"Leal," eu sussurrei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Eu não aguento mais. Ele me traiu. Ele me humilhou. Ele me matou."
Leal me abraçou, sua pequena cabeça em meu peito. Senti seu calor, sua lealdade inabalável. Ele era a única coisa que me restava.
Decidi. Fabrício não se livraria de mim tão facilmente. Eu seria a sua sombra, a sua maldição.
Peguei uma nova folha de papel. A última carta. Seria a que o assombraria para sempre. Aquela que revelaria a verdade de sua traição, de seu desprezo.
Liguei para Leila. Minha voz tremia, mas não de fraqueza, e sim de uma determinação férrea. "Leila, preciso de você. Agora."
Ela chegou em minutos, seus olhos arregalados ao me ver tão pálida e fraca. "Íris! O que aconteceu? Você está horrível!"
Entreguei-lhe as cartas, um pequeno pacote amarrado com uma fita preta. "Leila, preciso que você as envie para Fabrício. Uma por vez. Depois que eu me for."
Ela olhou para as cartas, depois para mim. "Depois que você se for? Íris, o que você está falando?"
"Eu estou morrendo, Leila," eu disse, a voz rouca. "A maldição. Três meses. Sem a pulseira, é ainda mais rápido."
Os olhos de Leila se encheram de lágrimas. "Não! Eu vou chamar um médico! Vamos dar um jeito!"
"Não há jeito, Leila," eu disse, balançando a cabeça. "E a pulseira... Pâmela a pegou. Fabrício a deu a ela."
Leila cerrou os punhos, a raiva brilhando em seus olhos. "Aquele desgraçado! Eu vou matá-lo!"
"Leila," eu disse, segurando sua mão. "Apenas me prometa. Prometa que você enviará as cartas."
Ela assentiu, as lágrimas escorrendo pelo rosto. "Eu prometo, Íris. Eu prometo."
"Obrigada, minha amiga," eu disse, um último suspiro de gratidão. "Você é a única que sobrou."
Levei Leila até a porta. Subi as escadas, pegando a caixa onde guardava todas as nossas lembranças. Fotos, bilhetes, o pequeno boneco de lobo que Fabrício tanto gostava.
Acendi a lareira. Uma por uma, as lembranças viraram cinzas. As fotos do nosso casamento. Os bilhetes doces. O boneco de lobo. O passado, queimado.
A maldição se intensificou. Meu corpo ardia, meu peito se apertava. Eu vi Fabrício em minha mente, o Fabrício jovem e esperançoso que eu havia amado.
A figura dele, jovem e forte, apareceu diante de mim, como um fantasma. "Não o perdoe, Íris," a voz dele parecia sussurrar em minha mente. "Ele não merece seu perdão."
Leal gania, me puxando de volta à realidade. "Vamos, meu amigo," eu disse, minha voz fraca. "Para a nossa casa na praia." A cabana onde tudo começou.
Lá, cercada pelo som das ondas e pela brisa do mar, eu deitei na areia com Leal. Meu corpo estava exausto, a maldição me consumindo.
Leal se aninhou em meu peito, me dando seu calor e conforto. "Adeus, meu Leal," eu sussurrei, sentindo a escuridão se aproximar. "Cuide-se."
A última batida do meu coração. O último suspiro. A escuridão me engolfou.
Minha alma flutuou acima do meu corpo. Eu o vi ali, deitada na areia, Leal chorando ao meu lado. Uma parte de mim se foi, mas outra parte se libertou.
Senti um puxão, uma conexão invisível. Era Fabrício. Eu podia senti-lo, a ansiedade dele, o pavor. Ele estava sentindo a perda.