APAIXONADA PELO MELHOR AMIGO DO MEU PAI - PARTE 2
img img APAIXONADA PELO MELHOR AMIGO DO MEU PAI - PARTE 2 img Capítulo 4 Mally O'Brien.
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Capítulo 6 Mally O'Brien. img
Capítulo 7 Haniel Galleghan. img
Capítulo 8 Haniel Galleghan. img
Capítulo 9 Mally O'Brien. img
Capítulo 10 Mally O'Brien. img
Capítulo 11 Mally O'Brien. img
Capítulo 12 Mally O'Brien. img
Capítulo 13 Mally O'Brien. img
Capítulo 14 Mally O'Brien. img
Capítulo 15 Haniel Galleghan. img
Capítulo 16 Haniel Galleghan. img
Capítulo 17 Mally O'Brien. img
Capítulo 18 Mally O'Brien. img
Capítulo 19 Haniel Galleghan - alguns minutos antes... img
Capítulo 20 Mally O'Brien. img
Capítulo 21 Mally O'Brien. img
Capítulo 22 Mally O'Brien. img
Capítulo 23 Mally O'Brien. img
Capítulo 24 Mally O'Brien. img
Capítulo 25 Mally O'Brien. img
Capítulo 26 Mally O'Brien. img
Capítulo 27 Haniel Galleghan - algumas horas antes... img
Capítulo 28 Haniel Galleghan. img
Capítulo 29 Haniel Galleghan. img
Capítulo 30 Haniel Galleghan. img
Capítulo 31 Haniel Galleghan. img
Capítulo 32 Mally O'Brien. img
Capítulo 33 Mally O'Brien. img
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Capítulo 4 Mally O'Brien.

"Voltar é um verbo perigoso. Porque a gente nunca volta igual, e o lugar nunca é o mesmo." - Clarice Lispector.

A porta do porão está escancarada, um retângulo negro que parece engolir toda a luz ao redor. Nunca gostei muito do porão, mesmo criança. Sempre achei aquele espaço meio assombrado, com suas paredes de pedra úmida e os cantos escuros cheios de sombras dançantes. Respiro fundo, tentando controlar o coração que martela contra as costelas como se quisesse sair do peito, e começo a descer os degraus rangentes de madeira antiga.

A luz fraca do celular cria sombras fantasmagóricas que dançam pelas paredes de pedra, transformando cada canto em uma ameaça potencial. O cheiro familiar do porão - terra úmida, madeira velha e um toque de mofo - me invade as narinas, trazendo memórias de brincadeiras de esconde-esconde que terminavam com choro porque eu sempre acabava me assustando com meus próprios medos.

Vejo a silhueta escura de um homem mexendo na caixa de fusíveis antiga que fica no fundo do porão, suas costas largas bloqueando parte da pouca luz que consegue se infiltrar pela pequena janela do alto. Ele está concentrado no que faz, completamente alheio à minha presença, mexendo nos fios com movimentos seguros e familiares.

Aproximo-me devagar, o vaso pesado na mão erguida como uma arma improvisada, o celular tremendo violentamente na outra mão. Quando estou a poucos passos dele, quase perto o suficiente para sentir o cheiro do seu perfume, a tela do celular pisca uma última vez e se apaga completamente.

Escuridão completa e absoluta me engole como uma boca gigantesca.

O pânico explode no meu peito como uma bomba de terror puro. Grito com toda a força dos meus pulmões - um grito que rasga a quietude da noite como uma navalha - e arremesso o vaso com toda a força que tenho, mirando onde imagino que seja a cabeça do intruso.

O homem berra, não sei se é de dor ou surpresa, o barulho ecoando pelas paredes de pedra como um tiro. Sem pensar duas vezes, pulo nas costas dele com a ferocidade de um animal acuado, aplicando tudo que Beth me ensinou durante meses nas aulas de defesa pessoal. Soco onde consigo alcançar - ombros, costelas, nuca -, uso os joelhos contra suas costas, as unhas contra qualquer pedaço de pele que encontro, tudo que tenho de força e raiva concentradas neste momento de puro instinto de sobrevivência.

Ele cambaleia pela sala, tentando desesperadamente me tirar de cima, suas mãos grandes tentando alcançar meus braços para me puxar. Mas eu não largo, agarrada como um carrapato, determinada a não deixar que este desconhecido me machuque.

Finalmente, ele consegue me jogar para o lado com uma força que me pega completamente desprevenida, me fazendo rolar pelo chão frio de concreto e bater com força contra uma das estantes de metal onde papai guardava ferramentas antigas. A dor explode nas minhas costas, mas a adrenalina é mais forte que qualquer machucado.

De repente, as luzes do porão se acendem todas de uma vez, me cegando completamente depois de tanto tempo na escuridão. Levo as mãos aos olhos, piscando desesperadamente para tentar me acostumar com a claridade súbita, lágrimas involuntárias escorrendo pelas bochechas.

Levanto cambaleante, ainda meio cega, e parto para cima dele novamente, determinada a continuar a luta. Acerto um soco certeiro no estômago que o faz dobrar e outro na boca. Antes que ele se recupere, acerto uma joelhada precisa entre as pernas - exatamente como Beth me ensinou, "o ponto fraco de qualquer homem, não importa o tamanho".

Ele desaba no chão como um saco pesado de batatas, gemendo de dor e se contorcendo.

Corro em direção às escadas, os pés escorregando no chão liso, precisando desesperadamente chegar ao telefone fixo da cozinha, chamar a polícia, gritar por ajuda...

- Mally... sou... eu!

A voz me congela no lugar como se tivesse levado um choque elétrico.

É uma voz que conheço desde a infância, que ouvi milhares de vezes em brincadeiras no jardim, conversas na sala, risadas durante jantares em família. Uma voz que não ouço há alguns anos, mas que reconheceria em qualquer lugar do mundo.

Me viro devagar, o coração batendo tão descontroladamente que sinto as pulsações na garganta, nas têmporas, nos pulsos. Pisco várias vezes para limpar completamente as lágrimas dos olhos, ainda não conseguindo acreditar no que meus ouvidos estão me dizendo.

- Mally... - O homem se apoia pesadamente numa das estantes de metal, tentando se levantar com dificuldade, uma mão protegendo a virilha machucada. - Caramba, isso dói muito.

Quando finalmente consigo focar completamente a visão, o mundo parece parar de girar.

- Meu Deus! - Levo as mãos trêmulas à boca, não conseguindo processar completamente o que estou vendo.

É Haniel, o homem que conhece esta casa tão bem quanto eu, que tem chaves e permissão para entrar quando quiser. O mesmo Haniel, por quem me apaixonei perdidamente aos doze anos. O mesmo Haniel, que destruí com minha teimosia e meu orgulho ferido.

- Desde quando você bate assim, Mally? - ele pergunta, meio impressionado, meio divertido, mesmo com a dor óbvia estampada no rosto. - Poderia ter gritado ou sei lá, feito algum barulho para avisar que estava aqui.

- Hani... Oh, meu Deus! Me perdoa... - Corro até ele, esquecendo completamente toda a raiva e ressentimento que carrego há cinco anos. - Eu não sabia que era você!

Ajudo a levantá-lo, passando o braço ao redor da cintura para dar apoio ao seu peso considerável. Ele está mais alto do que lembro, mais forte também, mas ainda tem aquele cheiro familiar de loção de barbear que sempre o acompanhou.

Subimos do porão lentamente, eu praticamente carregando metade do peso dele, e vou levá-lo até a sala de estar. Ele se deixa cair no sofá grande de veludo com um suspiro pesado, um corte sangrando no lábio inferior, o olho esquerdo já começando a inchar numa tonalidade arroxeada que vai ficar muito pior nas próximas horas.

- Me perdoa, Haniel, eu juro que não sabia que era você... - repito, ainda em choque. - Mas que ideia maluca foi essa? Por que não gritou que estava aí embaixo? Por que não acendeu as luzes?

- Espera aí! - Ele me olha como se eu tivesse completamente maluca, franzindo a testa num misto de confusão e incredulidade. - Você não ia chegar só amanhã à noite? Como eu ia saber que tinha chegado mais cedo? Além disso, quando cheguei aqui, a casa estava toda fechada, escura, nenhum carro na frente. Pensei estar vazia. Estava só trocando os fusíveis queimados antes de você chegar.

- O carro está na garagem lateral - explico, me sentindo como uma idiota completa. - Cheguei há algumas horas e fui direto dormir. A viagem foi muito cansativa, estava destruída de cansaço.

Olho para o rosto dele, o olho que está ficando cada vez mais inchado e colorido, e a culpa me aperta o estômago como uma mão gelada.

- Já volto, vou pegar gelo e alguma coisa para limpar isso.

Subo correndo as escadas de dois em dois degraus até o banheiro principal, abro o armário embaixo da pia e pego o kit de primeiros socorros que papai sempre fazia questão de manter bem abastecido.

"Nunca se sabe quando vamos precisar consertar alguém", ele dizia. Pego também uma toalha limpa e desço correndo, indo para a cozinha para pegar gelo do freezer.

Quando volto para a sala, me sento ao lado dele no sofá, abrindo a caixa de primeiros socorros sobre a mesinha de centro. Meus movimentos são automáticos, mecânicos, tentando não pensar muito no fato de que estou a centímetros de distância do homem que não vejo há anos.

- Deixa eu cuidar disso direito - digo, pegando o algodão e o álcool.

- Não precisa, Mally, eu...

Passo o algodão embebido em álcool no corte do lábio sem avisar, como sempre fazia quando eu era criança e me machucava brincando com ele no jardim. Ele faz uma careta de dor e sussurra uma palavra criativa que me faz sorrir involuntariamente. Lembro-me de que mamãe não permitia palavrões, então ele e papai inventavam palavras diferentes.

Enquanto limpo cuidadosamente o machucado, tentando ser gentil, mas eficiente, sinto o peso intenso do olhar dele em mim. É uma sensação familiar e perturbadora ao mesmo tempo, como se ele estivesse tentando decifrar quem eu me tornei durante estes anos longe, tentando encontrar traços da menina que conhecia.

            
            

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