"Vim trazer seus documentos," eu disse, a mentira escorregando fácil da minha língua. "Você os esqueceu em casa."
Ele assentiu, beijando minha testa. "Minha Íris, sempre tão atenciosa. Você precisa descansar. Não se esforce tanto."
Eu me afastei delicadamente. "Vi Pâmela aqui hoje. Ela... ela estava aqui?"
Ele enrijeceu. Aconteceu tão rápido que, se eu não estivesse prestando atenção, teria perdido. "Pâmela? Não, claro que não. Ela estava apenas... deixando alguns documentos para Maurício." A mentira escorreu de sua boca com uma facilidade alarmante.
Olhei para ele, meus olhos fixos nos seus. "Oh. Entendi." Eu o fiz acreditar que eu acreditei.
"Você é a única para mim, Íris. Sempre. Pâmela é passado." Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto, fingindo estar exausta demais.
Meu celular vibrou. A mesma melodia de antes. Fabrício me olhou, seu rosto contorcido em uma leve carranca. "Preciso ir, meu amor. Assuntos urgentes."
"Fique," eu pedi, minha voz pequena. "Por favor."
Ele hesitou por um momento. "Eu... eu não posso, Íris. É importante para o negócio. Eu volto logo." E com isso, ele se foi, deixando-me sozinha com o cheiro persistente de seu perfume misturado ao dela.
Assim que a porta se fechou, eu pulei da cama, arrancando o soro do meu braço. A agulha rasgou minha pele, mas a dor física era insignificante comparada à dor que sentia em minha alma.
Meu corpo estava fraco, meus pulmões ardiam, mas uma determinação gelada me impulsionava. Eu tinha que ver. Tinha que confirmar.
Segui Fabrício.
Ele dirigiu até uma área isolada da floresta, um lugar que costumávamos ir quando éramos apenas um lobo e uma garota. O carro parou. E lá estava ela. Pâmela.
Ela estava abraçada a Fabrício, seus lábios nos dele. "Meu Fabrício," ela sussurrou, a voz carregada de falso afeto. "Você não sabe o quanto eu ansiava por seus braços."
Fabrício a apertou. "Você é a única, Pâmela. Íris é... uma conveniência. Uma relíquia do passado."
Meu mundo desabou. Eu ouvi isso. Com meus próprios ouvidos. 'Uma conveniência'.
Meu corpo congelou. Eu me lembrava de Fabrício me defendendo, furioso, quando outros o chamavam de 'lobo selvagem' e me desprezavam por ser apenas uma humana comum. Ele sempre disse que eu era sua força, seu coração.
Mas agora, eu era apenas uma conveniência.
A raiva me deu um pico de energia. Eu cambaleei de volta para o carro, o coração batendo dolorosamente contra minhas costelas. A humilhação, a traição me consumiam.
Voltei para casa e entrei na minha sala de confeitaria, o único lugar onde eu me sentia segura. Minhas mãos, há apenas algumas horas tremendo de dor, agora estavam firmes, cheias de um propósito cruel.
Peguei uma nova folha de papel. A segunda carta.
"Fabrício, você se lembra daquele dia na floresta? Eu me lembro..."
No dia seguinte, fui ao joalheiro. Lá estava a pulseira Coração do Oceano, a joia que Fabrício me deu. "Quero vendê-la," eu disse, a voz firme.
O joalheiro, um homem idoso e respeitoso, olhou para mim, chocado. "Senhora Lisboa, essa pulseira... é única. Seu valor é inestimável, não apenas pelo ouro e as pedras, mas pela tecnologia nela."
"Eu sei," eu disse, meus olhos fixos nos dele. "Preciso do dinheiro. E preciso que seja hoje. Agora."
Ele hesitou, mas a determinação em meus olhos o fez ceder. Ele me fez uma oferta que era mais do que generosa. Eu assinei os papéis sem olhar para trás.
Quando voltei para casa, ele estava lá. Sentado na sala de estar, me esperando. "Íris! Onde você estava? Por que saiu do hospital sem me avisar?" Seus olhos varreram meu pulso, e eu vi o choque em seu rosto quando ele notou a ausência da pulseira.
"Eu precisava de ar," eu disse, minha voz calma. Observei-o, esperando sua reação.
"E a pulseira? Onde está o Coração do Oceano?", ele perguntou, a voz subindo uma oitava.