E para quê? Para ser descartada, dispensada e, agora, publicamente humilhada. Meu irmão se foi, minha carreira era uma piada, e o homem que eu amava estava dormindo com a assistente. O peso de tudo isso era sufocante.
- Eu não... não aguento mais isso - sussurrei, as palavras engasgadas e quebradas. - Não consigo.
Uma súbita explosão de vozes do lado de fora da cabine cortou meu desespero. Passos se aproximaram, depois pararam logo do lado de fora. Duas mulheres do escritório. Reconheci as vozes. Sara da contabilidade e... Daniela. Minha respiração prendeu na garganta. Pressionei-me contra a parede fria, o coração martelando, cada terminação nervosa gritando.
- Você ouviu? - A voz de Sara era sussurrada, animada. - O Sr. Almeida está saindo. Vai abrir sua própria consultoria. E todo mundo pensou que a Camila ficaria com o cargo dele. Quer dizer, ela praticamente dirige o departamento há anos.
A risada de Daniela foi afiada, quebradiça, cortando o ar como vidro.
- Camila? Por favor. Aquela interesseira ingrata? O Sr. Ferraz nunca a deixaria chegar perto de um cargo de gerência sênior. Especialista em marketing é tudo para o que ela serve. E mal isso, se você me perguntar.
Meu sangue gelou. Interesseira? Ingrata? Cerrei os punhos, as unhas cravando nas palmas das mãos.
- Mas... ela está com ele há tanto tempo - continuou Sara, uma nota de confusão na voz. - Ouvi dizer que ele até prometeu casamento se ela provasse seu valor na empresa.
Daniela zombou.
- Casamento? Com a Camila? Não seja ingênua, Sara. O Sr. Ferraz tem padrões. E além disso, eu me certifiquei de que ela nunca "provasse" seu valor. Cada um dos pedidos de promoção dela? Rejeitado. As avaliações de desempenho? "Adequadas". Os bônus? Convenientemente "mal calculados" e redirecionados. - A voz dela estava carregada de um orgulho arrepiante. - Não foi difícil. Algumas canetadas, alguns e-mails estrategicamente colocados. Ela estava tão ocupada sendo a "namorada secreta" que nunca notou seus contracheques encolhendo, ou sua carreira estagnando.
As palavras me atingiram como uma barragem de golpes físicos. Minha cabeça girou, uma onda nauseante de clareza me lavando. Os salários suprimidos, as promoções negadas, os bônus minúsculos. Não era incompetência. Não era minha culpa. Era ela. Era tudo Daniela. Por oito anos, ela sabotou sistematicamente minha carreira, minha independência financeira, meu futuro. Ela roubou meu salário, minhas promoções, minha autoestima.
E o empréstimo para o Lucas? Os duzentos mil reais que teriam trazido meu irmão para casa sem a intervenção de João? Ela bloqueou isso também. Propositalmente. Maliciosamente. Ela me viu afogar em luto e desespero, sabendo muito bem que eu estava lutando, e ela riu. A pura malevolência disso fez meu estômago revirar, um ódio ardente subindo na minha garganta. O corpo do meu irmão foi mantido refém por causa do ciúme mesquinho dela, da crueldade calculada dela.
Um rosnado gutural escapou dos meus lábios. Empurrei a porta da cabine, meus olhos flamejando, meu corpo tremendo com uma fúria tão potente que tinha gosto de ácido de bateria. Daniela e Sara pularam, assustadas, os rostos drenando de cor ao me verem.
- Você! - sibilei, minha voz mal um sussurro, mas carregada com veneno suficiente para fazê-las recuar. Meu olhar travou em Daniela, sua expressão presunçosa agora desmoronando em medo. - Você fez isso? Você me sabotou? Por oito anos?
Daniela tentou se recuperar, os lábios se torcendo em um escárnio.
- Camila, não seja dramática. Não sei do que você está falando.
Minha mão voou antes mesmo que eu registrasse o pensamento. *PLAFT!* O som estalou como um chicote no banheiro silencioso, ecoando nas paredes de azulejo. A cabeça de Daniela jogou para trás, uma marca vermelha brilhante florescendo em sua bochecha pálida. Seus olhos, arregalados de choque, instantaneamente se encheram de uma fúria fria e dura.
Mas antes que ela pudesse retaliar, de repente caiu de joelhos, agarrando a bochecha, o corpo balançando precariamente.
- Ah, Camila, por favor! Sinto muito! Eu não quis dizer isso! Por favor, me perdoe, eu estava apenas... eu estava com ciúmes! - A voz dela era um soluço teatral, os olhos dardejando nervosamente em direção à porta.
Pisquei, momentaneamente atordoada por sua reversão súbita e dramática. A performance calculada. Ela era boa. Boa demais.
Nesse momento, uma voz fria e furiosa cortou o ar.
- Camila! Que diabos está acontecendo aqui?!
Caio. Ele estava na porta, o rosto uma nuvem de tempestade, os olhos estreitados em fendas furiosas. Daniela imediatamente desmoronou ainda mais, enterrando o rosto nas mãos, os soluços aumentando.
- Caio! - lamentou ela, a voz abafada, mas deliberadamente alta. - Ela... ela acabou de me atacar! Eu... eu não acredito nisso! Eu estava apenas tentando fazer meu trabalho, tentando mantê-la na linha, e ela simplesmente... ela simplesmente explodiu!
Caio correu para o lado dela, o braço instintivamente envolvendo-a. Ele a puxou para cima, aninhando a cabeça dela contra o ombro. O olhar dele, quando encontrou o meu, estava cheio de um nojo arrepiante.
- Camila, exijo que você peça desculpas. Imediatamente. - Ele tocou a bochecha de Daniela, o polegar acariciando suavemente a marca vermelha deixada pela minha mão. - Você está bem, Daniela? O que aconteceu?
Daniela agarrou o braço dele, o corpo tremendo dramaticamente.
- Sinto muito, Sr. Ferraz. Eu apenas... tentei explicar para a Camila que a promoção dela não era possível agora, dadas as métricas de desempenho e algumas... irregularidades com a estrutura de bônus dela, e ela simplesmente teve um ataque de fúria. Ela disse que eu estava tentando segurá-la, que eu tinha ciúmes do relacionamento dela com você. Ela me acusou de tudo! Não é justo! Estou apenas tentando proteger os melhores interesses da empresa, e os seus! - Ela se enterrou mais fundo no abraço dele, a voz grossa de angústia fingida. - Sei que sou apenas sua assistente, mas me importo com sua empresa, com você. Não suporto vê-la minando sua autoridade, intimidando as pessoas no local de trabalho assim. Ela só tem causado problemas, Sr. Ferraz. Sempre reclamando, sempre tentando criar drama. Tive que rejeitar o avanço dela, não tive escolha!
O rosto de Caio escureceu ainda mais, o maxilar cerrado tão forte que eu podia ver o músculo tremer. Ele acariciou o cabelo de Daniela, um gesto de conforto que fez meu estômago revirar. Então ele virou o olhar furioso para mim.
- Isso é verdade, Camila? - exigiu ele, a voz perigosamente baixa. - Você é realmente tão pouco profissional? Tão arrogante? Minando minha assistente, atacando-a? Intimidando-a porque você não conseguiu o que queria? Eu te disse, Daniela é inestimável para mim. Ela cuida de tudo. E você, Camila, está provando ser um risco. Você precisa entender o seu lugar. Você não vai ser promovida. Nem agora, nem nunca. Você não tem o temperamento, a garra ou, francamente, a perspicácia social para liderar. Você é uma funcionária, Camila. Uma funcionária secreta e subvalorizada. É tudo o que você é. E se não consegue se comportar, então pode ir embora.
Meu coração, já despedaçado, parecia estar sendo esmagado em pó. Temperamento. Garra. Perspicácia social. As palavras eram um eco amargo de suas demissões cruéis ao longo dos anos. Eu não era nada. Um brinquedo. Um segredo. E a única coisa me segurando era ele, sua arrogância, sua cegueira e a manipulação insidiosa dela.
Uma risada histérica borbulhou da minha garganta, crua e dolorosa.
- Risco? - zombei, balançando a cabeça. - Sabe de uma coisa, Caio? Você está certo. Eu sou um risco. Um risco para sua ilusão de vida cuidadosamente construída. Um risco para as maquinações da sua assistente "inestimável".
As palavras saíram atropeladas, cada uma carregada com anos de raiva e dor reprimidas.
- Passei oito anos, Caio. Oito anos acreditando em você, trabalhando para você, amando você. Dei a você minha lealdade, minha juventude, meus sonhos. E você me deu um protocolo, uma assistente fria e migalhas de afeto. Você acha que eu não vejo o que está acontecendo? Acha que sou tão cega que não consegui ver como ela estava destruindo sistematicamente minha carreira, roubando meus bônus, garantindo que eu ficasse exatamente onde estava para não ameaçar a preciosa posição dela ao seu lado?
Minha voz subiu, alimentada por uma raiva ardente e justa.
- E meu irmão? Meu irmão morto? Ela bloqueou o empréstimo, Caio! Ela garantiu que eu não pudesse nem trazer meu próprio sangue para casa a menos que outra pessoa pagasse por isso! E você fica aí, segurando-a, confortando-a, enquanto ela faz *gaslighting* com você, faz *gaslighting* comigo! Como você pode ser tão completamente cego? Tão completamente sem coração?
Caio recuou visivelmente, o rosto empalidecendo, mas antes que pudesse responder, a raiva em seus olhos endureceu novamente.
- Você está delirando, Camila. E francamente, estou cansado do seu drama. Você está demitida. Saia da minha empresa. Saia da minha vida.
Uma calma fria e clara se instalou sobre mim. Demitida. A palavra, destinada a me esmagar, parecia uma libertação. Ele finalmente tinha dito. Ele finalmente me empurrou para além do limite.
- Demitida? - ri, um som oco e amargo. - Você não precisa me demitir, Caio. Eu já me demiti. - Enfiei a mão na bolsa, tirando a carta de demissão que eu tinha preparado para o Sr. Almeida. - Considere isso meu aviso oficial. - Minha mão tremia levemente enquanto eu a estendia, mas meu olhar era firme, inabalável. - Estou indo embora. E nunca mais vou voltar.