Os olhos de Cristiano, já ardendo de fúria, endureceram ainda mais. A ideia de escândalo, de sua vida cuidadosamente curada se desfazendo, acendeu uma raiva fria dentro dele. Sua performance pública era tudo. E eu estava ameaçando derrubar tudo.
"Tirem ela daqui", ele rosnou, sua voz baixa e ameaçadora. Seu olhar se fixou em um de seus seguranças, um comando silencioso.
Antes que eu pudesse reagir, dois brutamontes estavam ao meu lado, suas mãos agarrando meus braços. O pânico explodiu, mas minha determinação permaneceu. "Me soltem!" Eu lutei, mas o aperto deles era como ferro.
"Vocês estão me machucando! Eu acabei de passar por um procedimento!", gritei, minha voz tensa. A ferida ainda estava fresca, repuxando dolorosamente a cada movimento. Meu corpo gritava em protesto.
Cristiano zombou, um som cruel e desdenhoso. "Procedimento? Você quer dizer seu teatrinho para chamar atenção? Você nunca esteve grávida, Juliana. Você só quer se fazer de vítima." Suas palavras foram um golpe físico, mais pesado que qualquer soco. Ele negou minha dor, meu sacrifício, minha própria realidade.
"Sempre foi pelo dinheiro, não é?", ele continuou, sua voz pingando veneno. "Outro filho por outro pagamento da minha mãe. Você me dá nojo."
Minha mente girou. A dor no meu abdômen se intensificou, um fogo ardente. Suas palavras cortaram mais fundo que qualquer lâmina. Ele distorceu tudo o que eu já havia feito por nossa família, por ele, em algo sórdido e transacional.
Meus pensamentos se desviaram, uma fuga desesperada do horror presente. Meu pai, seus olhos gentis nublados pela doença, sua mão frágil na minha. Minha mãe, seu rosto marcado pela preocupação, me contando sobre as contas, as contas intermináveis.
A mãe de Cristiano, Clarice, havia oferecido então. Uma quantia generosa, o suficiente para cobrir o tratamento experimental do meu pai, se eu me casasse com Cristiano. Ela queria uma linhagem forte, um herdeiro. Eu era jovem, tola e desesperada. Eu aceitei. Então meu pai morreu de qualquer maneira. Mas eu já estava grávida de Caio, uma pequena centelha de esperança em meu mundo desolado. Clarice havia prometido um bônus pela prole, uma continuação da linhagem familiar. Parecia uma vida inteira atrás. Uma ferida aberta, infeccionando sob a superfície.
Agora, eu estava sendo publicamente humilhada, suspensa no pergolado, como um enfeite quebrado, no centro do luxuoso salão de festas. Meu corpo era um instrumento de seu desprezo. As cordas cortavam minha pele. A ferida no meu abdômen latejava implacavelmente.
Os convidados olhavam boquiabertos, seus murmúrios ficando mais altos, seus olhares como mil pequenas facas. "Ela merece", ouvi uma mulher sussurrar. "Tentando extorquir ele. Que interesseira." Outra concordou: "Ela sempre foi meio fria, não é? Não como a doce Karina." O julgamento deles era uma mortalha pesada, envolvendo-me, sufocando-me.
Através da névoa de dor e humilhação, vi Cristiano, seu braço ainda ao redor de Karina, sorrindo. Eles pareciam um casal perfeito, sua mão acariciando o cabelo dela, a dela repousando em seu peito. Era uma caricatura do amor que um dia compartilhamos, uma paródia brutal do dia do nosso casamento. Lembrei-me de dançar com ele, seus olhos cheios de uma promessa que agora parecia uma decepção cruel. Seu toque, antes tão terno, agora uma memória distante e dolorosa.
O ar ficou rarefeito. Minha cabeça latejava. O mundo girava ao meu redor, um caleidoscópio de rostos zombeteiros e luzes ofuscantes. Senti-me desapegada, flutuando acima da cena, assistindo à minha própria degradação. Um entorpecimento oco começou a se instalar, uma casca protetora se formando ao redor do meu coração despedaçado.
De repente, uma figura pequena e familiar abriu caminho pela multidão. Caio. Ele segurava um pequeno bolo confeitado, seu rosto iluminado por uma excitação infantil. Ele parou de repente, seus olhos se fixando em mim, pendurada acima da multidão.
"Mãe?" Sua voz era pequena, confusa.
Meu coração, que eu pensei já ter virado cinzas, se contorceu com uma nova onda de agonia. Ele olhou para mim, depois para Cristiano e Karina, a testa franzida.
"Mãe, o que você está fazendo?", ele perguntou, uma ponta de irritação em seu tom. "Aniversário da Karina! Você está estragando tudo!" Suas palavras, atadas com o veneno da amante de seu pai, atingiram com uma força devastadora. Ele me acusou, novamente, de ser o problema.
Ele não esperou por uma resposta. Ele passou por mim, ignorando minha forma suspensa, e apresentou o bolo a Karina. "Feliz aniversário, Karina!", ele exclamou, seu sorriso largo e genuíno. "Papai e eu ajudamos a escolher."
Fechei os olhos, uma única lágrima escapando. O mundo ficou em silêncio, a dor em meu corpo se transformando em uma pulsação surda. Tinha acabado. Tudo. A esperança, o amor, a luta. Não havia mais nada. Meu filho, minha própria carne e sangue, os havia escolhido.
Abri os olhos para ver Karina, um sorriso triunfante agora enfeitando seus lábios, levantar uma taça de champanhe em minha direção. Cristiano estava ao lado dela, a mão apoiada no ombro de Caio. Eles eram uma frente unida, uma trindade perfeita e vil.
E eu, Juliana Barros, a esposa descartada, a mãe envergonhada, pendia ali, um testamento de sua vitória. Minha derrota era completa.