A mão de Atlas apertou o celular com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Seus olhos, geralmente frios e calculistas, agora continham uma centelha de choque genuíno.
- Do que você está falando, Torres? - exigiu ele, a voz caindo para um sussurro áspero.
Cátia, relaxada no sofá de pelúcia, inclinou a cabeça.
- Quem é, querido? A Elisa sendo dramática de novo? - Ela estendeu a mão para o telefone, um brilho brincalhão nos olhos. - Deixa eu falar para ela parar de te incomodar.
Atlas puxou a mão de volta, fuzilando-a com o olhar.
- Fica fora disso, Cátia. - A voz dele era baixa, carregada com uma tensão desconhecida. Ele se virou, pressionando o telefone com mais força contra o ouvido. - Torres, o que ele encontrou? Fala logo.
Cátia, irritada com a súbita mudança de atenção dele, zombou.
- Provavelmente apenas uma daquelas bonecas ridículas dela. Sempre bagunçando as coisas. Sinceramente, ela é um fardo tão grande. Você pensaria que ela aprenderia a simplesmente ficar onde mandam.
Eu aprendi a ficar onde mandaram, minha voz fantasmagórica sussurrou. Eu fiquei no porta-malas. Sozinha. No escuro. E eu morri lá. Minha forma espectral tremia com uma fúria silenciosa e impotente. Eles não podiam me ouvir. Eles nunca puderam.
O rosto de Atlas se contorceu, uma mistura de descrença e horror crescente.
- Não - ele respirou, os olhos arregalados e fixos no nada. - Não, isso é impossível. Ela provavelmente está apenas se escondendo. Ela faz isso, joga joguinhos. - Ele socou a parede, um baque oco ecoando na suíte de luxo. - Droga, Elisa! Para com isso! Isso não tem graça!
Lá embaixo, a comoção havia atraído uma pequena multidão. Sussurros percorriam o saguão. Alguns hóspedes do hotel olhavam para cima, suas expressões variando de curiosidade a desaprovação.
Cátia, vendo a atenção, recompôs-se rapidamente. Ela caminhou até Atlas, colocando a mão no braço dele.
- Não deixe ela te atingir, querido - arrulhou ela, a voz doce e enjoativa. - Ela se alimenta de drama. Provavelmente é apenas uma pegadinha. Ela sabe como manipular as pessoas. - Ela lançou um olhar venenoso para mim, a eu invisível, como se me desafiasse a refutá-la. - Ela sempre torna as coisas tão difíceis.
Atlas sacudiu a mão dela, os olhos ainda distantes.
- Ela não é difícil, Cátia. Ela é... simples. Como uma criança. - Ele passou a mão pelo cabelo, a testa franzida em confusão. - Mas ela não iria... ela não iria simplesmente desaparecer.
- Ah, ela iria com certeza! - insistiu Cátia, a voz subindo de tom. - Lembra daquela vez que ela espalhou tinta no seu carro novo e culpou o cachorro? Ou quando ela "acidentalmente" derramou café no meu vestido favorito? Ela é uma mestre manipuladora, Atlas. Não se deixe enganar por esse ato inocente. Ela é mais esperta do que deixa transparecer, especialmente quando se trata de conseguir o que quer.
Isso não é verdade! Minhas mãos espectrais se fecharam. Eu nunca fiz essas coisas! Você fez! Você me disse que era um jogo. Você me mandou fazer! Uma onda de calor, como fogo, varreu minha forma intangível. A injustiça, as mentiras descaradas, faziam minhas lágrimas fantasmagóricas queimarem.
Atlas, no entanto, parecia absorver as palavras de Cátia como se fossem verdade. Seus olhos endureceram, uma frieza familiar retornando a eles.
- Uma mestre manipuladora - repetiu ele, um gosto amargo na boca. - Todo esse tempo... e eu ainda não consegui me livrar dela. Se ao menos eu a tivesse mandado embora antes. Se ao menos... - Sua voz sumiu, cheia de um arrependimento súbito e profundo, não por mim, mas por sua própria inação.
Meu mundo, já despedaçado, estilhaçou-se ainda mais. A pequena e tola esperança de que ele pudesse, apenas pudesse, se importar, desapareceu no ar. Mamãe estava errada. Ser boazinha não fez ele me amar. Só me tornou mais fácil de machucar. Meu coração ingênuo, antes tão cheio de desejo, agora parecia oco, uma casca vazia. Eu tinha dado tudo, até minha vida, por um amor que nunca existiu. E no final, foi tudo em vão.
Eu quero ir embora, pensei, uma súplica desesperada e silenciosa. Não quero mais ver isso. Só quero ir para casa. Mas "casa" era um lugar que eu não tinha mais. E eu estava presa, acorrentada a este inferno vivo, uma testemunha silenciosa e invisível da minha própria obliteração.
Uma batida seca e autoritária martelou contra a porta da suíte, fazendo Atlas pular. Não era a batida tímida de um funcionário do hotel. Esta era firme, exigente.
Atlas caminhou até a porta, o rosto uma máscara de aborrecimento.
- Quem é? - ele retrucou, abrindo-a.
Dois homens em uniformes escuros estavam no corredor. Seus rostos eram graves, suas expressões ilegíveis. Um segurava um pequeno bloco de notas, o outro, um olhar severo.
- Sr. Atlas Ferraz? - perguntou o primeiro homem, a voz profunda e formal. - Sou o Delegado Mendes, este é o Oficial Reis. Estamos aqui a respeito de sua esposa, Elisa Ferraz.
Atlas zombou, uma risada sem humor escapando de seus lábios.
- Minha esposa? Ela provavelmente está brincando de esconde-esconde. Ela sempre faz essas cenas. Diga a ela para parar. Não tem graça. - Ele tentou fechar a porta, mas o pé do Delegado Mendes o impediu.
- Sr. Ferraz - disse o Delegado Mendes, a voz plana. - Houve um incidente. Sua esposa, Elisa Ferraz, foi encontrada morta no compartimento de carga de sua SUV.
As palavras pairaram no ar, pesadas e frias. Atlas olhou fixamente. Seus olhos, presos no rosto do delegado, estavam vazios.
- Morta? - repetiu ele, a palavra soando estranha em sua língua. - Não. Isso... isso não é possível. Ela está aqui. No quarto. Ela provavelmente está apenas me ignorando. - Ele gesticulou descontroladamente ao redor da suíte vazia. - Elisa! Pare de ser infantil! Abra a boca e me responda! - Ele gritou, sua voz ecoando pela sala silenciosa. - Elisa, não se atreva a me ignorar! Saia agora!