As cordas foram afrouxadas, e eu desabei no chão, um amontoado de dor e vergonha. Meus membros gritavam em protesto, meu abdômen um fogo ardente. Tentei me levantar, mas meu corpo se recusou, caindo de volta no chão de mármore frio. Fiquei ali ajoelhada, ofegante, minha visão turva.
Cristiano parou sobre mim, sua sombra longa e ameaçadora. "Ainda se fazendo de vítima, Juliana?" Seu tom era carregado de desprezo. "Você fez sua cama. Agora deite nela. E não pense por um segundo que não vou fazer você pagar pela cena que causou esta noite." Seus olhos eram de gelo, desprovidos de qualquer calor, de qualquer reconhecimento da mulher que ele um dia afirmou amar. Eu era uma criminosa em seu olhar, nada mais.
Caio, ainda segurando uma pequena lembrancinha da festa, parou ao lado de seu pai. Ele olhou para mim, seu rosto uma máscara infantil de aborrecimento. "Mãe, por que você sempre tem que causar problemas? Primeiro em casa, agora aqui. A Karina ficou tão chateada." Ele balançou a cabeça, um gesto que deve ter aprendido com o pai. "A Karina é muito mais legal. Ela entende as coisas. Você só... você não entende."
Minha respiração ficou presa. Meu próprio filho. Meu coração, já uma ferida aberta, foi rasgado ainda mais. Ele era um imitador, refletindo a crueldade deles de volta para mim. Olhei para o trio - Cristiano, Karina e Caio - parados juntos, unidos contra mim. Eles eram uma fortaleza de dor, e eu estava do lado de fora, completamente sozinha.
Com um esforço sobre-humano, me levantei, cada músculo gritando em protesto. Balancei por um momento, depois me endireitei, recusando-me a desabar novamente. Meus olhos encontraram os papéis do divórcio amassados, descartados como lixo no chão. Eu os peguei, alisando os vincos com os dedos trêmulos.
"Eu vou me divorciar de você, Cristiano", eu disse, minha voz rouca, mas firme. "Acabou. Eu já dividi os bens. De forma justa. Não quero um centavo a mais do que é legalmente meu. Sem briga. Sem drama. Apenas assine." Minha determinação era absoluta, uma barra de aço atravessando meu corpo quebrado.
A expressão de Cristiano mudou, um lampejo de surpresa em seus olhos frios. Ele não esperava essa determinação silenciosa, essa falta de avareza. Ele esperava uma briga, um apelo por dinheiro.
"Divórcio?", Caio interveio, sua voz incerta. "Mãe, você não pode se divorciar do papai! Onde vamos morar? Quem vai pagar pela minha escola? A Karina disse que você nem tem emprego." Suas perguntas inocentes, envenenadas pela influência insidiosa de Karina, pareciam um novo ataque. Ele descartou a infidelidade de Cristiano, sua crueldade, como se não fossem nada.
Minha mente voltou a inúmeras noites na cozinha, ensinando Caio a fazer seus biscoitos favoritos, contando histórias para dormir, cuidando de joelhos ralados. Os anos que dediquei a ele, os sacrifícios que fiz por sua felicidade, por nossa família. Minha carreira, meus sonhos, tudo adiado por ele. E agora, ele me via como um fardo, uma responsabilidade financeira.
Uma risada amarga escapou de mim. Era um som oco, vazio. "Você está certo, Caio", eu disse, minha voz desprovida de emoção. "Você pode ter sua nova família. Eu não vou ficar no seu caminho." As palavras tinham gosto de cinzas.
Cristiano deu um passo à frente, seus olhos se estreitaram. "Juliana, pare de falar bobagens na frente do Caio. Saia daqui. Conversaremos sobre isso amanhã, quando você se acalmar." Ele tentou agarrar meu braço, para me remover fisicamente da cena.
Eu me afastei bruscamente. "Eu já me acalmei, Cristiano. E não vou a lugar nenhum com você." Meu olhar encontrou o dele, inabalável.
Ele cerrou a mandíbula, seus olhos ardendo. "Você ainda é minha esposa, Juliana Barros Medeiros. E você vai voltar para casa comigo. Estou disposto a perdoar seu pequeno chilique e suas... escolhas infelizes. Agora, vamos." Ele falou como se estivesse me concedendo um grande favor, como se eu tivesse alguma escolha no assunto. Sua arrogância era de tirar o fôlego.
Eu não disse nada. Não havia mais nada a dizer. Meu silêncio era minha única arma agora, uma recusa em me envolver em sua realidade distorcida.
Ele me arrastou pela casa silenciosa, seu aperto machucando. Quando chegamos ao nosso quarto, a porta estava entreaberta. E então eu a vi. Karina. Suas malas estavam desfeitas, suas roupas já se misturando com as de Cristiano no armário. Seu perfume, aquele cheiro enjoativo, sufocava o ar. Ela estava em casa. Na minha casa.
Caio, que nos seguiu, correu direto para Karina, jogando os braços ao redor dela. "Karina, você está bem? A mamãe foi tão má." Ele olhou para ela, seus olhos cheios de adoração.
Karina acariciou seu cabelo, um sorriso sacarino no rosto. "Estou bem, querido. Sua mãe simplesmente não entende."
Caio assentiu. "É. Ela nunca me deixa ter o que eu quero. Mas você deixa. Você é a melhor." As palavras foram uma flecha, perfurando os últimos fios frágeis da minha esperança. Ele preferia a gratificação instantânea que Karina oferecia aos anos de amor incondicional que eu havia derramado sobre ele.