"Então por que ela apareceu? Por que ela fez uma cena?" Ele deu um passo mais perto. Sua presença parecia ameaçadora. "E agora as fotos íntimas dela estão online. Eu te avisei, Aubrey. Mexa comigo, e eu vou garantir que você se arrependa."
Minhas mãos se fecharam ao lado do corpo. Minhas unhas cravando nas palmas. Senti um pavor frio se espalhar pelo meu corpo. Ele não estava apenas ameaçando a Joana. Ele estava me ameaçando. E ele cumpriu sua ameaça à Joana.
"Ela estava chateada", expliquei. Minha voz tensa com lágrimas não derramadas. "Ela se importa comigo. Ela viu você e a Kennedy. Ela reagiu." Engoli em seco. "A culpa é minha. Ela estava me defendendo."
A expressão do Cadu suavizou. Apenas uma fração. "Eu entendo que ela estava te defendendo. Mas ela foi longe demais. Eu tive que proteger a reputação da Kennedy." Ele fez uma pausa. Seu olhar se desviando para a Kennedy. Que estava quieta ao seu lado. Seus olhos arregalados e inocentes. "As fotos serão removidas. Já instruí minha equipe. Mas a Joana precisa aprender a lição."
"A lição dela?" repeti. Incredulidade colorindo minha voz. "Você a humilhou. Você expôs seus momentos mais íntimos. Tudo porque ela falou a verdade!"
"A verdade, Aubrey, muitas vezes é inconveniente", Cadu retrucou. A suavidade desapareceu. "E às vezes, inconveniências precisam ser resolvidas. Agora, sobre as fotos da sua amiguinha. Elas vão desaparecer. Mas apenas se você cooperar." Seu olhar encontrou o meu. Uma ameaça não dita pairava no ar.
Kennedy deu um passo à frente. Sua mão tocando gentilmente o braço do Cadu. "Cadu, querido, não seja tão duro com a Aubrey. Ela está claramente angustiada." Sua voz era uma fachada açucarada. Mas seus olhos, eles brilhavam com triunfo. "É tudo tão confuso. Mas tenho certeza de que a Aubrey entende."
*Aubrey entende.* As palavras eram uma ferida nova.
"Eu quero o divórcio, Cadu", eu disse de uma vez. As palavras pareciam estranhas. No entanto, libertadoras.
Os olhos da Kennedy se arregalaram. Um sorriso lento se espalhou por seu rosto. "Oh, Aubrey! Sério? Isso é... uma notícia maravilhosa!" Seu choque falso foi substituído por um júbilo desenfreado. "Cadu, querido! É isso! Nossa chance!" Ela se virou para ele. Seus olhos brilhando com uma ambição perigosa. "A família Olsen mencionou. Eles disseram que se você estivesse livre, verdadeiramente livre, poderíamos avançar com as... apresentações formais. Com eles."
Meu sangue gelou. A família Olsen. Minha família. A família que ele estava preparando a Kennedy para se passar.
Cadu olhou para a Kennedy. Um lampejo de algo complicado em seus olhos. Não amor. Algo mais sombrio. Posse. "Kennedy, agora não."
"Mas querido, é perfeito! A Aubrey quer sair. Você está livre! Podemos finalmente oficializar nosso acordo!" Kennedy insistiu. Sua voz subindo com excitação.
Acordo. A palavra pairou no ar. Como uma mortalha.
"Acordo?" ecoei. Minha voz quase inaudível.
Cadu se virou para mim. Seu rosto uma máscara de fria resolução. "Sim, Aubrey. Um acordo. Kennedy e eu temos um futuro juntos. Um destino. Um que precisava de você fora do caminho. Eu te pedi em casamento porque você era uma ameaça. Você sabia sobre o plágio da Kennedy. Você poderia ter arruinado tudo." Ele fez uma pausa. Seus olhos perfurando os meus. "E agora essa ameaça se foi. Então sim, a Kennedy está certa. Isso é perfeito. Podemos finalmente prosseguir para garantir o lugar dela por direito."
Lugar por direito. Minha respiração falhou. Ele estava falando do meu lugar por direito.
Lembrei-me do que a Dra. Thorne disse. *Renunciou à cidadania... casamento na França com a herdeira Kennedy Patel.* Ele já tinha ido. Já estava casado. Nosso casamento, meu amor, não era nada além de uma conveniência. Uma cortina de fumaça para sua lealdade distorcida à Kennedy.
E nosso aniversário. Ele não apenas esqueceu. Ele o profanou. Fez dele o dia em que declarou oficialmente sua verdadeira lealdade. A ela.
Senti um desejo súbito e desesperado de fugir. Longe dele. Longe dela. Longe desta casa. Deste pesadelo. Virei-me para ir embora. Minhas pernas pareciam de chumbo.
"Aubrey." A voz do Cadu me parou. Era baixa. De aviso. "Não pense que isso muda alguma coisa. Você ainda está sob meu teto. Você ainda é minha esposa. Até que eu decida o contrário."
Virei-me lentamente. Meus olhos encontraram os dele. Uma fúria fria agora fervia sob meu desespero.
"Não tente ser esperta, Aubrey", ele continuou. Aproximando-se. Sua voz um sussurro ameaçador. "Não tente me levar ao tribunal. Não tente fazer uma cena. Você viu o que aconteceu com a Joana. Imagine o que eu poderia fazer com você. Com sua carreira. Com sua reputação." Ele fez uma pausa. Um sorriso arrepiante tocando seus lábios. "Você existe porque eu permito. Entendeu?"
Suas palavras. Não eram apenas uma ameaça. Eram uma declaração de posse. Ele me via como uma posse. Uma marionete. Para ser controlada. Humilhada.
Uma dor aguda e lancinante atravessou meu peito. Meus pulmões se contraíram. Parecia que eu estava me afogando. Minha cabeça latejava. O quarto girava. A imagem do Cadu e da Kennedy, juntos, se transformou em uma massa indistinguível de malícia.
Recuei. Incapaz de encontrar seu olhar. Recuei. Subi as escadas. Para a casca vazia do meu quarto. A porta se fechou suavemente atrás de mim. Uma barreira frágil contra a tempestade.
Meu celular vibrou novamente. Joana. "Aubrey? Você está bem? Estou com tanto medo. Você está segura?"
Lágrimas, quentes e ardentes, finalmente romperam minhas pálpebras. Elas escorreram pelo meu rosto. Silenciosas. Implacáveis. Caí no chão. Minhas costas contra a parede fria. Meu corpo tremendo incontrolavelmente. Eu não conseguia responder à Joana. Ainda não.
A dor era sufocante. Mas por baixo dela, um vislumbre de clareza. Uma resolução fria e dura. Este quebrantamento. Esta humilhação. Era o catalisador. Era o fogo que forjaria algo novo. O divórcio. A fuga. Aconteceria. Não importava o custo.
Devo ter caído em um sono agitado. Meio sonhando, meio consciente. Senti uma presença ao meu lado. Uma mão acariciando suavemente meu cabelo. Uma respiração quente na minha bochecha. Cadu. Sua presença. Seu cheiro. O fantasma de um conforto que eu conheci. Meu coração, contra minha vontade, palpitou com uma esperança desesperada. Um anseio pelo homem que pensei ter casado.
Então, um sussurro áspero em minha mente. *Ele não te ama. Ele nunca amou. É um truque. Uma manipulação.*
Acordei sobressaltada. O quarto estava vazio. A cama intocada ao meu lado. A mão, o calor, a respiração - tudo uma ilusão. Um truque cruel da minha mente exausta. O edredom pesado estava meio caído no chão. Ele deve tê-lo usado na noite passada. Depois que chegou em casa. Sem mim.
Olhei para o meu celular. A bateria estava morta. Claro. Outra forma sutil de controle. Ele provavelmente removeu o carregador enquanto eu dormia. Ou talvez estivesse morto por causa das notificações. Rastejei até a mesa de cabeceira. Conectando-o. Enquanto a tela piscava para a vida, verifiquei rapidamente as fotos da Joana. Elas tinham sumido. Todos os vestígios apagados da internet. Ele cumpriu sua palavra, à sua maneira distorcida. Por enquanto.
Desci as escadas. Cadu e Kennedy já estavam na cozinha. O cheiro de café recém-passado e doces gourmet enchia o ar. Cadu, vestido com um terno impecável, estava mexendo creme no café da Kennedy. De costas para mim. Ela estava empoleirada em um banquinho na ilha. Usando uma camisola de seda que definitivamente não era minha. Seu cabelo, perfeitamente penteado, caía sobre seus ombros.
"Cadu, querido", disse Kennedy. Sua voz um ronronar. "Isso está simplesmente divino. Você sempre sabe como tornar minhas manhãs perfeitas."
Ele se virou. Um sorriso suave no rosto. "Apenas o melhor para você, meu amor." Seus olhos encontraram os meus brevemente. Então se desviaram. Como se eu fosse invisível.
"Aubrey, vai se juntar a nós?" Kennedy perguntou. Seu sorriso não alcançou seus olhos. Eles continham um brilho de malícia.
"Acho que vou tomar apenas água", respondi. Minha voz tensa. Eu não conseguia engolir nada. Não depois de vê-los.
"Ah, vamos lá, Aubrey", Kennedy insistiu. Seu tom condescendente. "O Cadu se deu a tanto trabalho. Ele até comprou aqueles croissants franceses especiais que você gosta."
Meus croissants favoritos. Ele costumava comprá-los para mim todo domingo. Agora eles faziam parte do ritual matinal dela. Uma nova onda de náusea me invadiu.
"Não estou com fome", eu disse. Virando-me para sair.
"Aubrey, espere", disse Cadu. Sua voz mais afiada agora. "Temos algo importante para discutir. A chegada da Kennedy. O futuro dela aqui. Você precisa estar ciente dos arranjos."
Arranjos. De novo.
"Não há nada para discutir, Cadu", eu disse. Minha voz plana. "Estou indo embora."
"Indo embora?" Kennedy ofegou. Uma mão teatral voando para a boca. "Mas... para onde você iria, querida? Você não tem dinheiro. Seus cartões de crédito estão cancelados. E sua carreira... bem, digamos que tem sido difícil para você ultimamente. Não é?" Seus olhos brilharam. "A menos que... você esteja pensando em correr para sua pequena família Olsen, talvez?"
Minha cabeça se ergueu bruscamente. Como ela sabia? Como ela sabia sobre a família Olsen? Meu celular, o e-mail, meu contato secreto...
O rosto do Cadu endureceu. Ele bateu a mão no balcão de mármore. O som estalou pela cozinha silenciosa. "Kennedy! Já chega!" Ele se virou para mim. Seus olhos ardendo. "Aubrey, você não vai sair. Ainda não. Você vai ficar aqui. E vai fazer a Kennedy se sentir bem-vinda." Sua voz era de ferro. "Você vai preparar esta casa para ela. Cada detalhe. Exatamente como ela gosta. Esta é a sua penitência."
Suas palavras me atingiram como um golpe físico. Ele não estava apenas me controlando. Ele estava exigindo que eu participasse da minha própria humilhação. Do meu próprio apagamento.
Um toque agudo e repentino cortou o silêncio tenso. Meu celular. Olhei para a tela. Dra. Thorne. Minha advogada.
Os olhos do Cadu se estreitaram. "Quem é?" ele exigiu. Sua voz carregada de suspeita.
Eu o ignorei. Meu dedo pairando sobre o botão de atender.
"Aubrey! Quem está te ligando?" Sua voz se elevou. Um tom perigoso. Ele se lançou para o meu celular.
Eu recuei. Bem quando sua mão alcançou a minha. Ele agarrou meu braço. Com força. Seus dedos cravando na minha carne. "Me solta!" eu gritei. O celular escorregou da minha mão. Caindo no chão de mármore impecável. A tela rachou. Uma teia de aranha de fraturas.
A chamada conectou. No viva-voz.
"Sra. Burris? Tenho uma atualização urgente sobre o Sr. Sampaio. E uma descoberta bastante... perturbadora sobre a Srta. Patel." A voz calma e profissional da Dra. Thorne encheu a sala.
Cadu congelou. Seu aperto no meu braço afrouxou. Seus olhos se alternavam entre o celular quebrado e meu rosto. Um olhar de horror crescente.
"O quê?" Kennedy gritou de repente. Sua compostura se despedaçando. "Do que ela está falando? Cadu, o que você fez?"
Cadu soltou meu braço. Ele olhou para a tela estilhaçada. Seu rosto pálido. Meu braço latejava. Uma marca vermelha já se formando na minha pele. Ele me machucou. De novo.
"Sra. Burris, você está aí?" A voz da Dra. Thorne era insistente.
"Sim", consegui dizer. Minha voz tremendo. Meus olhos encontraram os do Cadu. Seu rosto era uma máscara de medo. E raiva. "Estou aqui."
"Ótimo", Dra. Thorne continuou. Alheia ao caos que ela havia desencadeado. "Tenho a confirmação, Sra. Burris. Cadu Sampaio de fato renunciou à sua cidadania americana. E ele já está legalmente casado com Kennedy Patel. Na França. Há seis meses."
As palavras pairaram no ar. Um toque de finados para tudo em que eu já acreditei.
Kennedy ofegou. Sua mão voando para a boca. Não em choque. Mas em puro e absoluto terror.
Cadu se virou para mim. Seus olhos arregalados. Sem piscar. "Aubrey..." ele sussurrou. Sua voz rouca.
Eu o encarei. A percepção fria finalmente se instalando. Ele nunca me amou. Nem por um momento. Eu era apenas uma mentira conveniente. A dor era insuportável. No entanto, eu me sentia estranhamente distante. Como se estivesse assistindo a uma peça se desenrolar.
"E mais uma coisa, Sra. Burris", disse a voz da Dra. Thorne. Clara e inabalável do celular quebrado. "A amostra de DNA que o Sr. Sampaio forneceu? Definitivamente não era dele. E a família Olsen... eles procuram por sua herdeira perdida há décadas. Eles a chamam por um nome específico. É... bastante incomum. Você está pronta para isso?"
Meus olhos, ainda fixos nos do Cadu, se estreitaram. A raiva se solidificou. "Sim", eu disse. Minha voz um zumbido baixo e constante. "Estou pronta."