"Como você ousa vazar isso?!" ele rugiu, seu pé conectando com meu lado. Uma dor lancinante me atravessou. Eu arquejei, lutando para recuperar o fôlego.
"Eu não..." eu grasnei, me erguendo sobre os cotovelos, minha bochecha latejando, o gosto de sangue na boca. "Eu não faria isso."
Antes que eu pudesse terminar, outro estalo agudo ecoou no saguão. Jéssica. Ela estava sobre mim, seu rosto uma máscara de fúria, sua mão ainda levantada depois de me golpear. Minha cabeça estalou para trás, batendo no chão com um baque surdo. Meu lábio se partiu, uma fina linha carmesim traçando meu queixo.
"Sua bruxa ciumenta!" Jéssica gritou, seu pé se lançando. Ele conectou com meu estômago, um impacto brutal e nauseante. Um suspiro escapou dos meus lábios, mas foi interrompido por outro chute, e outro. "Você tentou me arruinar! Você tentou nos expor!"
Uma dor aguda e lancinante explodiu no fundo do meu abdômen. Era diferente da dor superficial dos chutes, uma agonia profunda e torturante que me fez dobrar. Eu podia sentir algo quente e úmido se espalhando sob mim.
"Dona Calista está sangrando!" Maria, nossa empregada, gritou de algum lugar próximo, sua voz carregada de terror.
Caio, que havia assistido ao ataque de Jéssica com uma expressão distante, quase satisfeita, vacilou. Seus olhos se arregalaram ligeiramente. Ele deu um passo hesitante em minha direção, um lampejo de algo que parecia culpa, ou talvez apenas pânico, cruzando seu rosto.
"É só a menstruação dela, Caio!" Jéssica gritou, agarrando-se ao braço dele, sua voz deliberadamente alta. "Ela é sempre tão dramática com isso! Ela provavelmente só menstruou, e agora está tentando fazer você se sentir mal. Lembra do que você me prometeu? Que sempre me protegeria?"
Caio parou, seu olhar caindo do meu vestido encharcado de sangue para o rosto de Jéssica, manchado de lágrimas. Ele olhou para mim novamente, depois desviou o olhar. O lampejo de culpa desapareceu, substituído por uma fria indiferença. Ele era uma marionete, e Jéssica segurava as cordas.
"Eu... eu vou cuidar dos rumores online," ele murmurou, sua voz tensa. "Mas você não deveria ter feito isso, Jéssica."
"Eu não tenho mais nada, Caio!" Jéssica lamentou, de repente tirando um pequeno canivete de prata do bolso. Ela o segurou em seu pulso, sua mão tremendo teatralmente. "Ela arruinou tudo! Minha reputação! Meu futuro! Minha honra! Eu te dei tudo, Caio! Minha juventude, minha inocência! E agora, por causa dela, eu não sou nada!" Ela soluçou, sua voz subindo a um tom histérico. "Eu não posso viver assim! Se eu morrer, espero te encontrar na próxima vida, Caio! Então poderemos finalmente ficar juntos!"
Meus olhos, já nadando de dor, observaram o rosto de Caio se suavizar. Tolo. Ela o estava manipulando como um fantoche.
Um grito agudo e repentino rasgou a garganta de Jéssica. Não um lamento de desespero, mas um grito de dor. Uma fina linha de sangue apareceu em seu pulso. Ela não se cortou profundamente, mas foi o suficiente para fazer os olhos de Caio se arregalarem de horror.
"Jéssica!" ele gritou, correndo para frente, embalando-a em seus braços. Ele me fuzilou com o olhar, seus olhos ardendo com uma fúria renovada. "Olha o que você fez com ela!"
Ele tropeçou em minha forma prostrada na penumbra do saguão, nem mesmo percebendo que me chutara novamente. Ele não olhou para trás. Apenas pegou Jéssica nos braços e começou a latir ordens para sua equipe de segurança.
"Encontrem quem vazou aquele vídeo! Apaguem cada vestígio dele!" ele trovejou, sua voz ecoando pelo saguão silencioso. "E quanto a ela..." Seus olhos, frios e venenosos, pousaram em mim. "Ela vai pagar por isso. Ela vai pagar por tudo."
Ele saiu furioso, Jéssica soluçando dramaticamente em seus braços, deixando-me sangrando e quebrada no chão de mármore frio.
"Maria," eu engasguei, estendendo uma mão trêmula. A dor era insuportável agora, um fogo me consumindo de dentro para fora. "Me ajude, por favor."
Maria, paralisada no lugar, balançou a cabeça, seu rosto pálido de medo.
"Eu... eu não posso, Dona Calista. O Sr. Campos disse... ele disse para eu não tocar em você."
Tentei ligar para Caio. Meu celular, ainda em minha mão, mostrava seu número. Toca. Toca. Ocupado. Tentei de novo. Toca. Toca. Caixa postal. De novo. De novo.
Desesperada, tentei uma última vez. Tocou uma, duas vezes, depois clicou. Desconectado. Ele desligou.
O mundo começou a girar mais rápido, as bordas da minha visão embaçando. A dor no meu estômago se intensificou, um aperto sufocante. Minha cabeça pendeu para o lado. Eu podia ouvir os sussurros frenéticos de Maria, mas suas palavras eram como ecos distantes. O chão parecia frio contra minha bochecha sangrando.
Então, escuridão. Pouco antes de me consumir por completo, senti um par de braços fortes me levantar. Um cheiro familiar, não o perfume de Caio, mas algo terroso, seguro. Um sussurro em meu ouvido, fraco demais para entender. Então, nada.
Caio, acelerando para longe do hotel, agarrou o volante, sua mandíbula tensa. Ele estava furioso, mas não com Jéssica. Não, ele estava furioso com quem quer que tivesse ousado expor sua fachada cuidadosamente construída. Seu celular vibrou, uma mensagem rápida de seu chefe de segurança. "Senhor, o vídeo online foi contido, mas encontramos um rastro. Parece se originar de um endereço de e-mail ligado às antigas contas de trabalho de Calista."
Um pavor frio se instalou em seu estômago. Calista. Ele tinha que ter certeza. Ele ligou para seu assistente.
"Você conseguiu reverter os fundos para o tratamento da mãe de Calista?"
"Sim, Sr. Campos," respondeu seu assistente, sua voz nítida. "O hospital confirmou que a transferência foi revertida com sucesso."
Caio sentiu uma onda de indignação justa. Então, ela estava tentando chantageá-lo. Essa era a vingança dela. Ele a faria se arrepender.
Seu celular tocou novamente. Era sua secretária, sua voz frenética.
"Sr. Campos! As ações! As ações da sua empresa estão despencando! É uma venda massiva!"
Caio pisou no freio, a parada brusca sacudindo Jéssica, que ainda fungava dramaticamente no banco do passageiro. Seu mundo, tão meticulosamente construído, estava de repente desmoronando.