As Cinzas da Minha Mãe, Minha Fúria Desencadeada
img img As Cinzas da Minha Mãe, Minha Fúria Desencadeada img Capítulo 5
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Capítulo 5

Perspectiva de Calista

Jéssica cambaleou para trás, a mão voando para a bochecha avermelhada. Mas em vez de gritar, um sorriso arrepiante se espalhou por seu rosto. Não era um sorriso de dor, mas de pura, genuína malícia. Ela enfiou a mão na grande bolsa de grife pendurada em seu ombro, tirando uma pequena e ornamentada urna.

Meu coração bateu forte contra minhas costelas. O mundo se estreitou para aquele único jarro de porcelana. As cinzas da minha mãe.

"Minha mãe!" eu arquejei, um pavor frio me dominando. "Devolva, Jéssica! Por favor!" Minha voz era crua, suplicante, um som que eu não fazia há o que parecia uma eternidade.

"Ah, isso?" ela cantarolou, girando a urna de brincadeira na mão. "Caio disse que você não precisaria mais dela. Ele disse que você estava indo embora, lembra? São Paulo? E quem precisa de pó velho quando está começando uma nova vida?"

Eu me lancei, um grito desesperado e animalesco escapando dos meus lábios. Mas meu corpo estava fraco, devastado pelo trauma recente. Jéssica facilmente me desviou, estendendo o pé. Eu tropecei, caindo com força no chão, o impacto enviando uma nova onda de dor através do meu corpo ainda em recuperação.

Ela riu, um som áspero e irritante. Então, com um movimento do pulso, ela jogou a urna no ar.

O tempo pareceu desacelerar. A porcelana brilhava sob as luzes duras do hospital. Ela arqueou, girando lentamente, depois despencou em direção ao chão.

Um estalo nauseante.

A urna se estilhaçou em mil pedaços, uma nuvem de poeira fina e cinza subindo no ar. Minha mãe. Espalhada. Profanada.

"NÃO!" Meu grito rasgou o ar estéril, um som gutural de pura agonia. Eu me arrastei no chão, tentando juntar a poeira, os fragmentos, mas era inútil. Ela escorria por entre meus dedos trêmulos, misturando-se com a poeira e a sujeira do chão do hospital.

Jéssica ficou sobre mim, sua risada ecoando no pequeno quarto.

"Olha para você, patética! Igualzinha à sua mãe, implorando por migalhas!"

Algo se partiu dentro de mim. O último fio da minha sanidade, puído e fino, finalmente se rompeu. Um fogo rugindo acendeu em minhas veias, consumindo a dor, o luto, tudo, exceto uma raiva cega e avassaladora.

Eu me lancei sobre ela novamente, desta vez com uma força que eu não sabia que possuía. Minhas mãos encontraram sua garganta, meus dedos cravando, desesperados para silenciá-la, para sufocar a vida dela.

"Eu vou te matar!" eu gritei, minha voz distorcida, irreconhecível até para mim mesma. "Você destruiu tudo! Minha mãe! Meu bebê! Eu vou te matar!"

Jéssica arranhou minhas mãos, seus olhos arregalados de medo súbito. Mas então, com uma surpreendente onda de força, ela me empurrou para trás. Meu corpo fraco cedeu, e eu caí novamente, minha cabeça batendo no chão com um impacto chocante.

A porta se abriu com um estrondo. Caio. Ele estava ali, seus olhos ainda arregalados de preocupação por Jéssica, mas então eles pousaram em mim, na urna quebrada, na poeira cinza espalhada pelo chão.

Jéssica, rápida como uma víbora, começou a chorar.

"Caio! Ela me atacou! Ela tentou me fazer comer... comer aquela coisa em pó!" Ela apontou um dedo trêmulo para as cinzas espalhadas. "Ela disse que era bom para o meu bebê! Ela está louca!"

Caio correu para ela, puxando-a para seus braços. Seu olhar, frio e duro, encontrou o meu.

"Você tentou forçá-la a comer isso?" ele exigiu, sua voz baixa e ameaçadora.

"É só poeira," Jéssica soluçou, agarrando-se a ele. "Mas e se estiver envenenado? E se ela quisesse prejudicar nosso bebê?" Ela olhou para Caio, seus olhos arregalados e inocentes. "Talvez devêssemos testar... em um cachorro. Só para ter certeza, Caio."

Um tremor percorreu Caio. Seus olhos, por um breve momento, piscaram com dúvida. Ele olhou do rosto aterrorizado de Jéssica para o meu, sombrio e manchado de lágrimas.

Jéssica soltou um suspiro dramático, agarrando o estômago.

"Oh! Meu estômago! O bebê! Dói!"

Isso foi tudo o que foi preciso. O rosto de Caio endureceu. Toda dúvida desapareceu.

"Tragam um cachorro aqui!" ele rugiu, sua voz ecoando pelo corredor. "Agora!"

Um momento depois, dois seguranças corpulentos entraram, um deles puxando um Doberman preto e rosnando em uma coleira. Eles me seguraram, minhas lutas fúteis contra sua força combinada. Eu assisti, impotente, enquanto Caio apontava para as cinzas espalhadas. O Doberman, cheirando agressivamente, começou a lamber o pó cinza.

"NÃO!" eu gritei, um uivo cru e primal de angústia. "PAREM! Minha mãe! Não deixe ele fazer isso! Caio, por favor!"

Ele me ignorou. Seus olhos estavam fixos no cachorro, depois em Jéssica, que agora sorria por entre suas lágrimas falsas.

Nesse momento, o celular de Jéssica, em sua mão, de repente se acendeu. Uma notificação. Seus olhos se arregalaram de horror.

"Meu Deus! Caio! O vídeo! Está em todo lugar de novo! E estão dizendo... estão dizendo que é você! Que você é um monstro!" Ela gritou, jogando o celular para ele. "Isso é culpa dela! Ela vazou! Ela está tentando te arruinar!"

Caio pegou o celular, seu rosto empalidecendo ao ver as manchetes em alta, os vídeos virais. Seus próprios momentos íntimos, agora transmitidos para o mundo.

"Quem fez isso?!" ele berrou, seu olhar varrendo os guardas, depois pousando em mim.

"Senhor," um dos guardas gaguejou, tirando seu próprio celular. "Acabei de receber um relatório. O endereço IP... está vindo da rede pessoal de Calista. Do celular antigo dela."

Os olhos de Caio, já ardendo de raiva, fixaram-se em mim. Ele se aproximou, agarrando meu queixo, seus dedos cravando dolorosamente.

"Você achou que podia me destruir, não é? Você achou que podia se safar disso?"

Eu o encarei, depois soltei uma risada engasgada e histérica. Começou baixa, um som quebrado, depois escalou para uma loucura total. A dor, o luto, a traição - tudo convergiu para essa única e aterrorizante liberação.

"Sim!" eu gritei, minha voz crua. "Sim, eu fiz! E espero que isso te destrua! Espero que você perca tudo! Espero que você apodreça no inferno, você e aquela vadia!"

Seu aperto se intensificou, suas unhas cravando em minha carne.

"Você vai se arrepender disso, Calista. Você vai se arrepender de cada palavra." Ele me empurrou, minha cabeça batendo na parede. "Levem-na! Levem-na para a instalação subterrânea! Coloquem-na na jaula! E então... coloquem-na online. Deixem a dark web tê-la. Deixem que eles a ensinem o que é dor de verdade. Transmitam. Ao vivo."

Meu mundo ficou preto. A última coisa que ouvi foi seu comando frio e arrepiante: "Certifiquem-se de que ela sofra."

Fui jogada em uma jaula de metal fria. Câmeras estavam por toda parte, seus olhos vermelhos piscando. Um homem com uma máscara grotesca entrou, seus movimentos lentos, deliberados. Ele começou a rir, um som gutural e arrepiante. Então ele se lançou. A dor estava além de qualquer coisa que eu já conhecera. Uma sinfonia brutal de socos e chutes, deixando-me ofegante, crua e quebrada. Eu era uma marionete em cordas, meu corpo não era mais meu. Cada terminação nervosa gritava. Eu mal estava consciente, agarrando-me ao último fiapo de vida.

Justo quando a escuridão ameaçava me consumir por completo, um BANG súbito e ensurdecedor ecoou pela sala. Uma seção da parede explodiu para dentro, nos cobrindo de poeira e detritos. Uma fresta de luz ofuscante cortou a penumbra. Uma figura alta e poderosa estava silhuetada na abertura.

Ele se moveu com uma velocidade impossível, sua forma um borrão. O homem mascarado, que estava em cima de mim, foi jogado para trás com um baque nauseante. A figura se ajoelhou, pegando meu corpo quebrado em seus braços. Seu toque era firme, mas gentil, um contraste gritante com a brutalidade que eu acabara de suportar. Tentei focar, ver seu rosto, mas meus olhos se recusaram a obedecer. O mundo girou mais uma vez, e desta vez, a escuridão foi completa.

Enquanto isso, Caio sentava em seu escritório, rolando ociosamente por notícias de negócios, uma carranca no rosto. Ele ligou para seu chefe de segurança.

"Alguma notícia de Calista? Ela está... calma ainda?"

"Senhor," o chefe gaguejou, sua voz tensa de pânico. "É... é tarde demais."

Caio franziu a testa, irritado.

"Tarde demais para quê? Apenas mantenha-a trancada. Ela vai aprender a lição."

Nesse momento, sua linha direta tocou. Era o hospital.

"Sr. Campos," a voz do administrador era gélida. "Recebemos um pagamento pelas contas médicas pendentes da mãe da Sra. Henson. O valor total. E uma doação muito generosa em nome dela. Sua reversão anterior foi... anulada."

Caio congelou. Anulada? Por quem?

Antes que ele pudesse processar a informação, sua secretária invadiu o escritório, seu rosto pálido.

"Sr. Campos! O mercado de ações! Sua empresa está em queda livre! Está quebrando!" Seu mundo, que estava à beira do abismo, de repente mergulhou em um precipício.

                         

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