parte de trás e nós não queremos que esta boneca volte sozinha. - ele afaga o cabelo de Macy e ela sorri para ele.

Eu olho nervosamente para minha irmã, mas ela já está subindo na parte de trás da van.

- Eu não sei. Talvez devêssemos ligar para os nossos pais do telefone público. Eu realmente não acho que papai gostaria que fôssemos com você.

Quando ele começa a rir de mim, eu viro uma beterraba vermelha. - V-você acha que eu faria algo assim? Como aquele homem antes? Quantos anos você tem? Doze? - com isso, ele bufa. - Eu não gosto de criancinhas. Acredite em mim.

Raiva toma conta de mim. - Eu tenho catorze anos, e eu não sou uma criança! - exclamo, cruzando os braços em desafio.

- Catorze? - ele sussurra, e algo semelhante à decepção cruza seu rosto. Antes que eu possa ter esperança de que ele possivelmente queira que eu fosse mais velha, ele ri e encolhe os ombros.

Talvez eu estivesse errada sobre a decepção.

Finalmente sua risada diminui, ele segura as mãos para cima em defesa. - Ok, ok, eu entendo. Você não é uma criança. Mas criança ou não, eu não estou interessado em você. Eu normalmente gosto de meninas com peitos.

Agora eu estou irritada e humilhada. Eu o admirei todo esse tempo e ele me vê apenas como uma criança. Não que eu quisesse mais alguma coisa, mas ainda dói um pouco. Com um acesso de raiva, eu subo no banco de trás e cruzo os braços sobre o peito liso. - Só nos leve para casa.

No momento em que ele sobe e sai para a estrada principal, seu humor desapareceu. Ele mexe com uma caixa de gelo no banco da frente ao lado dele e pega uma garrafa de água.

- Com sede?

Deus, sim.

Macy agarra a garrafa da mão dele e avidamente engole mais de metade da garrafa antes de eu roubar dela. A umidade fria que escoa da garrafa é incrível na palma da minha mão quente. Eu engulo o resto em segundos e esfrego o plástico frio sobre o meu pescoço para sentir o frescor da garrafa.

- Você não vai perguntar onde vivemos? - eu pergunto após vários minutos. Ele não tem falado muito e aquele sorriso fácil que enfeitou uma vez os seus lábios, agora sumiu. Seus olhos me rastreiam no espelho acima. Está quente e abafado na parte de trás da van, apesar de sua promessa de ligar o ar condicionado, e me sinto tonta. Meus olhos turvam e minha mente está tonta, eu chego até o puxador da porta para me estabilizar e respirar... onde está a alavanca? Quando eu olho para Macy, a cabeça dela está caída para o lado e ela está enrolada no estofamento confortável.

- Você já me disse, - diz ele, a voz distante.

Minhas pálpebras estão pesadas e eu me esforço para mantê-las abertas. Este calor está realmente começando a me afetar. - Eu não te disse... - cada músculo do meu corpo parece enfraquecido. Meu coração troveja no meu peito, mas eu me sinto impotente para fazer qualquer coisa sobre isso. - Nos leve para casa, - eu exijo em um insulto.

Seu tom é sombrio, nada como o Benny simpático que me fez esquecer todas as lições do nosso pai. - Você vai estar em casa.

O mundo gira e uma onda de náusea passa por cima de mim. - O que há de errado comigo? - minha voz é um mero sussurro.

- Nada. Você está perfeita. Vocês duas são perfeitas. Exatamente o que eu estava procurando. Duas pequenas lindas bonecas preciosas.

Eu mal tenho força para levantar a garrafa de água. É então que eu noto o resíduo branco no fundo do plástico.

Ele nos drogou. Ele é um monstro, um monstro escondido à vista, assim como papai avisou.

- Socorro, - o suave murmúrio da minha súplica não pode ser ouvido sobre o zumbido de Benny. Eu logo reconheço quando ele começa a cantar uma canção de ninar que mamãe costumava cantar para nós quando estávamos doentes.

Senhorita Polly tinha uma boneca que estava doente, doente, doente.

Então, ela telefonou para o médico para vir rápido, rápido, rápido.

O médico veio com sua bolsa e chapéu,

E ele bateu à porta com um rat-a-tat-tat.

Ele olhou para a boneca e balançou a cabeça,

E ele disse: - Senhorita Polly, volte direto para a cama!

Ele escreveu em um papel uma pílula, pílula, pílula,

- Eu vou estar de volta na parte da manhã, sim eu vou, vou, vou .

- Pare, - eu sufoco, mas ele ignora o que eu disse. Depois que ele termina o verso final, ele para de cantar, embora, em seu aparelho de som esteja tocando um rock pesado, que faz o seu caminho em minha cabeça quando tudo escurece.

Socorro.

* * *

Um gemido suave a partir da cela ao meu lado me traz de volta ao presente. O sangue marca minha pele onde estou presa em meus braços. Durante quatro anos, somos mantidas presas por Benny. Suas bonecas. Exceto agora que eu sei que seu nome não é Benny - ou pelo menos, não é assim que estamos autorizadas a chamá-lo.

Benjamin.

Ele nos faz chamá-lo de Benjamin.

Benny com os olhos castanhos e sorriso fácil, não subiu na van naquele dia. Nunca houve Benny.

Em vez disso, nós voluntariamente entramos no veículo de um monstro. Um monstro que passou quatro anos angustiantes nos fazendo de suas bonecas pessoais, que ele gosta de brincar e muitas vezes, ele não é gentil com seus brinquedos.

Passei muito tempo chorando; e com as lágrimas se foi a minha inocência.

Ocasionalmente, Macy chora quando ele está sendo especialmente bruto, ou quando ele sai da cela dela e ela diz a ele que ela pode ser melhor. Ela sabe que se ela não tentar ser a melhor boneca que pode ser, ela não vai ser alimentada por um dia ou dois.

Eu prefiro morrer de fome a ser sua boa boneca.

Devido a este monstro e sua mente distorcida, eu sou insensível. Em vez de pedir e implorar para ele nos deixar ir - o que sempre entra em um ouvido e sai pelo outro, e deixa Benjamin maníaco, cantando sua canção de ninar e depois fica lá pintando os rostos de suas bonecas - eu planejo nossa fuga. Eu planejo sua morte. Eu me certifico de continuar respirando para que minha irmã e eu possamos ter um futuro.

A porta da cela ao lado da minha bate com um som alto. O que quer que seja que ele estava fazendo com Macy, acabou agora, e seus gemidos entalham outra marca no meu coração.

Minha vez.

Sou sempre forçada a ouvi-lo com ela. É a seu jeito especial de tortura, me obrigando a ouvir os gritos dela, então na hora que ele vem para mim, eu estou com raiva. Ele adora quando eu luto e rasgo sua carne com qualquer chance que eu tenho. O psicopata fica fora de si quando eu fico na ofensiva. Ele sempre leva vestidos e maquiagem para a cela dela. Ouço-o decorando-a até que ela vire a boneca perfeita, mas eu não. Ele me deixa nua e indomável.

Em um destes dias, ele vai deslizar e eu vou estar pronta.

Seu corpo musculoso vem à vista sob a única lâmpada de halogéneo na frente da minha cela. Ele está vestindo apenas um par de jeans que pendem em seus quadris. O suor rola pelo seu peito sólido e seu cabelo está encharcado pelo esforço. Sentindo o cheiro acobreado de sangue da minha irmã sobre este homem é algo que ficará para sempre gravado em meus sentidos. Nunca conseguirei apagar, a menos que seja com o aroma de seu próprio sangue quando ele murmurar seu último suspiro.

O homem que faz bonecas artesanais longe de nossas celas em uma estação de trabalho é além de louco. Ele é mais monstro do que qualquer outro homem, mais brutal e desequilibrado do que papai jamais poderia ter imaginado que estivesse à espreita lá fora, esperando.

Um psicopata mentalmente perturbado, e quando ele não está lá fora, trabalhando, esperando, provocando Macy constantemente, eu me pergunto quando ele voltará, se ele voltará. Ele sempre volta e eu não posso salvá-la dele.

Quando ele está surtado, seus olhos cor de mel normalmente escurecem mais. Eu assisto a todos os seus movimentos, escuto cada palavra sua, estudo todas as suas manias.

Eu o conheço melhor do que ele conhece a si mesmo.

Eu conheço seus padrões.

Suas falas.

Suas fraquezas.

E um dia, eu vou atacar. Eu vou acabar com isso e nos salvar, salvá-la, como eu deveria ter feito.

- Aqui está a minha bonequinha suja. Tão selvagem e assustada, mas ainda tão linda. - seus olhos estreitam enquanto seu olhar percorre meu corpo. Está facilmente cem graus, mas eu não posso evitar, eu o desafio. Não estou nua e encolhida. Já arranquei os lençóis do colchão e amarrei ao redor do meu corpo como um vestido. Ele vai levar o lençol com ele, e quando ele sair e a noite cair nas paredes da minha cela fria, eu vou estar exposta e desejando o lençol, mas desafiálo é muito mais atraente, é a única gota de controle que possuo.

Estou prestes a dar uma de esperta, quando reparo. É leve e quase imperceptível, mas eu vejo. Ele está bêbado. Ele nunca está bêbado. Bêbado é bom. Bêbado significa fraco.

Apertando minhas mãos ao meu lado, eu espero. Uma oportunidade como esta é boa grande para não agir. Quando ele entrar, eu vou atacá-lo. Certamente eu posso ser mais rápida. Há um ar de superioridade em seus movimentos e tudo que eu preciso é que ele abaixe a guarda uma vez.

- Seu mestre quer jogar. Que jogo você vai jogar comigo hoje, bonequinha suja? - ele pergunta, um sorriso em seus lábios enquanto ele se atrapalha com suas chaves.

- Nós poderíamos jogar Eye Spy, mas seu pau é tão pequeno, que ninguém pode realmente achá-lo, - eu estalo, incitando-o.

Um rosnado baixo vem de sua garganta. - Ou eu poderia brincar com suas entranhas, quando eu te estripar por ser uma boneca má.

Eu estou acostumada com suas ameaças. Elas são sempre mortais e cruéis, mas ele nunca realmente as cumpre. Eu acho que ele gosta da minha insolência; o que deixa o jogo mais divertido para ele.

O clique da porta destrancando faz com que minha pele suada entre em erupção com arrepios. Em breve, ele vai estar dentro desta cela levando o que ele quiser, exatamente como todas as noites.

Não essa noite.

O pensamento tão repentinamente e feroz me domina com adrenalina. E quando ele deixa as chaves caírem, o som ao redor da minha cela é como uma pistola, me pedindo para ir e eu faço a minha jogada. Atirando a porta com força para a direita, eu a abro com um grito cheio de raiva. Ele mal tem chance de registrar que eu saí da minha cela antes de eu bater meus punhos em seu peito e empurrá-lo forte. Seu corpo instável bate no chão com um baque.

- PARE! - ele ruge enquanto tenta ficar de pé.

Mas eu não paro.

Eu corro pela minha vida. Eu corro por ambas as nossas vidas. Se eu conseguir correr para fora deste inferno, eu posso encontrar ajuda. Eu posso salvar a minha irmã. Eu chego às escadas, e surpreendentemente pulo de dois em dois degraus.

A casa dele é um borrão quando eu entro com pressa em direção a uma porta à direita de uma cozinha. Eu estava em um sótão que virou um calabouço para suas bonecas. Como se meu mundo não fosse ruim o suficiente, é claro que a casa sairia diretamente de um filme de terror. Eu não paro para inspecionar a cozinha ao longo do caminho, para procurar um telefone, ou até mesmo para olhar por cima do ombro para ver se ele está vindo no momento em que passo pela porta da frente.

Eu.

Não.

Paro.

O ar frio me bate na cara, cobrindo todo o meu corpo como um manto. Estamos cercados por bosques. Árvores verdes e vibrantes, enquanto corro tão rápido quanto minhas pernas podem me levar. Eu ignoro a picada de espinhos em cada passo que dou. Eu ignoro o coçar dos ramos, quando eles chicoteiam meu corpo. Nada mais importa, só encontrar ajuda. Atrás de mim, eu ouço a trituração das folhas e grunhidos. Ele está no meu rastro, mas não perto o suficiente.

Ele está fraco.

Bêbado.

Um jogo indigno.

Com cada grande salto através do bosque, eu me distancio mais longe dele. Entorpecida pelo zumbido de dor por todo meu corpo, eu corro até meu peito doer e meus pulmões queimarem pedindo por ar. Estou tonta, com fome, e não acostumada a tais explosões de exercício, mas eu não paro ou diminuo a velocidade até que eu tenho certeza que o despistei. A morte vai me levar antes de eu permitir que ele me leve novamente.

Eu escapo.

Eu escapei, porra. Minha mente grita para mim em histeria, mas nenhum som sai de meus lábios.

E eu vou trazê-la de volta.

Disposta a continuar, eu começo a correr novamente, mais rápido desta vez.

Um soluço alto sai da minha garganta quando eu entendo a situação. Nós estamos finalmente livres. Assim que eu encontrar ajuda, eles vão colocar o psicótico na prisão e vamos voltar para casa com mamãe e papai. Eu ainda estou me segurando nas imagens escuras, o desaparecimento dos meus pais em minha mente quando eu passo pela floresta. Poucos metros à frente há uma estrada. Faróis a cerca de meia milha de distância estão bem na minha direção. Uma euforia ecoa através dos meus ossos quando eu me estico para sinalizar para o carro vindo.

- Socorro! - eu tento gritar.

O veículo parece estar indo devagar o suficiente, com certeza eu posso fazer com que ele pare e me resgate.

- Socorro! - minha voz é rouca, mas minhas pernas se mantêm em movimento.

Quando o veículo começa a desacelerar, eu começo a chorar forte, eu estou cega. Ele não para, apesar de tudo. Eu corro, agitando os braços freneticamente, até que meus pés ensanguentados param na calçada quente.

- Socorro!

O barulho de pneus significa que o motorista me viu. Eles vão parar para mim e me salvar. Eles vão me ajudar e...

Baque.

Metal bate na minha lateral com a força de um trem em alta velocidade. Ossos se quebram em meu corpo como uma sinfonia de tambores ocos. Eu não sei o que está acontecendo até que minha cabeça bate dolorosamente contra o pavimento com um baque que ressoa dentro do meu crânio.

Então, eu estou olhando para cima.

Estrelas brilhantes no céu quando algo quente pulsa do lado da minha cabeça, absorvendo o pavimento debaixo de mim. Eu não vi o céu em quatro anos. É fascinante, bonito, e esparso.

Eu tento falar quando uma mulher mais velha com cabelos grisalhos grita para mim.

Mas eu não posso desistir.

As estrelas diminuem, o céu escurece e preenchem o vazio em torno de mim.

Seus traços desaparecem.

E a escuridão me rouba esse tempo.

Aguente, Macy. Eu estou voltando para você.

            
            

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