Ele se virou para mim, seu rosto sombrio. "Ninguém vai ver essas fotos, Alana. Eu vou me certificar disso."
Suas palavras. Um tipo estranho de segurança. Mas torceu algo dentro de mim. Ele não estava me protegendo. Estava protegendo sua reputação. E a de Kiara.
Ele me levou de volta para a cobertura. Não para o hospital. Ele me queria fora dos olhos do público.
"Ligue para o Dr. Evans", ele latiu para o porteiro. "E ninguém deve nos perturbar."
Ele me deitou gentilmente na cama enorme do nosso quarto. Gentil. O mesmo homem que ficou parado enquanto eu era espancada. O homem que quebrou meu braço.
"Descanse", disse ele, sua voz mais suave agora. "Eu cuidei disso. Aquele desgraçado não vai incomodar mais ninguém."
Fechei os olhos. Cuidou disso. Eu sabia o que isso significava. Seu imenso poder, usado para esmagar qualquer um que ousasse cruzá-lo. Ou Kiara.
Uma febre ardente começou a se instalar. Meu corpo doía. Cada músculo gritava em protesto. Eu entrava e saía do sono, assombrada por imagens da minha casa desmoronando, da dor silenciosa da minha mãe, do sorriso triunfante de Kiara.
O telefone ao lado da cama tocou. Forcei meus olhos a abrirem. Kiara Vasconcelos.
Meus dedos, trêmulos, apertaram o botão de encerrar chamada. Eu não queria ouvir sua voz. Não agora. Nunca mais.
Mas o telefone vibrou um momento depois. Uma mensagem de texto. De Kiara.
*Não pense que está segura, Alana. O pequeno ato de resgate do Caio não muda nada. Sua mãe. Ela ainda está sozinha naquele posto de saúde, não está? Tão vulnerável. Qualquer coisa pode acontecer.*
Meu coração parou. Minha mãe. Ela estava ameaçando minha mãe.
Uma onda fria e gelada de fúria pura e não adulterada correu por minhas veias, afugentando a febre, a dor.
Saí da cama, ignorando os protestos das minhas costelas fraturadas. Meu braço quebrado pendia inutilmente ao meu lado. Eu não me importava. Nada importava além da minha mãe.
Eu meio que corri, meio que tropecei para fora da cobertura. As ruas abaixo se tornaram um borrão. Chamei um táxi, gritando o endereço do posto de saúde em Minas.
A viagem foi agonizante. Cada solavanco, cada curva, enviava novas ondas de dor pelo meu corpo. Mas o medo pela minha mãe, a necessidade ardente de protegê-la, me impulsionou para frente.
Quando cheguei à pequena cidade, o sol estava começando a se pôr. Encontrei o posto de saúde. Minha mãe estava segura. Ela estava dormindo.
Soltei um suspiro trêmulo. Mas a raiva não diminuiu. Kiara. Ela ousou ameaçar minha mãe. Minha mãe gentil e silenciosa.
Cerrei os punhos. Minha visão se afunilou. Eu conhecia um dos bares favoritos de Kiara na cidade. Um lugar mal iluminado e sofisticado onde ela costumava ir para relaxar, para se gabar.
Entrei em uma loja de conveniência. Meus olhos percorreram as prateleiras. Uma garrafa de uísque barato. Pesada. Sólida. Perfeita.
Paguei por ela, minhas mãos tremendo. Então caminhei em direção ao bar.
A música estava alta. As risadas, vazias. Empurrei a pesada porta de carvalho. Meus olhos imediatamente encontraram Kiara. Ela estava em uma mesa de canto, cercada por seus bajuladores habituais, rindo, com uma taça de champanhe na mão.
Seus olhos encontraram os meus. Seu sorriso vacilou. Então, um sorriso lento e malicioso se espalhou por seu rosto.
"Ora, ora", ela ronronou, sua voz se sobressaindo à música. "Olha só quem apareceu. Ainda inteira, Alana? Que pena."
Minha respiração prendeu. A garrafa parecia pesada e fria na minha mão.
"Você ameaçou minha mãe", eu disse, minha voz mal um sussurro, mas carregada de um veneno que eu não sabia que possuía.
Kiara riu. "Oh, querida, ameacei? Tenho certeza de que foi apenas um mal-entendido."
Uma névoa vermelha desceu sobre minha visão.
Com um grito primal, eu desci a garrafa. Com força.
Ela acertou a cabeça de Kiara. Um baque surdo. A garrafa se estilhaçou.
Sua risada morreu. Seus olhos reviraram. Ela caiu para frente. Sangue floresceu em seu cabelo perfeitamente penteado.
A música parou. As risadas morreram. Um silêncio atordoado caiu sobre o bar. Então, gritos. O caos irrompeu.
"Kiara!", alguém gritou.
Uma mão forte agarrou meu braço. Meu braço quebrado. Meu corpo gritou em protesto.
"Que diabos você fez, Alana?!", a voz de Caio rugiu no meu ouvido. Ele estava aqui. Claro.
Seu aperto se intensificou. Ouvi um estalo doentio. Uma nova onda de dor, mais aguda, mais excruciante do que qualquer coisa antes, atravessou-me. Meu braço. Ele o havia quebrado de novo. Deliberadamente.
Minha visão embaçou. Meu rosto perdeu toda a cor. Eu balancei.
Caio me sacudiu, seu rosto a centímetros do meu, contorcido em uma máscara de raiva. "Você poderia tê-la matado! Isso não era um jogo, Alana! Ela estava apenas brincando com você!"
Brincando. Minha casa. Minha mãe. Minha dignidade. Uma brincadeira.
"Brincando?", sussurrei, a palavra um soluço rouco. "Você chama isso de brincadeira?"
Kiara, agora sendo cuidada por seus amigos, se mexeu. Seus olhos se abriram. Ela me viu. Seu rosto, pálido e manchado de sangue, se contorceu em uma máscara de puro ódio. Mas então, um lampejo de astúcia. Ela começou a soluçar dramaticamente. "Ela... ela me atacou! Sem motivo!"
Caio me empurrou bruscamente para uma cadeira. Meu braço quebrado gritou.
"Fique aqui!", ele ordenou, seus olhos em chamas. "Não se mova. Vou chamar um médico para você. Mas primeiro, você vai pedir desculpas à Kiara."
Os outros no bar, tendo se recuperado do choque, agora me encaravam, uma mistura de medo e nojo em seus rostos. Eram amigos de Kiara. Amigos de Caio. Eles ficavam do lado da riqueza. Do poder.
Kiara, com a cabeça dramaticamente enfaixada, choramingou. "Minha cabeça... oh, minha pobre cabeça..."
Um de seus amigos, um homem loiro e alto, parou sobre mim. "Olha o que você fez, sua psicopata. Kiara estava apenas tentando se divertir. E você a atingiu com uma garrafa?"
Kiara, agora interpretando a vítima perfeitamente, fungou. "Está tudo bem, querido. Ainda podemos nos divertir. Vamos jogar um jogo. Um 'Jogo do Rei'. E o perdedor recebe uma punição. Ou... eles podem pagar para sair." Ela sorriu, um sorriso arrepiante e venenoso. "Mas Alana não pode usar o dinheiro do Caio. Ela tem que usar o dela. Se é que ela tem algum."
As risadas se espalharam pela multidão. Zombeteiras. Escarnecedoras.
"Oh, olhe para a interesseira", alguém zombou. "Tentando subir na vida. Agora ela é apenas um brinquedo quebrado."
Nas duas primeiras rodadas, as pessoas pagaram para sair, exibindo relógios de grife e maços grossos de dinheiro. Extravagante. Casual.
Então, minha vez. Eu perdi.
"Oh, céus", Kiara arrulhou, seus olhos brilhando. "Sem dinheiro para pagar sua saída, Alana? Que... típico do interior."
Mais risadas. Meu rosto queimou.
Kiara pegou um batom vermelho vivo. Ela se inclinou sobre mim, seus olhos brilhando com intenção maliciosa.
"Aqui está sua punição, querida", disse ela, sua voz doce como veneno. Ela desenhou um sorriso grotesco, de palhaço, no meu rosto. Uma monocelha. Um bigode.
"Agora", ela anunciou para a sala, "nossa pequena Alana ficará do lado de fora do bar por cinco minutos. Assim mesmo. Deixe todos verem quem ela realmente é."
Tentei me levantar, protestar. Mas a mão de Caio, pesada e inflexível, pressionou meu ombro.
"É só um jogo, Alana", ele murmurou, sua voz monótona. "Entre na brincadeira."
Eles me arrastaram para a porta. Meu rosto, manchado de batom vermelho, estava quente de vergonha. O ar frio da noite me atingiu. Eu era um espetáculo. Um motivo de chacota.
O jogo continuou lá dentro. Eu podia ouvir seus gritos. Outra rodada.
E então, meu nome novamente. Eu perdi. De novo.
"Oh, não de novo!", Kiara gritou, fingindo choque. "Isso é bom demais! Tudo bem, Alana, sua próxima punição é..." Ela fez uma pausa para efeito dramático, seus olhos varrendo a sala. "Você vai ficar de quatro. E vai latir como um cachorro."
Meu sangue gelou. Latir como um cachorro. Minha dignidade. Meu último resquício de auto-respeito.
"Não", sussurrei, minha voz tremendo. "Eu não vou."
Olhei desesperadamente para Caio. Ele estava do outro lado da sala. Meus olhos encontraram os dele. Eu supliquei. Eu implorei. Silenciosamente.
Ele não me viu. Ou escolheu não ver.
Ele estava beijando Kiara. Suas mãos estavam emaranhadas no cabelo dela. A cabeça dela, ainda enfaixada, inclinou-se para trás enquanto seus lábios se encontravam. Um beijo longo e apaixonado. Para todos verem. Para eu ver.
Meu coração se partiu em um milhão de pedaços.
Então, um chute forte. Na minha costela. De um dos amigos de Kiara.
"No chão, cachorrinha!", ele latiu. "Late para nós!"
Outro chute. Outro. Eles estavam me forçando a descer. De joelhos.
"O Caio não se importa com você, sua tola!", alguém gritou. "Ele nunca se importou! Você é apenas uma piada!"
Alguém pegou um celular. Gravando. Minha humilhação seria imortalizada.
Os chutes continuaram. Meu corpo gritava. Minha consciência vacilava.
Então, uma voz. Fraca. Distante. "Alana!"
Mas era tarde demais. A escuridão me engoliu por inteiro.