Minha cabeça latejava, uma dor surda e insistente que pulsava atrás dos meus olhos. Meu braço direito era um peso morto, uma dor lancinante florescendo do ombro até o pulso. Tentei me mover, mas um choque agudo e excruciante me atravessou, forçando um suspiro estrangulado dos meus lábios. Minha visão turvou, luzes dançando diante dos meus olhos.
Uma enfermeira, o rosto um borrão de branco e linhas severas, apareceu ao lado da minha cama. Ela ajustou algo em um suporte de soro, seus movimentos bruscos e impessoais. Nenhum toque gentil, nenhuma palavra suave. Apenas a eficiência fria de um profissional médico lidando com outro paciente sem nome.
- Você acordou - afirmou ela, a voz plana, desprovida de calor. Ela não olhou para mim, o olhar fixo na bolsa de soro.
Tentei falar, mas minha garganta estava dolorosamente seca, contraída. Um pequeno gemido escapou de mim. Meus olhos pareciam ocos, minha mente ainda lutando com as memórias fragmentadas da noite. O cofre. A certidão de casamento. Os guardas. Os olhos frios e acusadores de Caio.
- O que... aconteceu? - consegui coaxar, as palavras raspando contra minha garganta em carne viva.
A enfermeira finalmente olhou para mim, um lampejo de algo que poderia ter sido pena, mas rapidamente endureceu em julgamento, cruzando seu rosto. - Você foi encontrada invadindo a cobertura dos Bittencourt. Trauma severo por força bruta. Seus advogados já foram informados da sua... situação. - Ela fez uma pausa, depois acrescentou: - Tentativa de roubo. Falsidade ideológica ao se passar por cônjuge. Vai ser uma longa estrada, moça.
- Se passar por...? - sussurrei, minha voz quase inaudível. As palavras me atingiram como uma nova onda de náusea. Eles ainda não acreditavam em mim. Mesmo depois de me encontrarem espancada e quase morta, ainda achavam que eu era uma fraude.
Meus olhos, pesados com lágrimas não derramadas, varreram o quarto. Sem Cristiano. Sem rosto familiar. Apenas a indiferença fria da equipe médica, seus olhos espelhando a percepção pública sobre mim.
- Posso fazer uma ligação? - implorei, a pergunta um apelo desesperado.
A enfermeira zombou, um som áspero e desdenhoso que ecoou o próprio desprezo de Caio. - Uma ligação? Para quem, exatamente? Sr. Bittencourt? Ele negou explicitamente conhecer você. Disse que você era uma "ex-funcionária delirante" com histórico de "comportamento instável". Ele fez sua equipe jurídica protocolar uma negação formal esta manhã.
Meu coração despencou, aterrissando com um baque doentio no meu estômago. O ar saiu dos meus pulmões. Negou me conhecer? Uma ex-funcionária delirante? As palavras ecoaram na minha cabeça, um refrão cruel e zombeteiro. Ele não estava apenas fazendo gaslighting comigo; ele estava destruindo ativamente minha credibilidade, minha sanidade, minha própria existência.
- Não - sussurrei, balançando a cabeça, uma nova onda de lágrimas borrando minha visão. - Não, ele não faria isso. Ele... ele me ama. Nós somos casados. Eu tenho a certidão. Ele sabe.
A enfermeira revirou os olhos, um gesto de impaciência. - Olha, querida, você pode acreditar nisso, mas os registros oficiais, e o próprio Sr. Bittencourt, dizem o contrário. Você é Gabriela Viana, atualmente enfrentando acusações. O Sr. Bittencourt está felizmente noivo da Srta. Celina Menezes. Essa é a realidade. - Ela fez uma pausa, depois, com uma pitada de curiosidade mórbida, acrescentou: - Ele está fazendo uma declaração pública sobre o casamento iminente agora mesmo, na verdade. Está em todos os noticiários.
Ela ligou a pequena televisão montada na parede. A tela piscou ganhando vida, mostrando uma transmissão ao vivo do que parecia ser uma coletiva de imprensa luxuosa. Lá estava ele, Caio, em um pódio brilhantemente iluminado, um sorriso confiante no rosto, o braço em volta de uma Celina Menezes radiante. Eles pareciam cada centímetro o casal perfeito e poderoso. Ele falava sobre o futuro deles, a voz suave e segura, irradiando uma aura de felicidade inabalável. Minha felicidade. Nosso futuro.
Minha respiração falhou. A imagem era uma zombaria cruel de cada promessa que ele já fizera, cada sacrifício que eu suportara. Os olhos dele, antes cheios de uma ternura secreta por mim, agora brilhavam com uma adoração pública por ela. Foi uma torção de faca no coração, uma traição tão profunda que me deixou sem fôlego.
Ele tinha realmente ido embora. Ele tinha seguido em frente, construído uma nova vida e me apagado completamente de sua narrativa.
- Por favor - engasguei, novas lágrimas escorrendo pelo meu rosto -, por favor, apenas me deixe ligar para ele. Ele tem que explicar. Ele tem que contar a eles.
A enfermeira suspirou, a paciência claramente se esgotando. - Tudo bem. Mas estou te dizendo, é perda de tempo. Ele já disse não à polícia quando ligaram mais cedo.
Ela trouxe um telefone ao meu ouvido, a expressão cética. Minha mão tremia enquanto eu segurava o receptor, meu coração martelando contra as costelas. Disquei o número privado dele, aquele que eu memorizara, aquele que ele me dissera para usar apenas em emergências. Esta era uma emergência. Minha vida inteira era uma emergência.
O telefone tocou, uma, duas, três vezes. Cada toque era uma eternidade, uma contagem regressiva lenta e agonizante para a salvação ou aniquilação completa. Imaginei-o lá, em seu escritório opulento, cercado por seu império, sua nova noiva, suas mentiras cuidadosamente construídas. Rezei para que ele atendesse. Rezei para que ele se lembrasse. Rezei para que ele finalmente dissesse a verdade.
Um clique. - Alô? - A voz dele. Fria. Distante. Totalmente desconhecida.
- Caio? - sussurrei, minha voz grossa de lágrimas, alívio inundando-me apesar de mim mesma. - É a Gabi. Eles... eles não acreditam em mim. Você tem que contar a eles. Diga que somos casados. Diga sobre a certidão. Por favor, Caio.
Um longo silêncio se estendeu entre nós, pesado com verdades não ditas e traições condenatórias. Então, a voz dele, mais gelada do que eu já ouvira. - Não tenho nada a dizer a você, Gabriela. Nosso relacionamento acabou anos atrás. Você precisa parar com esse delírio. Não é saudável.
Meu mundo se estilhaçou. O telefone escorregou do meu alcance, batendo ruidosamente contra a mesa de cabeceira. Encarei a tela da TV inexpressivamente, o rosto sorridente dele, o olhar adorador de Celina. Ele mentira para mim, não apenas sobre seu amor, mas sobre tudo. Não havia plano secreto, nenhuma proteção. Apenas um abandono implacável e calculado.
A enfermeira, que assistia com um sorriso de escárnio, pegou o telefone e desligou. - Viu? Eu te disse. Você é delirante. - Ela me lançou um olhar de desprezo, depois se virou para o policial que acabara de entrar no quarto. - Ela está alegando ser a esposa de Caio Bittencourt. Diz que ele a negou.
O policial, um homem corpulento com expressão entediada, simplesmente grunhiu. - Mais uma? Eles sempre negam. São todas malucas. - Ele escreveu algo em seu bloco de notas. - Hora de transferi-la para o centro de detenção. Não queremos que ela fuja.
- Não! - gritei, um grito cru e primal rasgando minha garganta. - Não, por favor! Eu não sou louca! Ele está mentindo! Eu sou a esposa dele! Eu juro!
Mas eles não ouviram. Eles nunca ouviam. Eles me amarraram a uma maca, meu corpo ainda protestando a cada movimento. Minhas súplicas foram recebidas com olhares vazios, minhas lágrimas com indiferença fria. Enquanto me levavam para fora do quarto, passando pelos corredores movimentados, vi meu reflexo em uma janela escurecida. Uma mulher quebrada, espancada, cabelo desgrenhado, olhos inchados, rosto manchado de lágrimas. Um fantasma. O fantasma dele.
Meu último pensamento antes que a escuridão do centro de detenção me engolisse foi em Cristiano. Ele era o único que acreditava em mim, o único que se importava. Ele era minha última esperança.