Tarde Demais Para Sua Segunda Chance
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Capítulo 4

Afastei-me da mesa ornamentada, o barulho dos talheres momentaneamente silenciado pela brusquidão do meu movimento. Minhas pernas pareciam de chumbo, mas forcei um pé na frente do outro, afastando-me da opulência sufocante do salão de leilões, longe de Breno e Frida, longe dos restos estilhaçados da minha vida.

"Adelle, espere!" A voz de Breno, tingida de um pânico súbito, me alcançou. Ouvi sua cadeira arrastar para trás, um som frenético. Mas então, a voz suave e insistente de Frida: "Breno, não me deixe. O leilão do colar de safira está prestes a começar, você me prometeu."

Eu não olhei para trás. Eu sabia que ele não me seguiria. Meu coração, já em carne viva e sangrando, se contorceu com uma dor nova e aguda. Mas essa dor era diferente, infundida com uma clareza recém-descoberta. Era a dor de amputar um membro, excruciante, mas necessária para a sobrevivência.

Cada passo que eu dava ecoava aquele que dei para longe dele, longe de sua família, longe da gaiola dourada que ele chamava de amor. Lembrei-me dele, há tanto tempo, um jovem desafiador, enfrentando seu pai, escolhendo a mim, uma simples estudante de arte, em vez de um noivado arranjado. Ele disse então: "Adelle, você vale a pena lutar. Mais do que qualquer aliança, mais do que qualquer fortuna." Suas palavras foram um escudo, uma promessa de proteção. Lembrei-me de seu rosto sério, sua mão segurando a minha, jurando sempre colocar minha felicidade em primeiro lugar. Ele passou anos provando que me amava, provando que me escolheria. Ele se sacrificou por mim.

E agora? Ele me sacrificou. Por Frida. Por seu pai. Por uma aliança de negócios. O homem que uma vez lutou por mim agora lutava contra mim. O homem que prometeu sempre me escolher, agora escolhia todos os outros. O contraste gritante foi um golpe violento na minha memória.

Uma lágrima, quente e ardente, traçou um caminho pelo meu rosto. Depois outra. E outra. Não eram lágrimas de desamparo, não como as que chorei sobre o caixão da minha mãe. Eram lágrimas de libertação, de um fim. A primeira vez que chorei de verdade no funeral, foram lágrimas de pura agonia, de uma perda brutal e profunda na alma. Essas lágrimas, agora, eram pela morte de um sonho.

Cheguei à mansão vazia, aquela que não estava mais cheia de nossas risadas, mas com os fantasmas de promessas quebradas. Movi-me com uma energia febril, jogando os últimos itens na minha mala. Não havia mais nada para mim aqui. Nada além de fantasmas e um silêncio sufocante. Arrastei a mala pesada até a porta, abri-a e saí, fechando-a atrás de mim com um clique suave que ressoou com a finalidade de um capítulo se encerrando.

Na manhã seguinte, meu celular, o antigo que eu ainda usava, tocou. Breno. Sua voz era um rosnado, tenso de fúria. "Adelle, que diabos foi aquilo ontem? Você está tentando me envergonhar? Você não pode simplesmente sair de um leilão daquele jeito!"

"Acabou, Breno," eu disse, minha voz calma, firme, desprovida da emoção que se agitava dentro de mim. "Eu disse ontem. E digo agora."

Uma inspiração aguda do outro lado, depois um estrangulado: "Acabou? Você está falando sério? Você está terminando comigo? Depois de tudo?" Sua voz escalou para um grito. "Tudo bem! Se é isso que você quer, Adelle, então vá! Veja se eu me importo!" Ele desligou, o silêncio tão abrupto quanto a ligação.

Fiquei ali, o telefone ainda pressionado contra meu ouvido, ouvindo o tom de discagem. Meu peito arfou, uma respiração aguda e dolorosa. Dez anos. Dez anos da minha vida, perdidos em uma única e brutal ligação telefônica. Uma década de amor, esperança e sacrifício, reduzida a uma discussão infantil e um telefone batido. Caí no chão, minhas pernas cedendo sob mim, uma risada estranha e oca escapando dos meus lábios. Finalmente acabou.

Dois dias depois, encontrei-me empoleirada em um afloramento rochoso no meu parque de montanha favorito, meu cavalete montado, o cheiro familiar de pinho e terra rica enchendo meus pulmões. Eu não pintava há semanas, não desde que os horrores começaram. Mas agora, com o mundo despojado de suas falsas promessas, a tela me chamava. Pintei com uma energia frenética, derramando toda a minha dor, toda a minha raiva, toda a minha determinação recém-descoberta na tela. As cores eram cruas, vibrantes, espelhando a tempestade dentro de mim. Pintei até o sol mergulhar abaixo dos picos irregulares, pintando o céu em laranjas ardentes e roxos profundos.

Enquanto guardava meus materiais, uma risada abafada flutuou pelo ar fresco da noite. Era a voz de Frida. Meu sangue gelou. Ela estava aqui. No meu santuário.

Apertei meus materiais de arte com mais força, tentando escapar despercebida. Mas era tarde demais. "Ora, ora, se não é a noiva em fuga," a voz açucarada de Frida cortou o crepúsculo. Ela estava com um grupo de seus amigos impecavelmente vestidos, todos sorrindo com desdém. "Ouvi dizer que você limpou o lugar do Breno. Finalmente percebeu que não pertencia, não é?"

Cerrei a mandíbula, recusando-me a dar a ela a satisfação de uma resposta. Tentei passar por ela, meus olhos fixos no caminho à frente.

Mas ela se colocou na minha frente, bloqueando meu caminho. Sua mão, adornada com anéis brilhantes, estendeu-se para tocar meu braço. "Não seja tímida, querida," ela ronronou.

Puxei meu braço como se seu toque me queimasse, enfiando a mão fundo no bolso. Meu silêncio apenas a alimentou. Ela jogou a cabeça para trás, sua risada tilintando, tão oca quanto sinos de vento. "O gato comeu sua língua? Ou é só que Breno finalmente se cansou da sua pequena farsa?" Ela se inclinou mais perto, seus olhos brilhando com malícia. "Ele está melhor sem você, Adelle. Você sempre foi apenas um fardo."

Permaneci em silêncio, meu olhar firme, recusando-me a me envolver. Ela pode ter pensado que eu estava humilhada, mas senti uma calma fria e calculista se instalar sobre mim.

Seu sorriso vacilou um pouco com a minha falta de reação, mas depois voltou, mais largo e mais cruel. "Ah, a propósito," ela disse, sua voz baixando para um sussurro teatral, mas alto o suficiente para seus amigos ouvirem. "Ouvi sobre sua mãe. Que tragédia. Pobre mulher. Embora, ela realmente não devesse estar dirigindo aquele caminhão velho, não é? Especialmente depois de escurecer. Algumas pessoas simplesmente não sabem seu lugar."

Minha respiração falhou. O sangue drenou do meu rosto, deixando-me fria e entorpecida. Isso não era apenas uma provocação; era uma zombaria deliberada e maliciosa. Ela estava zombando da minha mãe morta.

"Você," engasguei, minha voz tremendo de fúria contida. "Você a matou. Você furou o sinal vermelho. Você estava no celular. Você desviou." Minha mão, fundo no bolso, encontrou o celular, aquele que ainda continha a gravação. Pressionei o botão de gravar.

Os olhos de Frida se arregalaram por uma fração de segundo, depois se estreitaram. Ela riu, um som baixo e gutural. "Oh, Adelle. Ainda se fazendo de vítima, vejo. O que você vai fazer? Contar ao mundo? Ninguém acreditaria em você. Breno vai me proteger. Ele sempre protege." Ela se aproximou ainda mais, sua voz baixando para um silvo venenoso. "Ele sempre me escolhe, Adelle. Sempre. Você nunca vai ganhar. Você nunca vai tê-lo de volta. Você nunca terá justiça. Este é o meu mundo agora. E você... você não é nada."

"Você está errada," eu disse, minha voz firme agora, infundida com uma determinação arrepiante. Meus dedos se apertaram em volta do meu celular. "Eu não vou apenas contar ao mundo, Frida. Eu vou mostrar a eles. E você vai pagar pelo que fez."

Ela riu de novo, um som agudo e zombeteiro. "Oh, Adelle. Ainda sonhando? O pai de Breno já está arranjando nosso noivado. Uma aliança formal. Estaremos casados antes que você possa sequer arrumar seus patéticos materiais de arte. Você realmente acha que pode me parar? Você é apenas um incômodo." Ela fez uma pausa, depois acrescentou, sua voz pingando veneno: "Mesmo que você conseguisse convencer alguém, o que não vai acontecer, você percebe que Breno seria implicado também, por encobrir, não é? É isso que você quer? Destruí-lo?"

Minha mente girou. Um noivado? Ele seguiu em frente tão rápido? E ele a encobriu. O pensamento se contorceu em meu estômago. Ele realmente se foi. Eu ri, um som agudo e amargo. Era isso. Chega de se segurar.

De repente, um estrondo baixo vibrou pelo chão. Um rugido distante, ficando mais alto, mais perto. O ar ficou pesado, o cheiro de terra úmida e folhas esmagadas se intensificando. Uma nuvem escura de poeira surgiu por trás dos picos. A montanha estava se movendo.

"O que é isso?" uma das amigas de Frida gritou, sua voz fina de pânico. O estrondo se transformou em um rugido ensurdecedor. O deslizamento de terra. De novo.

            
            

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