Kiara deu um passo à frente, seu rosto perfeitamente esculpido uma imagem de desdém. "Oh, a bonequinha do interior quebrou", ela zombou. "Que pena. Eu estava gostando da nossa pequena encenação."
Sua mão disparou. Suas unhas longas e pintadas cravaram no meu braço. Ela torceu. Uma dor aguda me atravessou.
"Você realmente acha que pertence a este lugar, Alana?", ela sussurrou, seu rosto a centímetros do meu. Seu hálito cheirava a champanhe caro e veneno. "Você não é nada. Uma pobre coitada, um caso de caridade, se aproveitando do dinheiro do Caio. Você nunca será uma de nós."
Algo estalou dentro de mim. Os anos de resistência silenciosa se dissolveram.
Tentei me afastar. Mas Bruna e outra das comparsas de Kiara, uma loira chamada Tiffany, agarraram meu outro braço. Elas me seguraram com força.
"Segurem-na!", Kiara sibilou.
A encenação. Isso não era um jogo. Era uma execução pública. Elas estavam encenando todas as vezes que Kiara me humilhou em público. O vinho derramado. As palavras cruéis. Mas desta vez, era real.
A mão de Kiara foi para o meu cabelo. Ela agarrou um punhado, puxando minha cabeça para trás. Meu pescoço queimou.
"Você realmente achou que alguns vestidos bonitos e um anel mudariam quem você é?", ela cuspiu, seus olhos brilhando com alegria maliciosa. "Você ainda é apenas aquela bolsista patética, implorando por migalhas."
Meu peito arfava. A dor era excruciante. Não apenas de seu aperto, mas da humilhação crua. A memória de suas palavras no evento da universidade, o vinho encharcando meu vestido barato, ecoava em meus ouvidos.
Eu vi Caio então. Do outro lado da sala lotada. Seus olhos encontraram os meus. Por uma fração de segundo, vi algo piscar neles. Preocupação? Arrependimento?
Ele deu um passo à frente.
Mas então, seu amigo, Marcos, colocou a mão em seu ombro. "Não, cara", ele murmurou, alto o suficiente para eu ouvir. "A Kiara está chateada. E a Alana... bem, ela procurou por isso. É só uma brincadeira."
Caio hesitou. Seu olhar mudou de mim para Kiara. Kiara, parecendo frágil e injustiçada. Ele parou. Seus ombros caíram.
Meu coração, já uma casca oca, rachou um pouco mais. Ele não me ajudaria. Não por mim. Nunca por mim.
Meus olhos encontraram Kiara novamente. Seu rosto, triunfante. Suas unhas, cravando mais fundo.
Eu revidei. Um instinto primal. Eu não os deixaria me quebrar. Não assim.
Torci minha cabeça, me debatendo. Meus dentes encontraram carne. Um grito agudo. Kiara gritou.
"Ela me mordeu, sua psicopata!", Kiara berrou, segurando a mão. Sangue brotou em seu dedo.
Caio estava instantaneamente ao lado de Kiara. "Kiara! Você está bem?" Sua voz, cheia de preocupação, foi uma faca em meu estômago.
Bruna e Tiffany ainda me seguravam, seus apertos como aço.
"Ela é um animal selvagem!", Tiffany gritou, seus olhos arregalados com indignação fabricada. "Ela mordeu a Kiara!"
"Eu não estou jogando o seu jogo!", eu ofeguei, minha voz rouca. "Eu nunca concordei com isso!"
"Oh, a coitadinha acha que tem escolha", Bruna zombou, revirando os olhos. "Você está na nossa casa, Alana. Você joga pelas nossas regras."
Kiara, agora com o dedo enfaixado por um Caio frenético, me fuzilou com o olhar. "Caio, ela precisa aprender uma lição. Uma de verdade."
O rosto de Caio endureceu. Seus olhos, quando encontraram os meus, estavam frios e distantes. "Levem-na." Sua voz era desprovida de emoção. "Levem-na para a ala oeste. E certifiquem-se de que ela entenda as regras."
Meu sangue gelou. "Caio", eu implorei, minha voz falhando. "Por favor. Você prometeu. Você prometeu que me protegeria." As palavras tinham gosto de poeira. A promessa que ele fez no dia do nosso casamento. De cuidar. De proteger. Uma mentira.
Ele desviou o olhar. "Kiara está chateada, Alana. Você a insultou. Você a machucou. Os sentimentos dela importam."
Minha respiração prendeu. Os sentimentos dela. Meu corpo quebrado. Minha casa destruída. Meu coração partido. Não importavam.
Elas me arrastaram, Bruna e Tiffany, por uma porta lateral. Por um corredor longo e mal iluminado. Meu braço ainda latejava onde Kiara tinha me mordido. Meu corpo doía da luta.
Elas me jogaram em um quarto pequeno e sem janelas. A porta bateu atrás de mim.
Então, a surra começou. Punhos, pés. Uma chuva de golpes. Por toda parte. Minha cabeça, meu estômago, minhas costelas.
Eu me encolhi em uma bola, tentando me proteger. Mas não havia proteção. Apenas dor. Dor implacável e brutal.
Elas não pararam até que Kiara, sua voz abafada através da porta, gritou: "Já chega. Ela aprendeu a lição."
Elas me deixaram lá. No chão frio e duro. Machucada. Quebrada. Sangrando.
Sozinha.
A dor era uma coisa viva. Ela me consumiu. Meu corpo gritava. Mas uma nova sensação, fria e clara, me invadiu. Clareza.
Ele não me amava. Ele não se importava. Nunca. As promessas eram vazias. A proteção, uma fachada. Eu era um peão. E agora, eu era um peão quebrado.
Mas um peão quebrado ainda pode se mover. E um peão quebrado, sem nada a perder, é o tipo mais perigoso de todos.