Noventa e Nove Cartas, Mil Mentiras
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Capítulo 7

Ponto de Vista de Aubrey Burris:

O sorriso triunfante de Kennedy vacilou. Seus olhos, arregalados de pânico súbito, saltaram dos papéis para o rosto pálido de Cadu, e então para o meu. Ela viu a raiva fervendo sob minha calma exterior.

"O que é isso?" ela exigiu. Sua voz, geralmente tão sacarina, agora estava afiada, carregada de medo. Ela tentou pegar os papéis.

"Não se atreva", avisei. Minha voz baixa, perigosa. Agarrei seu pulso. Meu aperto, surpreendentemente forte, ardeu em sua pele. Meu braço, ainda sensível pelo abuso anterior de Cadu, latejou de dor. Mas eu segurei firme.

"Me solta, sua vadia!" Kennedy gritou. Ela tentou se afastar. Sua mão se debatendo atingiu minha bochecha. Um golpe forte e ardente.

Eu a soltei. Dando um passo para trás. Minha bochecha queimava. Mas a dor apenas alimentou minha resolução.

Kennedy tropeçou. Fingindo quase cair. Ela agarrou o pulso. Seu rosto se contorceu em uma exibição teatral de dor. "Olha o que ela fez, Cadu! Ela me atacou! Ela está com ciúmes! Ela está louca!"

A cabeça de Cadu se ergueu. Seus olhos, ainda se recuperando dos documentos, endureceram. A preocupação por mim, uma sombra fugaz, desapareceu. Ele correu para o lado de Kennedy. Seus braços a envolvendo. "Você está bem, meu amor? Ela te machucou?"

Ele olhou para mim por cima do ombro de Kennedy. Seus olhos ardendo com acusação. "Aubrey, que porra há de errado com você? Você atacaria uma mulher grávida?"

Grávida. A palavra pairou no ar. Uma nova facada de dor. Outro segredo. Outra mentira.

"Precisamos conversar, Aubrey", Kennedy fungou. Sua cabeça enterrada no peito de Cadu. Mas seus olhos, espiando por cima do ombro dele, continham um triunfo arrepiante. "Sobre sua... família. Os Olsen. Estou pensando em mudar meu nome do meio. O que você acha, querido? Algo digno. Algo que realmente reflita meu novo status."

Meu rosto permaneceu impassível. Levantei o maço de documentos. Os papéis do divórcio. A carta da Corporação Olsen. Os resultados do DNA. "Não há nada para discutir, Kennedy. Ou, devo dizer, Sra. Patel? Porque você não é uma Olsen. Nunca foi. E nunca será."

Kennedy estremeceu. Seus olhos arregalados de medo genuíno agora.

"E quanto a atacar uma mulher grávida", continuei. Minha voz fria. Precisa. "Não fui eu quem roubou uma identidade inteira. Ou manipulou um homem para um casamento fraudulento. Ou tentou reivindicar uma fortuna que não era sua. Eu simplesmente me defendi de sua tentativa mesquinha de violência. E de sua mentira colossal."

"Você não sabe do que está falando!" Kennedy sibilou. Abandonando seu ato frágil. Seu rosto se contorceu de malícia. "O Cadu me contou tudo! Ele me disse que te odiava! Ele me disse que se casou com você apenas para te manter quieta! Para me proteger! Ele disse que você era obcecada! Que você o arruinaria! E que você não era nada! Um tapa-buraco!"

Cada palavra era um dardo venenoso. Mas elas não perfuraram mais meu coração. Apenas fortaleceram minha resolução. Porque confirmaram tudo o que eu já sabia.

"Você é patética, Aubrey!" Kennedy zombou. Seus olhos transbordando de desprezo. "Sempre tentando ser alguém que você não é! Sempre se agarrando ao que não é seu! Primeiro a bolsa de estudos, agora isso! Você é uma sanguessuga!"

"Eu sou uma sanguessuga?" zombei. Uma risada amarga escapou dos meus lábios. "Eu sou Aubrey Olsen. A verdadeira herdeira. E você, Kennedy Patel, não é nada além de uma ladra. Uma vigarista. E uma fraude." Joguei os resultados do DNA nela. Eles flutuaram até o chão. "Meu DNA confirma. A família Olsen já sabe."

Kennedy olhou para o documento. Seu rosto perdendo toda a cor.

"Eles estão vindo atrás de você, Kennedy", sussurrei. Minha voz cheia de uma promessa arrepiante. "E quando vierem, você perderá tudo. Seu nome falso. Sua fortuna falsa. Sua vida falsa."

Kennedy se lançou sobre mim. Um animal selvagem e desesperado. Suas mãos arranhando meu rosto. Mas Cadu, ainda a segurando, a puxou para trás. Com força.

"O que você quer dizer com eles sabem?" Kennedy gritou para ele. Sua voz cheia de pânico. "Cadu, você prometeu! Você disse que era infalível!"

Cadu olhou para ela. Seu rosto uma máscara de traição. Então ele olhou para mim. Uma percepção crescente em seus olhos.

Virei-me para sair. Eu disse o que precisava dizer. A verdade estava revelada.

"Não! Você não pode simplesmente ir embora!" Kennedy gritou. Sua voz rouca. "Você não pode fazer isso comigo! Você roubou minha vida, Aubrey! Minha chance! Minha família!"

"Você roubou a minha", corrigi. Minha voz fria. "Cada pedaço dela. Do meu projeto ao meu marido. E o nome da minha família."

"Sua família?" Kennedy zombou. Uma risada histérica borbulhando. "Você se acha especial? Você acha que pode simplesmente entrar e reivindicar tudo? Eu conquistei isso! Eu trabalhei por isso! Eu manipulei cada pessoa para chegar aqui! O Cadu também!"

"Manipulou?" perguntei. Minha cabeça inclinada. Um arrepio percorreu minha espinha. "O que mais você fez, Kennedy?"

Ela parou de rir. Um brilho astuto e venenoso em seus olhos. "Ah, Aubrey. Você não faz ideia. Lembra como seu projeto da bolsa de estudos 'desapareceu'? Na noite anterior à avaliação final? Não foi um acidente." Sua voz era um sussurro baixo e triunfante. "Eu invadi seu estúdio. Triturrei suas plantas originais. Seus backups também. E depois copiei. Cada detalhe. Você era tão ingênua."

Minha respiração falhou. A lembrança, um borrão doloroso de anos atrás, agora se tornou nítida. O desespero esmagador. A sensação de total impotência. A perda do meu sonho.

"E o Cadu? Ele me ajudou. Ele ajudou a encobrir. Ajudou a garantir que ninguém nunca questionasse meu 'gênio'. Ele me amava, Aubrey. Ele sempre me amou. Você era apenas um meio para um fim. Uma distração conveniente."

As palavras foram um golpe físico. Mas não me quebraram. Apenas solidificaram o ódio ardente. O desejo de vingança.

"Você é uma vadia doente e distorcida", rosnei. Minha voz baixa. Mortal.

Lancei-me sobre ela. Um grito primal escapando dos meus lábios. Minhas mãos voaram. Agarrando-a pelos cabelos. Sua cabeça foi para trás. Um suspiro escapou de seus lábios.

"Aubrey! Pare!" Cadu rugiu. Puxando-me para longe. Seu aperto no meu braço, machucando. A dor explodiu.

Kennedy, solta, caiu no chão. Agarrando o estômago. "Meu bebê! Meu bebê!" ela lamentou. Uma nova torrente de lágrimas teatrais. "Ela tentou matar meu bebê!"

O rosto de Cadu se contorceu em uma máscara de pura raiva. Ele me empurrou para trás. Com força. Tropecei. Caindo contra a parede. Uma dor aguda atravessou minha cabeça.

"Fora!" Cadu berrou. Seus olhos ardendo com uma fúria perigosa. "Suma da minha frente! Seguranças! Tirem-na daqui! Agora!"

Duas figuras enormes, a segurança pessoal de Cadu, correram para o quarto. Eles me agarraram. Suas mãos como grampos de ferro. Puxando-me para fora do quarto. Descendo as escadas. E não em direção à porta. Mas em direção ao escritório escuro e isolado nos fundos.

"Não! Me soltem!" Lutei. Chutando. Gritando. Mas o aperto deles era muito forte. Eles me empurraram para o escritório. A pesada porta de carvalho se fechou. A fechadura clicou.

O quarto estava escuro. Frio. Meu coração martelava. Eu era uma prisioneira. De novo.

Através da fresta estreita sob a porta, vi uma sombra. Um guarda. Posicionado do lado de fora.

Horas se passaram. Ou talvez dias. O tempo perdeu todo o significado. Sem comida. Sem água. Meu celular, minha tábua de salvação, se foi. Meus cartões de crédito, cancelados. Eu estava completamente isolada. Um fantasma na minha própria casa.

Então, uma pequena fenda se abriu na porta. Um copo de água. Um sanduíche sem graça. E um tablet. A tela brilhou. O rosto de Cadu. O de Kennedy. Rindo. Se abraçando. Uma apresentação de slides de sua felicidade recém-descoberta. Suas aparições públicas. Kennedy, envolta em vestidos caros, ostentando seu status de "Olsen". Cadu, radiante ao seu lado. Uma imagem de felicidade opulenta. Um tormento cruel e deliberado.

Meu estômago se revirou. Mas não senti nada. Apenas um espaço oco e vazio. Eles estavam tentando me quebrar. Me fazer assistir à minha própria destruição. Mas eu já estava quebrada. E agora, eu estava me reconstruindo. Tijolo por tijolo doloroso.

Meu corpo enfraqueceu. Minha cabeça latejava constantemente. O sono não oferecia escapatória. Apenas pesadelos. Da traição de Cadu. Da malícia de Kennedy. E da verdade arrepiante da minha identidade roubada.

Uma manhã, a porta se abriu com um estrondo. Cadu, com o rosto sombrio, estava na porta. Flanqueado por seus guardas. Ele não falou. Apenas gesticulou. Os guardas me agarraram. Meus membros, fracos e sem resposta, ofereceram pouca resistência. Eles me arrastaram para fora do escritório. Pela casa. E para um carro que esperava.

O carro acelerou pela cidade. As luzes passavam borradas. Minha cabeça balançava contra a janela. Minha visão nadava. Eu estava entorpecida. Desconectada.

Chegamos a uma propriedade grandiosa e opulenta. Uma mansão sprawling. Luzes brilhavam. Música flutuava pelo ar. Uma festa. Uma celebração. Para Kennedy. Claro.

Eles me levaram para dentro. Através das multidões de convidados risonhos e alheios. Em direção a uma sala privada. Eles me empurraram para dentro. Estava mal iluminada. Uma única figura sentada em um sofá de pelúcia. Uma mulher. Seus olhos fechados. Sua cabeça balançava. Inconsciente.

Meu coração disparou. O que era isso?

Então eu vi. Um pequeno frasco. Vazio. Na mesa ao lado dela. E o cheiro fraco e enjoativo de sedativos. Ela estava drogada.

Meu sangue gelou. Minha mente, apesar de sua névoa, brilhou com uma percepção aterrorizante. O que Cadu estava fazendo? O que era isso?

Nesse momento, os guardas me empurraram para frente. Com força. Em direção à mulher inconsciente. Tropecei. Minha mão roçando seu braço. Sua pele estava fria. Úmida.

Um flash. Um clique. O som do obturador de uma câmera.

Minha cabeça se ergueu bruscamente. Uma figura sombria estava no canto. Segurando uma câmera. Tirando fotos. De mim. Da mulher inconsciente.

Meu coração martelava contra minhas costelas. O que estava acontecendo? Por que ele estava fazendo isso? Qual era o jogo dele?

            
            

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