Cheguei à minha mesa, o zumbido familiar do departamento de marketing um som monótono nos meus ouvidos. Eu nem tinha tido tempo de fazer login antes que meu chefe, o Sr. Almeida, um homem gentil, mas perpetuamente estressado, me chamasse para seu escritório. O rosto dele estava marcado com um pedido de desculpas que eu quase não queria ouvir.
- Camila - começou ele, a voz baixa, enquanto empurrava um documento pela mesa. Era minha avaliação de desempenho anual, mas não apenas uma avaliação qualquer. Era um rebaixamento formal, mascarado como uma "reestruturação". Meu bônus era uma fração do que deveria ter sido, meu pagamento congelado, minha trajetória ascendente estagnada. De novo. - Sinto muito, Camila. Eu lutei por você. Você merece muito mais. Seus números são estelares, suas campanhas entregaram consistentemente acima das expectativas. Mas... está fora das minhas mãos.
Ele parecia genuinamente de coração partido, passando a mão pelo cabelo ralo.
- Eu esperava recomendar você para minha posição, sabe. Quando eu eventualmente me aposentar. Você é o talento mais brilhante que temos aqui.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios. Talento mais brilhante, atolado na lama. Enfiei a mão na bolsa e tirei um envelope branco e nítido. Minha carta de demissão. Deslizei-a pela mesa.
O Sr. Almeida olhou para ela, os olhos arregalados de choque.
- Camila? O que é isso? Você não pode estar falando sério. Depois de todos os seus anos aqui, todo o seu trabalho duro...
- Oito anos, Sr. Almeida - corrigi, minha voz plana. - Oito anos dando tudo a esta empresa, apenas para ser sistematicamente subvalorizada, ignorada e abertamente sabotada.
Ele olhou para mim, um lampejo de compreensão nos olhos. Ele sabia. Ele não sabia quem, mas sabia que algo estava errado. Todos sabiam. Eles apenas não ousavam falar.
Minha mente vagou de volta. Caio, no início do nosso relacionamento, balançou a cenoura do casamento. "Prove seu valor, Camila. Dedique-se à empresa, mostre-me que você é uma parceira em todos os sentidos da palavra, e então... então podemos falar sobre o para sempre." Eu acreditei nele. Acreditei em cada palavra. Derramei minha alma no meu trabalho, lutando por cada promoção, cada bônus, cada reconhecimento, acreditando que cada conquista era um passo mais perto do "para sempre" com Caio. Trabalhei até tarde, assumi projetos extras, entreguei campanhas inovadoras. Eu era boa. Eu sabia que era boa.
Mas as promoções nunca vieram. Os aumentos eram insignificantes. Os bônus, inexplicavelmente, sempre muito abaixo do que me foi prometido, muito abaixo do que meus colegas, mesmo aqueles com desempenho inferior, recebiam. Eu tinha questionado isso, é claro, muitas vezes. Para Caio.
- Camila - dizia ele, a voz carregada de paciência paternalista -, talvez você não esteja vendo o quadro completo. Talvez seu conjunto de habilidades não seja tão... avançado quanto você acredita. Ou talvez você simplesmente não seja agressiva o suficiente. Este é um ambiente competitivo, querida. Você precisa lutar por isso. - Ele até insinuou que eu era emotiva demais, sensível demais para o mundo cruel do avanço corporativo. - Não deixe seus sentimentos nublarem seu julgamento, Camila.
Meu coração virou gelo na primeira vez que ele disse isso, descartando meus esforços genuínos como meros surtos emocionais. Essa foi a primeira rachadura verdadeira na minha devoção a ele. Eu ansiava por validação, reconhecimento pelo meu trabalho duro e, mais do que tudo, sua crença inabalável em mim. Eu queria ser sua parceira, na vida e nos negócios, me sentir valorizada, protegida. Mas as palavras dele me pintaram como incompetente, excessivamente emotiva, um fracasso.
A dor voltou, não uma dor surda, mas uma sensação aguda e lancinante no peito. Era uma manifestação física de anos de frustração reprimida, de morder a língua, de engolir meus sonhos. Minha visão embaçou, lágrimas quentes borrando as bordas do rosto preocupado do Sr. Almeida. Senti um soluço se formando na garganta, ameaçando explodir. Eu não podia desmoronar aqui. Não agora. Não na frente dele.
- Eu... preciso de um momento - engasguei, me afastando da mesa. Eu precisava escapar, esconder essa inundação crua e embaraçosa de emoção. Virei-me e fugi do escritório dele, mal registrando seu chamado assustado atrás de mim, meu destino claro: o banheiro feminino. Um lugar para me afogar na minha vergonha, sem ser vista.