Seis Anos de Fantasma, Agora Real
img img Seis Anos de Fantasma, Agora Real img Capítulo 2
2
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

PONTO DE VISTA DE JULIANA BARROS:

Os olhos de Karina, arregalados com um medo que quebrou sua compostura habitual, saltaram do envelope em minha mão para o rosto enfurecido de Cristiano. Um suspiro estrangulado escapou dela. Ela instintivamente recuou, dando um passo para trás que o braço de Cristiano em sua cintura impediu.

O rosto de Cristiano se contorceu em nojo. Ele puxou Karina para mais perto, seu corpo um escudo entre nós. Seu olhar desdenhoso me perfurou. "Você enlouqueceu, Juliana? Que tipo de jogo doentio é esse? Você está estragando o aniversário da Karina." Sua voz era um rosnado baixo, destinado apenas aos meus ouvidos.

Eu o ignorei, empurrando o envelope na mão trêmula de Karina. "Feliz aniversário. Considere um presente de liberdade. A sua e a minha." O papel farfalhou com a força de seu aperto. Parecia quase poético, o jeito como sua mão tremia.

"Não é apenas um presente", continuei, minha voz ganhando força. "São os papéis do divórcio. E a confirmação de que interrompi a gravidez." Minhas palavras, ditas com uma calma arrepiante, cortaram a conversa festiva. Elas não foram feitas para serem educadas. Foram feitas para ferir.

Karina ofegou, um som agudo, quase teatral. Seu rosto empalideceu, a maquiagem cuidadosamente aplicada de repente se destacando contra sua pele acinzentada. O envelope escorregou de seus dedos, caindo no chão de mármore polido como um pássaro moribundo.

Cristiano me encarou, seus olhos arregalados de incredulidade. "Interrompeu... o quê? Você está mentindo, Juliana. Você não teria coragem." Ele tentou descartar, varrer a verdade para longe tão facilmente quanto varria meus sentimentos.

"Por que eu não teria?", encontrei seu olhar, sem vacilar. "Para abrir caminho para sua família perfeita? Para garantir que sua preciosa Karina não tenha que lidar com mais um dos 'meus' filhos correndo por aí?" Minhas palavras pingavam sarcasmo, uma borda afiada para o meu desespero. "Estou facilitando as coisas para vocês dois."

Karina soltou um pequeno gemido, a mão voando para a boca. Ela se abaixou para pegar o envelope, seus dedos desajeitados com o selo. Os convidados, que estavam sussurrando discretamente, agora olhavam abertamente, seus tons abafados ficando mais altos.

O rosto de Cristiano escureceu ainda mais. "Você acha isso engraçado, Juliana? Acha que pode simplesmente entrar aqui, fazer uma cena e exigir um pagamento? É isso? Alguma tentativa doentia de conseguir mais dinheiro no divórcio?" Sua acusação pairou no ar, uma nuvem vil de seu próprio cinismo.

Uma onda de tontura me atingiu, meu corpo protestando contra o esforço emocional e físico. Minha visão piscou, mas Cristiano não percebeu, ou não se importou. Seu foco estava inteiramente em mim, na ameaça percebida que eu representava para sua imagem cuidadosamente construída.

"Eu não quero seu dinheiro, Cristiano", eu disse, minha voz rouca. "Eu quero sair. Apenas assine os papéis. Você pode ficar com tudo. A casa, a empresa, até mesmo seu arranjo perfeito aqui." Gesticulei vagamente para Karina e o salão opulento.

Os sussurros se intensificaram. "Você ouviu isso?" "Ela interrompeu a gravidez?" "Coitada, o que ele fez?" A pena em suas vozes era quase tão dolorosa quanto o desprezo de Cristiano.

Os olhos de Cristiano se estreitaram, sua raiva fervendo. Ele arrancou os papéis do divórcio das mãos de Karina e os amassou em uma bola apertada. "Você não vai conseguir um centavo de mim, Juliana! E com certeza não vai se divorciar de mim assim." Ele estava perdendo o controle, sua fachada pública rachando.

"Pare com esse teatro maluco, Juliana", ele cuspiu. "Você está se envergonhando. Vá para casa. Podemos falar sobre... compensação... mais tarde." Ele tentou me afastar, sua mão empurrando meu braço.

Eu me afastei, meu olhar inabalável. "Não há nada a discutir. Eu cansei. Estou indo embora. Você e Karina podem ter seu felizes para sempre. Eu só preciso que você assine isso. Agora." Apontei para a bola amassada que ele ainda segurava. A urgência em minha voz era inconfundível.

O rosto de Cristiano era uma nuvem de tempestade, escura e ameaçadora. Ele olhou para os papéis amassados, depois para mim, como se tentasse calcular seu próximo movimento. O silêncio no salão era ensurdecedor, todos os olhos em nós.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022