Casada com a Crueldade Dele, e não com o Amor
img img Casada com a Crueldade Dele, e não com o Amor img Capítulo 4
4
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Ponto de Vista de Alana:

O mundo era um caleidoscópio de dor e contornos borrados. Eu entrava e saía da consciência. O balanço suave de um carro. As vozes sussurradas da equipe.

"Ela está estável, Sra. Monteiro", uma voz murmurou. "Apenas muitos hematomas. E aquele braço..."

Meu braço. Latejava, uma dor surda e constante. Lembrei-me do aperto furioso de Caio, do estalo doentio. Tinha sido quebrado.

"O Sr. Caio estava muito preocupado", disse outra voz. "Ele pessoalmente garantiu que ela fosse trazida para cá. Ele ficou bastante irritado com a Kiara."

Preocupado? Irritado? As palavras pareciam pairar no ar, zombando de mim.

Forcei meus olhos a abrirem. Eu estava em um quarto de hospital particular. Lençóis brancos, cheiro de esterilizado. Uma enfermeira, com um rosto gentil, estava ajustando meu soro.

"Sra. Monteiro, você acordou", disse ela suavemente. "Tente não se mover muito. Você tem várias costelas fraturadas e o rádio quebrado."

A funcionária, uma jovem chamada Sara, que muitas vezes me ajudava, se inclinou mais perto. "Ele realmente estava preocupado, Sra. Monteiro. Ele disse para não pouparem despesas. Ele até... ele até perguntou se você tinha comido alguma coisa."

Comido. O pensamento fez meu estômago revirar. Meu maxilar estava dolorido demais para mastigar. Até falar era um esforço.

Uma risada amarga escapou dos meus lábios, um som doloroso e rouco. Então ele se importava se eu comia. Depois de tudo. Depois de deixar Kiara demolir minha casa. Depois de quebrar meu braço. Depois de deixar seus amigos me espancarem.

A porta se abriu. Caio.

Ele entrou, parecendo impecavelmente vestido, um contraste gritante com meu estado machucado e quebrado. Ele segurava uma pequena colher de prata.

Ele se sentou na beira da minha cama. A colher, carregada com um pouco de caldo, veio em direção aos meus lábios. Seu toque era estranhamente gentil.

"Você precisa comer, Alana", disse ele, sua voz suave, quase paternal. "Você está muito magra."

Eu recuei com seu toque, mas engoli o caldo. Tinha gosto de cinzas.

"Por quê?", consegui dizer, minha voz rouca. "Para que eu possa ser forte o suficiente para assinar seus papéis de divórcio?"

Ele suspirou, um som longo e exasperado. "Não seja difícil, Alana. Kiara estava chateada. Você não deveria tê-la provocado. Você sabe como ela fica."

Meus olhos se arregalaram. Ele estava me culpando. Ainda. Depois de tudo.

Minhas costelas doíam. Meu espírito se sentia esmagado.

"Essa coisa toda", ele continuou, como se eu fosse uma criança travessa, "virou uma bagunça. Seu... incidente... na festa. Está em todos os sites de fofoca. A imagem da Kiara está sendo prejudicada."

Ele largou a colher e pegou uma pequena caixa forrada de seda. Ele a abriu. Dentro, um colar de diamantes brilhava, capturando a luz. Era deslumbrante. E totalmente sem sentido.

"Isso é para você", disse ele. "Para fazer as pazes."

"Fazer as pazes?", eu grasnei. "Pelo quê? Por deixar sua namorada quebrar meu braço? Por deixá-la demolir minha casa? Por deixar os amigos dela me espancarem até eu quase desmaiar?"

Ele acenou com a mão, desdenhoso. "Um mal-entendido. Kiara estava apenas magoada. Ela se empolgou. E a casa... isso foi negócio. Você terá uma maior e melhor. Na cidade."

"O que você quer, Caio?", perguntei, indo direto ao ponto. Eu sabia que não se tratava de "fazer as pazes".

Ele se inclinou mais perto, seus olhos sérios. "Kiara quer que você emita uma declaração pública. Um pedido de desculpas."

Meu sangue gelou. "Um pedido de desculpas pelo quê?"

"Por atacá-la", disse ele, sua voz monótona. "E ela quer que você declare que estava tendo um caso. Com o ex-namorado dela."

Minha boca se abriu. Minha mente girou. Um caso? Com o ex de Kiara? Uma mentira. Uma invenção pública.

Ele queria que eu admitisse infidelidade. Para manchar minha reputação. Para fazer parecer que eu era a vilã, não ela. Não ele.

Eu não conseguia falar. O choque era profundo demais.

Ele continuou, alheio ao meu horror. "Isso vai limpar o nome da Kiara. E nos dará base para um divórcio rápido e silencioso. Com o mínimo de alarde. Você fica com o dinheiro, a casa nova, os diamantes. E você vai embora em silêncio."

Finalmente encontrei minha voz. Era um som cru e sufocado. "Você quer que eu minta? Que eu me difame? Que a deixe vencer completamente?"

Ele deu de ombros. "É para o melhor, Alana. Vai facilitar as coisas para todos. Especialmente para a Kiara. E para mim."

"Então por que você simplesmente não encontra uma nova mulher?", eu cuspi, as palavras queimando minha garganta. "Uma que realmente te ame. Uma que não te faça pular por arcos para chamar a atenção dela."

Seus olhos se estreitaram. Um olhar frio e duro. "Amor?", ele zombou. "Você acha que eu te amo, Alana? Eu tinha um... carinho. Uma afeição. Você era conveniente. Plácida. E você certamente não era a Kiara."

"E esse carinho", ele continuou, sua voz pingando desdém, "não é suficiente para sacrificar a Kiara. Ela é quem eu quero. Sempre foi. Sempre será."

Uma onda de exaustão me invadiu. Debater era inútil. Não havia mais nada. Nenhum afeto. Nenhum respeito. Nenhuma dignidade.

"Então", disse ele, recostando-se. "Você vai assinar a declaração? Ou teremos que tornar as coisas... mais difíceis?"

Ele estava falando sério. Ele tornaria as coisas mais difíceis. Ele me arruinaria. Ele arruinaria minha mãe. Ele não pararia por nada.

Eu estava presa. Quebrada. Sozinha.

Uma batida súbita e forte na porta nos assustou.

A porta se abriu. Beatriz Monteiro estava lá. Seu olhar, afiado e avaliador, varreu-me, depois pousou em Caio.

"O que está acontecendo aqui?", ela exigiu, sua voz como aço. "Caio, o que você está fazendo?"

Caio se levantou, um lampejo de irritação cruzando seu rosto. "Mãe. Estamos tendo uma conversa particular."

"Evidentemente", disse Beatriz, seus olhos faiscando. Ela o ignorou, caminhando direto para a minha cabeceira. Ela pegou minha mão, seu toque surpreendentemente gentil. "Você está bem, criança?"

Consegui um aceno fraco.

Ela voltou seu olhar para Caio, sua expressão endurecendo. "Eu soube das palhaçadas da Kiara Vasconcelos ontem à noite. E das declarações que você está tentando forçar a Alana a fazer. É nojento, Caio. Absolutamente nojento."

"Mãe, a Kiara estava apenas-", Caio começou.

"Kiara Vasconcelos é uma pirralha mimada e narcisista", Beatriz o interrompeu, sua voz se elevando. "Ela não tem classe. Nenhuma substância. E ela nunca será uma Monteiro. Ela é uma desgraça para o nome desta família. E você, meu filho, é um tolo por deixá-la manipulá-lo assim."

A sala ficou em silêncio. O rosto de Caio estava pálido.

Beatriz apertou minha mão. Seus olhos encontraram os meus. Uma mensagem silenciosa passou entre nós.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022