Atlas parou na porta, o rosto uma máscara contorcida de descrença e raiva.
- Elisa! - ele berrou para a suíte vazia, a voz em carne viva. - Isso não tem graça! Pare de se esconder! Você ouviu o homem, eles acham que você... se foi. Saia agora e prove que eles estão errados! - Ele soava como um pai frustrado, não um marido de luto.
Ah, Atlas, seu homem tolo, pensei, minha forma espectral pairando ao lado dele. Eu saí. Meu sangue saiu. Minha vida saiu. Mas não posso sair para você agora. É tarde demais. Uma dor oca se instalou no meu peito inexistente.
O Delegado Mendes deu um passo à frente, sua expressão inalterada.
- Sr. Ferraz, não há ninguém aqui. Já verificamos o quarto. - Sua voz era calma, cortando os gritos frenéticos de Atlas como o bisturi de um cirurgião.
Atlas girou, os olhos em chamas.
- Não! Vocês estão errados! Ela está aqui! Ela tem que estar! A Elisa está sempre pregando peças. - Ele olhou para Cátia, depois para Torres, que aparecera silenciosamente na porta atrás dos policiais. - Diga a eles! Diga a eles que a Elisa está no quarto dela. Diga a eles que ela fez o check-in.
Os olhos de Cátia dispararam entre Atlas e os detetives. Ela mordeu o lábio, um lampejo de pânico em sua fachada geralmente composta.
- Eu... bem, eu presumi que ela faria - gaguejou ela, a voz fina. - Quero dizer, o Atlas disse que ela deveria ir para o quarto dela.
Torres, no entanto, encontrou o olhar de Atlas com uma expressão sombria e inabalável.
- Chefe - começou ele, a voz baixa e pesada -, a equipe... eles confirmaram. Ela nunca saiu da SUV. Nem enquanto estava no estacionamento do manobrista, nem quando descarregaram. Ela estava... ainda no porta-malas.
As palavras atingiram Atlas como um golpe físico. Ele oscilou, a mão agarrando o batente da porta para se apoiar. Seu rosto, já pálido, tornou-se cinza.
- O quê? - ele grasnou, a palavra mal sendo um sussurro. - O que você está dizendo?
Ele avançou em Torres, agarrando a frente de seu paletó caro. Seus olhos eram selvagens, desesperados.
- Você disse que cuidou disso! Você disse que ela tinha ido embora! Onde ela está, Torres? O que você fez com ela?
Torres, geralmente imperturbável, recuou sob o aperto desesperado de Atlas.
- Chefe, eu... eu fiz os arranjos. Mas ela deveria ser deixada depois que chegássemos. O plano era... ela ainda estava no veículo. - Ele desviou o olhar, incapaz de encontrar o olhar ardente de Atlas.
Atlas soltou Torres, as mãos tremendo. Ele olhou ao redor descontroladamente, os olhos pousando no manobrista que havia se aproximado inicialmente da suíte. O jovem estava congelado, aterrorizado.
- Onde estão as chaves? - exigiu Atlas, a voz rouca. - Me dê as malditas chaves! - Ele as arrancou das mãos do manobrista, atrapalhando-se com o controle remoto, pressionando o botão de destravar.
Ele saiu tropeçando da suíte, murmurando para si mesmo:
- Elisa, sua pirralha. Você vai pagar por isso. Você sempre faz isso. - Ele se movia com uma urgência desesperada, o corpo tremendo, meio correndo, meio tropeçando pelo corredor opulento. Ele ainda não acreditava. Ele não podia.
Meu eu fantasmagórico flutuava atrás dele, um observador silencioso de seu desmoronamento. Ele estava lutando contra a verdade, assim como lutou contra a verdade da minha existência por tanto tempo.
Ele chegou ao elevador, esmurrando impacientemente o botão para descer. A descida pareceu agonizantemente lenta. Cada andar que passava parecia aprofundar as linhas de medo e confusão em seu rosto. Ele murmurava, uma sequência de maldições incoerentes e súplicas desesperadas.
- Elisa, pelo amor de Deus, me responda. Onde você está? Pare com isso. Pare com isso agora!
As portas do elevador se abriram com um silvo, revelando o saguão brilhantemente iluminado. O Delegado Mendes e o Oficial Reis já estavam lá, esperando. Atlas os ignorou, os olhos varrendo a grande entrada, como se eu pudesse aparecer de repente por trás de uma palmeira em um vaso.
- Onde ela está? - exigiu ele, agarrando o Delegado Mendes pelo braço. Sua voz tinha um tom histérico agora. - Ela não está no quarto! Ela não está aqui! Onde vocês a colocaram?
O Delegado Mendes removeu gentilmente, mas com firmeza, a mão de Atlas. Sua voz permaneceu calma, quase irritantemente calma.
- Sr. Ferraz, ela está onde dissemos que estava. No compartimento de carga do seu veículo. - Ele ergueu um saco plástico transparente. Dentro, havia um pequeno medalhão antigo, prateado e manchado, com uma pequena gravação na parte de trás. Meu medalhão.
Atlas olhou para ele, a respiração presa na garganta. Seus olhos, pela primeira vez, pareciam ver de verdade. Meu medalhão. Aquele que a Mamãe me deu. Aquele que eu nunca tirava. Aquele que eu segurava todas as noites, mesmo na escuridão do porão. Estava frio, imóvel e inegavelmente meu. A verdade, nua e implacável, estava finalmente começando a penetrar a casca protetora de sua negação.