Capítulo 4 O HOMEM POR TRÁS DO TÍTULO

O escritório de Bryan era tão silencioso que Valentina conseguia ouvir o leve som do vento batendo nos vidros. Ela havia sido chamada ali minutos após a reunião - e por mais que tentasse, não conseguia decifrar o motivo.

Ele estava de costas para ela, observando a cidade através das janelas imensas.

O terno perfeitamente alinhado, as mãos nos bolsos, os ombros tensos.

Não era o Bryan seguro, calculado, inatingível que todos conheciam.

Havia algo... contido ali.

- Feche a porta - disse ele, sem virar.

Ela obedeceu, tentando manter o coração sob controle.

- Aconteceu algo? - perguntou, cuidadosa.

Ele demorou alguns segundos antes de responder.

- Aconteceu, sim.

Valentina franziu o cenho.

Ele finalmente se virou.

E o que ela viu fez o ar prender em seus pulmões.

Os olhos dele - normalmente frios - estavam escuros, intensos, carregados de algo que ela ainda não conseguia nomear. Não era raiva. Não era tensão profissional.

Era pessoal.

Profundamente pessoal.

- Você está causando um problema para mim, Valentina - ele disse, a voz baixa, grave, firme.

Ela se manteve ereta.

- Se fiz algo errado, prefiro que diga claramente.

Ele respirou fundo, avançando um passo.

Depois outro.

Ela não recuou.

Não sabia se por coragem... ou por algo que queimava devagar dentro do peito.

- Não é o que você faz - ele disse. - É o que você é.

Valentina engoliu em seco.

- Não entendo.

Bryan parou tão próximo que ela sentiu o cheiro dele - amadeirado, sofisticado, perigoso.

Mas, novamente, ele não tocou nela.

- Eu não gosto de distrações - continuou. - Não gosto de perder o foco. Não gosto de... falhas.

- E eu sou o quê? - ela perguntou, com o queixo erguido.

Ele inclinou o rosto levemente, como quem escolhe cada palavra com extremo cuidado.

- Você é uma falha no meu controle.

O coração dela bateu tão forte que quase doeu.

- Isso não faz sentido, Sr. Bryan. Trabalhamos juntos há menos de dois dias.

- Exatamente - ele disse, firme. - E você já consegue me tirar do eixo.

Ela sentiu a respiração acelerar, mas manteve a expressão forte.

- Não é profissional misturar...

- Não estou misturando nada - ele a interrompeu, dando um passo ainda mais próximo, a voz mais baixa. - Estou tentando evitar que aconteça.

Valentina sentiu um arrepio completo percorrer sua espinha.

Ele estava tão perto.

Tão tenso.

Tão... vulnerável, mas de um jeito que só aparecia em homens acostumados a nunca demonstrar nada.

- O que exatamente você está tentando evitar? - ela perguntou, a voz quase num sussurro.

Bryan sustentou o olhar.

Por muito tempo.

Até que finalmente respondeu:

- Estou tentando evitar que você veja o homem que eu realmente sou.

O silêncio entre eles ficou pesado.

Valentina segurou o ar.

- E por que eu ver isso seria um problema? - ela questionou, sem desviar.

O maxilar dele se moveu, como se ele estivesse lutando contra algo interno.

- Porque quando as pessoas veem quem eu sou... elas não ficam.

As palavras ficaram presas no ar como um segredo que ele jamais deveria ter dito.

Valentina sentiu algo apertar no peito - empatia, curiosidade, dúvida.

Mas também algo mais profundo: a sensação de que havia muito, muito mais sobre Bryan Ellison do que a fachada de aço que ele mostrava.

- Eu não sou "as pessoas", Bryan.

Ele fechou os olhos por um segundo. Só um segundo.

Quando abriu, o controle habitual já estava de volta - mas não totalmente.

- Isso é exatamente o que me preocupa - ele disse.

Valentina deu um passo atrás, por reflexo.

Ele percebeu e a observou como se cada gesto dela tivesse importância.

Bryan então respirou fundo, passou a mão pelo cabelo - um gesto raro, humano, quase vulnerável - e voltou para trás da mesa.

- Você está dispensada por enquanto - disse, retomando o tom de CEO. - Antes que eu diga algo que não deveria.

Valentina ficou imóvel por alguns segundos.

Ele não a encarou novamente, como se temesse o que poderia acontecer se o fizesse.

Ela caminhou até a porta.

A mão já estava na maçaneta quando ele falou, baixo, quase para si mesmo:

- Você não faz ideia do que está despertando aqui.

Valentina fechou os olhos.

O impacto das palavras dele atravessou-a como um eletricidade silenciosa.

E, por um instante, ela se perguntou se aquela tensão entre eles não era perigosa...

Ou inevitável.