Tentei puxar minha mão, mas meu corpo parecia pesado, fraco.
"O bebê," ele disse, sua voz mal audível. "Ele... se foi. Os médicos, eles não conseguiram salvá-lo."
As palavras me atingiram como um golpe físico, roubando o ar dos meus pulmões. Bebê? Meu bebê? Eu nem sabia. Uma onda de náusea, fria e consumidora, me invadiu. Não é à toa que a dor tinha sido tão intensa. Não é à toa.
Meus olhos arderam, mas nenhuma lágrima veio. Meu corpo parecia dormente.
"Jéssica... ela está grávida também," Caio continuou, seu olhar fixo no linóleo do hospital. "Nós vamos criar nosso filho juntos. Eu pensei... talvez você pudesse entender."
Uma súbita onda de força, alimentada por uma fúria primal, percorreu-me. Arranquei minha mão da dele, o movimento brusco e violento.
"O que você disse?" Minha voz era um sussurro quebrado, carregado de incredulidade.
Ele vacilou, recusando-se a encontrar meu olhar.
"Eu disse... Jéssica está grávida. Nós vamos ter um bebê." Ele ainda não olhava para mim.
Então, o segundo golpe.
"Os médicos também disseram... seu útero. Está... gravemente danificado. Você não pode mais ter filhos, Calista. Nunca mais."
O mundo ficou em silêncio. Minha própria respiração soava impossivelmente alta em meus ouvidos. Não mais filhos. As palavras ricochetearam em meu crânio, uma verdade brutal e inegável. Meu corpo começou a tremer incontrolavelmente, um tremor que se originou no fundo dos meus ossos e me sacudiu até o âmago. Lágrimas, quentes e incontroláveis, finalmente escorreram pelo meu rosto, borrando a forma patética e desviada de Caio.
Ele ficou ali, impotente, observando-me despedaçar.
Nesse momento, seu celular tocou, um toque estridente e insistente no silêncio.
"É... é o escritório," ele gaguejou, puxando-o. "Eu realmente deveria atender."
Eu o interrompi, minha voz crua.
"Saia."
Ele hesitou, colocando um buquê murcho de rosas na minha mesa de cabeceira.
"Eu volto, Calista. Assim que puder. Nós vamos conversar."
Então ele se foi, seus passos apressados ecoando pelo corredor.
Mal a porta se fechou, ela se abriu novamente. Jéssica. Ela entrou gingando, um sorriso triunfante no rosto, um recipiente de plástico de sushi na mão.
"Olha só quem acordou," ela ronronou, seus olhos brilhando com alegria maliciosa. "Caio acabou de me comprar isso. Ele disse que eu deveria comer bem pelo nosso bebê." Ela deu uma mordida, mastigando lentamente, deliberadamente. "Ele até jogou fora aquelas flores horríveis que você tinha. Disse que eram lixo."
Meu olhar caiu sobre o buquê, agora jogado sem cerimônia na lixeira.
"Sabe," ela continuou, sua voz doce como mel, "os médicos mostraram a Caio o ultrassom. Nosso bebê parecia tão perfeito. Tão pequeno. Não como... bem, não como o que quer que você estivesse carregando. Caio disse que foi para o melhor, sabe. Uma bênção disfarçada. Aparentemente, era... deformado."
Meu sangue gelou. As palavras eram uma cobra venenosa, enrolando-se em meu coração.
"E adivinha só?" ela se inclinou, sua voz baixando para um sussurro conspiratório, mas seus olhos continham um triunfo arrepiante. "Aquele seu órgão inútil? O médico disse que estava completamente arruinado. Tão arruinado que tiveram que removê-lo. Mas boas notícias para mim! Caio disse que poderiam transplantá-lo. Para o meu bebê. Para que eu possa carregar nosso filho, com o seu útero."
Um grito gutural rasgou minha garganta. Minha mão disparou, alimentada por uma raiva tão feroz, tão primal, que chocou até a mim mesma. O som da minha palma conectando com sua bochecha foi nauseantemente alto.