O Caio mais velho soltou uma risada áspera, um som desprovido de humor. "Marido dela? Não me faça rir, garoto. Eu sou o marido dela." Ele gesticulou entre nós, um sorriso de escárnio torcendo seus lábios. "Ou pelo menos, eu era. Até ela decidir fazer joguinhos."
Antes que eu pudesse intervir, o jovem Caio avançou, empurrando o Caio mais velho para trás com uma força surpreendente. "Você a machucou!", ele gritou, a voz rachando de raiva. "Você a traiu! Você destruiu tudo!"
O Caio mais velho tropeçou, pego de surpresa pela ferocidade do jovem. Seus olhos se arregalaram em choque, depois se estreitaram em fendas de pura fúria. "Você não tem ideia do que está falando, garoto", ele rosnou, tentando recuperar o equilíbrio.
"Eu sei o suficiente!", retrucou o jovem Caio, agitando o laudo médico. "Eu sei que você estava com ela quando a Alana mais precisava de você! Eu sei que você acobertou tudo! Eu sei que você a deixou perder nosso bebê!"
O rosto do Caio mais velho ficou pálido. Ele olhou para o laudo, depois para mim. Um lampejo de algo, culpa ou talvez medo, cruzou seus olhos. Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Ele parecia ter sido atingido.
Nesse momento, seu celular vibrou, um som estridente e insistente cortando a tensão. Ele o procurou, as mãos tremendo levemente. Ele olhou para a tela e sua mandíbula se contraiu. Fernanda.
Ele hesitou por um momento, seu olhar alternando entre mim, o furioso jovem Caio e o celular. O celular vibrou novamente, mais urgentemente desta vez. A batalha entre seu passado e seu presente estava se desenrolando bem diante dos meus olhos. E, previsivelmente, seu presente venceu.
Ele atendeu, sua voz caindo para um tom suave quase imediatamente. "Fê? O que foi, meu bem?"
Um lamento agudo, inconfundivelmente de Fernanda, perfurou o ar do outro lado da linha. "Caio! Ela... ela está aqui! Ela está tentando... ela é louca!" Sua voz era frenética, beirando a histeria.
A expressão do Caio mais velho endureceu. "Quem? A Alana? Não, ela está..." Ele olhou para mim, depois de volta para o celular. "Fê, calma. Estou a caminho. Não faça nada precipitado." Ele encerrou a chamada, o rosto uma máscara de determinação sombria.
Ele passou pelo jovem Caio, que ainda estava congelado de incredulidade. "Isso não acabou, Alana", ele cuspiu, seus olhos queimando com um fogo frio. "Você e eu... vamos conversar sobre isso. E você", ele apontou um dedo para o jovem Caio, "fique fora disso. Você não tem ideia no que está se metendo."
Então ele se foi, a porta da frente batendo atrás dele, deixando um eco arrepiante na casa silenciosa.
O jovem Caio ficou parado no lugar, os ombros caídos, o laudo médico esquecido em sua mão. A luta o havia esgotado. Ele olhou para mim, os olhos arregalados e perplexos. "Ele simplesmente... foi embora. Por ela."
Eu assenti, a picada familiar de suas escolhas uma dor surda em meu peito. "Ele sempre vai."
Ele dobrou lentamente o laudo, seus movimentos precisos, quase reverentes. Então ele foi até a lareira, pegou o porta-retrato de Fernanda e do bebê e, sem uma palavra, saiu pela porta da frente. Ouvi o baque fraco da lata de lixo lá fora. Quando ele voltou, seu rosto estava pálido, mas uma nova resolução havia se instalado em seus olhos.
Ele continuou a limpar a casa, removendo sistematicamente todos os vestígios de Fernanda, cada camada opressiva que o Caio mais velho havia imposto. Ele limpou com uma fúria silenciosa, limpando a poeira, arrumando os móveis para trazer de volta uma aparência do lar que uma vez imaginamos. Ele até encontrou uma caixa com minhas pinturas antigas no depósito e cuidadosamente pendurou algumas delas nas paredes agora vazias.
Ao anoitecer, a sala de estar parecia diferente. Não totalmente quente, mas não mais fria. A austeridade havia se suavizado. O ar estava mais limpo, livre da presença sufocante da traição. Ele ficou no centro da sala novamente, mas desta vez, a luz dourada do sol poente o fazia parecer menos um fantasma e mais um farol.
"Estou pronto", ele disse, a voz surpreendentemente firme. "Amanhã, finalizamos isso. Eu vou com você."
Eu olhei para ele, realmente olhei para ele. Seu amor puro e incorrupto era um escudo, um conforto que eu não sabia que precisava desesperadamente. "Ok, Caio", eu disse, um sorriso genuíno finalmente tocando meus lábios. "Amanhã."
Eu o mostrei novamente o quarto de hóspedes e, desta vez, ele se acomodou sem uma palavra. Fui para o meu próprio quarto, aquele que parecia uma prisão por tanto tempo. Mas esta noite, parecia diferente. Parecia um espaço que eu poderia reivindicar.
A ideia de estar oficialmente divorciada, de finalmente me libertar, me invadiu. Era uma libertação que eu não ousara esperar. Um novo começo, imaculado pelo passado.
Dormi profundamente, profundamente, pela primeira vez em anos. Sem pesadelos, sem me virar na cama. Apenas um esquecimento profundo e pacífico.
Na manhã seguinte, acordei com o cheiro de café recém-passado. Saí para a sala de estar, piscando na luz da manhã, e encontrei o jovem Caio me esperando. Ele parecia exausto, como se não tivesse dormido, mas seus olhos continham uma determinação inabalável. Ele tinha duas xícaras de café prontas e, em sua mão, segurava outro documento.
Ele o estendeu para mim, a mão tremendo levemente. "Encontrei isso no escritório dele", disse ele, a voz rouca. "Guardado em um arquivo marcado como 'confidencial'."
Meu olhar caiu sobre o documento. Era um relatório detalhado do acidente de carro. Não apenas os achados médicos, mas o boletim de ocorrência. Descrevia as circunstâncias, os depoimentos das testemunhas. E nomeava explicitamente Fernanda Vasconcelos como a motorista, tendo desviado erraticamente em um momento de pânico depois de me ver. Meu coração doeu ao reler as linhas. Confirmava não apenas a causa do acidente, mas também o acobertamento deliberado do Caio mais velho. Ele me culpou. Ele me permitiu acreditar que a culpa era minha.
"Ele te disse que a culpa era sua, não disse?", sussurrou o jovem Caio, seus olhos queimando com uma descrença furiosa. "Ele te deixou carregar esse peso."
Sua raiva crua, seu puro senso de injustiça, era avassalador. "Alana, você não entende", ele continuou, a voz se elevando, "isso não é mais apenas sobre nós. É sobre o que é certo. É sobre provar que ele é um monstro. Você não pode simplesmente ir embora e deixá-lo sair impune."
Ele estava certo. Não era mais apenas sobre mim. Era sobre tudo. Era sobre justiça.
"Não acredito que me torno ele", ele sussurrou, lágrimas escorrendo por seu rosto. "Não posso deixá-lo te machucar assim. Eu não vou."
Ele olhou para mim, seus olhos jovens suplicando. "Por favor, Alana. Diga-me que você não vai deixá-lo vencer."
Sua dor crua, sua lealdade feroz, era um espelho do homem que eu amei primeiro. O homem que teria feito qualquer coisa para me proteger. O homem que seu eu futuro havia obliterado. Minha resolução endureceu.
"Não, Caio", eu disse, minha voz firme, meu olhar inabalável. "Eu não vou deixá-lo vencer."
Era uma manhã tranquila na cidade, mas o ar em nossa sala de estar crepitava com um tipo diferente de energia. O jovem Caio assentiu, a mandíbula cerrada, e eu senti uma estranha sensação de paz. Pela primeira vez em muito tempo, eu não estava sozinha nesta luta. Este fantasma de um garoto era meu aliado inesperado, e com ele, senti uma onda desconhecida de força.
O Caio mais velho irrompeu pela porta da frente, o rosto vermelho de raiva e desespero. Seus olhos, selvagens e acusadores, pousaram em mim.
"O que você fez, Alana?", ele rugiu, a voz ecoando pela casa recém-limpa. "Que porra você fez?"
Ele viu os papéis amassados em minha mão, o carimbo oficial claramente visível. Seus olhos se estreitaram, depois se arregalaram em descrença. "Você realmente... você realmente protocolou?" Ele cambaleou um passo para trás, parecendo que o ar havia sido arrancado dele. "Você não ousaria."
Ele olhou para mim, depois para o jovem Caio ao meu lado, a mandíbula cerrada, o olhar desafiador. Um sorriso de escárnio torceu os lábios do Caio mais velho. "Então este é o seu joguinho, não é? Você encontrou um garoto para assinar seus papéis, pensando que poderia me enganar?" Ele apontou um dedo trêmulo para o jovem Caio. "Quem é esse substituto patético, Alana? Seu novo brinquedinho?"
Suas palavras, geralmente tão potentes, ricochetearam em mim. Seu poder sobre mim havia desaparecido. Ele era apenas um homem, um homem quebrado e raivoso, atacando.
"Ele é quem limpou sua bagunça", eu disse, minha voz calma, quase desapegada. "Aquele que se importa."
O Caio mais velho riu, um som zombeteiro e oco. "Se importa? Ah, Alana, você é tão ingênua. Ninguém se importa assim. Ele é apenas um peão na sua pequena fantasia de vingança. Você acha que isso muda alguma coisa?" Ele deu um passo mais perto, seus olhos queimando nos meus. "Você acha que pode simplesmente me substituir? Substituir o que tínhamos?"
Ele gesticulou descontroladamente pela sala. "Você acha que pode simplesmente apagar tudo? Pegar minha casa, minha vida e simplesmente ir embora?" Ele cerrou os punhos, seu corpo irradiando fúria. "Você não pode. Você ainda é minha. E você não é nada sem mim."
Suas palavras, destinadas a ferir, pareciam vazias. Olhei além dele, além da raiva, além da traição. Olhei para o jovem Caio, que permanecia firme ao meu lado, sua mão agora sutilmente repousando em meu braço, uma promessa silenciosa de proteção.
"Você está errado, Caio", eu disse, minha voz clara e firme. "Eu estou livre."
Os olhos do Caio mais velho se arregalaram, um lampejo de choque genuíno substituindo a raiva. Minha serenidade, minha falta de reação, parecia perturbá-lo mais do que qualquer briga. Ele não esperava isso. Ele esperava lágrimas, súplicas, um apego desesperado ao passado. Mas tudo o que encontrou foi uma resolução inabalável.
Sua fúria se acendeu novamente. "Livre?", ele rugiu, a voz ecoando pela casa. "Você acha que está livre? Você acha que pode simplesmente me deixar por algum... algum substituto?" Ele fuzilou o jovem Caio, depois voltou para mim. "Você é uma piada, Alana. Uma piada patética e estéril. Você não pode nem dar um filho a ninguém. Que tipo de futuro você acha que tem?"
As palavras, lançadas com veneno, eram para me estilhaçar, para me lembrar da minha ferida mais profunda. Mas desta vez, não o fizeram. Desta vez, eu tinha um escudo. A mão do jovem Caio apertou meu braço, seu corpo se tensionando, pronto para me defender.
"Você é patético", eu disse uniformemente, a palavra com gosto de justiça. "E você está sozinho."
O Caio mais velho deu um passo para trás, o rosto uma mistura de choque e incompreensão. Minhas palavras, proferidas sem emoção, haviam atingido o alvo. Ele me encarou, depois o jovem Caio, que ainda o fuzilava, sua postura protetora inabalável.
"Você não vai sair impune, Alana", ele rosnou, a voz um sussurro desesperado. "Você vai se arrepender disso. Eu juro, você vai se arrepender disso."
Ele se virou e saiu da casa, deixando para trás um silêncio que parecia pesado, mas estranhamente purificador. O jovem Caio olhou para mim, seus olhos cheios de uma mistura de raiva e preocupação.
"Ele é verdadeiramente um monstro", ele sussurrou, a voz trêmula. "Ele realmente é."
Eu simplesmente assenti, observando a porta. O período de espera havia começado. Trinta dias de liberdade, ou assim eu esperava. E eu sabia, com uma certeza que se instalou profundamente em meus ossos, que não me arrependeria. Não mais.