Beatriz o observou sair, depois voltou toda a sua atenção para mim. Seus olhos, astutos e avaliadores, examinaram meu rosto machucado.
"Você é uma garota esperta, Alana", disse ela, sua voz mais suave agora, mas ainda afiada. "Mais esperta do que Caio lhe dá crédito. Mais resiliente do que qualquer um nesta família espera."
Consegui um sorriso fraco. O elogio pareceu vazio, mas o apoio era real.
"Nosso acordo ainda está de pé", ela continuou. "O divórcio. Os fundos. As conexões. Minha palavra é minha garantia. E eu tenho recursos que nem mesmo Caio conhece."
Ela se inclinou mais perto, sua voz baixando para quase um sussurro. "Eu nunca aprovei sua origem. Mas eu respeito a força. E você, Alana, tem de sobra. Muito mais do que aquela garota Vasconcelos. Ou até mesmo meu próprio filho, ao que parece."
Depois disso, Caio não me visitou mais. A enfermeira, Sara, me disse que ele tinha sido visto parecendo distante, absorto em seu telefone. Provavelmente Kiara.
O hospital me deu alta alguns dias depois, meu braço em uma tipoia, meu corpo ainda dolorido. Fui levada de volta para a cobertura. O silêncio era ensurdecedor.
Para minha surpresa, o ciclo de notícias sobre meu "incidente" na festa havia diminuído. O nome de Kiara estava estampado em todos os lugares, mas não por sua suposta crueldade. Em vez disso, artigos elogiosos sobre seus "empreendimentos filantrópicos" e "gênio da moda" enchiam os feeds. Beatriz. Eu sabia. Ela estava distorcendo a narrativa. Protegendo o nome de sua família, mesmo que isso significasse enterrar o escândalo de Kiara.
Uma semana depois, Caio me convocou. Não para seu escritório. Para um evento público. Um baile de gala. Para uma das "instituições de caridade" de Kiara.
Era uma armadilha. Eu soube no momento em que o convite chegou. Ele estava me exibindo, um troféu quebrado, para mostrar ao mundo a suposta benevolência de Kiara. Meu braço ainda doía. Minhas costelas gritavam a cada respiração. Mas eu não lhes daria a satisfação de me ver completamente quebrada.
Vesti o vestido mais elegante que eu tinha, escolhido pela assistente de Beatriz. Era um verde esmeralda profundo, projetado para distrair do gesso no meu braço, que estava coberto por uma delicada manga de seda.
O baile era um espetáculo brilhante de riqueza e superficialidade. Kiara, radiante de branco, era a rainha da festa. Caio, ao seu lado, parecia quase orgulhoso.
Ele me acompanhou na entrada, seu aperto no meu braço ileso possessivo. Uma imagem perfeita de harmonia conjugal. Uma mentira.
Movemo-nos pela multidão, um sorriso forçado estampado no meu rosto. Kiara passou por nós, seus olhos brilhando de triunfo. Ela sussurrou: "Aproveite o show, Alana. É assim que a vitória se parece."
De repente, um garçom, sobrecarregado com uma bandeja de bebidas, tropeçou diretamente em mim. Uma cascata de vinho tinto espirrou no meu vestido.
"Oh, meu Deus!", o garçom gritou, genuinamente angustiado. "Sinto muito, Sra. Monteiro!"
Meu rosto queimou. Um acidente forçado. Claro. Obra de Kiara, sem dúvida. Os ecos daquela velha memória da universidade, o vinho derramado, os zombarias. Era uma reencenação deliberada. Uma humilhação pública. De novo.
Caio, sempre o cavalheiro em público, limpou meu vestido com um guardanapo. "Está tudo bem, Alana. Vá se limpar. Sara vai te mostrar onde."
Sara, a assistente de Beatriz, apareceu como se tivesse sido chamada. Ela me levou para longe, por um corredor silencioso, até um banheiro privativo.
Fechei a porta atrás de mim, tirei o vestido arruinado e comecei a limpar o vinho da minha pele. Meu braço latejava. Minha cabeça latejava.
De repente, a porta se abriu com um estrondo. Um homem que eu não reconheci, seu rosto corado, seus olhos selvagens, tropeçou para dentro. Ele estava claramente bêbado.
"Ora, ora, o que temos aqui?", ele arrastou as palavras, bloqueando a porta. "Um passarinho, sozinho e molhado."
O medo, frio e agudo, me atravessou. Eu estava seminua. Vulnerável.
"Saia!", eu disparei, puxando o vestido limpo para mais perto do meu corpo.
Ele riu, um som lascivo. Ele se lançou sobre mim. Suas mãos, fedendo a álcool, agarraram meu braço.
"Não se faça de difícil, querida", ele sussurrou, seu rosto perto demais. "Todo mundo sabe que você é apenas o brinquedinho do Caio. O que é mais um?"
A raiva, primal e protetora, explodiu dentro de mim. Eu não era um brinquedinho. Eu não era fraca.
Eu chutei. Com força. Meu pé acertou sua canela. Ele gritou, cambaleando para trás.
"Vadia!", ele rosnou, seus olhos agora cheios de malícia. Ele se lançou novamente, mais rápido desta vez.
Ele me derrubou no chão. Minha cabeça bateu no piso de azulejo com um baque surdo. O mundo girou. Seu peso me pressionou. Suas mãos rasgaram meu vestido.
Vergonha. Nojo. Fúria. Tudo se misturou em um coquetel aterrorizante.
Lutei com tudo que tinha. Minhas unhas arranharam seu rosto. Meu braço engessado, inútil, ainda tentava empurrá-lo para longe.
Ele rugiu de dor e frustração. Ele me deu um tapa. Forte. Minha cabeça virou para o lado. Estrelas explodiram atrás dos meus olhos.
Ele prendeu meu braço bom, rasgando minhas roupas. Eu estava indefesa. O desespero ameaçou me afogar. *É isso? É assim que termina?*
Nesse momento, a porta se abriu com um estrondo.
Uma figura escura se destacou contra a luz. Então, um borrão de movimento. O homem em cima de mim foi arrancado, jogado no chão. Um estalo doentio ecoou na pequena sala.
Eu estava ofegante, meu corpo machucado e trêmulo, meu vestido em farrapos.
Então, flashes. Uma enxurrada de luzes de câmera. Vozes gritando.
"É Alana Monteiro!"
"O que aconteceu aqui?"
"Aquele é Caio Monteiro? Em quem ele acabou de bater?"
Eu olhei para cima. Caio. Seu rosto era uma nuvem de tempestade de fúria. Ele estava sobre o homem, que choramingava no chão.
Kiara apareceu na porta, seus olhos arregalados, um suspiro escapando de seus lábios. Mas seu olhar não estava em mim. Estava nas câmeras. Seu rosto instantaneamente mudou para um de choque e preocupação fingidos.
"Oh, meu Deus, Alana!", ela gritou, sua voz um sussurro teatral. Ela cobriu a boca com a mão, depois se inclinou para um repórter próximo. "Isso é terrível! Ela sempre foi tão... frágil. Espero que ela esteja bem."
Suas palavras se contorceram em meu estômago. Frágil. Ela estava me pintando como uma vítima novamente. Mas uma fraca. Uma patética. E ela estava se certificando de que todos soubessem.
Ela encontrou meu olhar. Seu sorriso era como uma navalha. *Ele te salvou, Alana. Mas ele ainda é meu. Você ainda é apenas uma baixa no meu jogo.*
Uma nova onda de desespero me invadiu. Isso tinha sido planejado. Tudo. Outro espetáculo público. Outra maneira de me humilhar. Para mostrar o "heroísmo" de Caio. Para cimentar o controle de Kiara.
Caio se virou, seus olhos me encontrando no chão. Seu rosto se suavizou, um lampejo de preocupação genuína. Mas era tarde demais. Eu vi as cordas. Eu vi o mestre das marionetes.
Ele tirou o paletó do smoking, envolvendo-o em meus ombros trêmulos, cobrindo meu vestido rasgado. Ele me pegou nos braços, ignorando as câmeras piscando, ignorando os sussurros. Ele me segurou com força, me carregando para fora da sala, através da multidão chocada, e para fora do baile.
Meu rosto estava enterrado em seu peito. Senti o retumbar de seu coração. E então, as lágrimas vieram. Lágrimas quentes e silenciosas que escorreram pelo meu rosto, encharcando sua camisa.
Meu pai. Minha casa. Minha dignidade. Tudo se foi. Para quê? Para ser exibida, humilhada, espancada e depois "resgatada" pelo mesmo homem que permitiu que tudo acontecesse?
É isso que minha vida vale? É este o preço de ser pobre?