Íris Lisboa POV:
Eu não conseguia controlar meus próprios pés. Eles me levaram para dentro do prédio, em direção ao mesmo elevador que Pâmela havia pego. Meu coração batia tão forte que parecia que ia explodir, as batidas ecoando em meus ouvidos.
Pâmela esperou na porta do escritório de Fabrício, uma expressão de pura antecipação em seu rosto. Ela não bateu. Simplesmente abriu a porta e entrou.
Eu me aproximei da porta, meus ouvidos aguçados, cada fibra do meu ser em alerta. Ouvi a voz de Pâmela, sedosa e provocante. "Fabrício, meu amor, senti tanto a sua falta."
Ouvi um grunhido de Fabrício. "Pâmela, você não deveria estar aqui. Íris pode aparecer a qualquer momento."
"Ah, Íris," Pâmela riu, um som cruel. "Ela é tão previsível. Uma noiva doce, mas tão... frágil. Ela nunca viria a um lugar tão 'de negócios' sem ser convidada."
Um silêncio tenso. Então, ouvi o som de tecidos roçando, um gemido abafado. Minha mente se recusava a completar a imagem, mas meu corpo sabia. O cheiro dela, o cheiro dele. Eles estavam se tocando.
A voz de Pâmela, mais perto, mais íntima. "Diga-me, Fabrício. Quem é melhor? Eu ou ela?"
Meu estômago se revirou. Eu queria correr, gritar, vomitar. Mas meus pés estavam presos ao chão, como se as raízes da minha própria dor me prendessem ali.
Ouvi Fabrício. "Pâmela, Íris é... minha responsabilidade. Mas você... você é o meu desejo." As palavras eram um tiro no meu peito.
Pâmela riu novamente. "Responsabilidade é para os fracos. Desejo é para os fortes. E Íris... ela é a fraqueza em pessoa. Aquela pulseira, aquele Coração do Oceano, é a única coisa que a mantém viva. Sem ela, ela é apenas um corpo vazio."
Através da fresta da porta, pude ver. Fabrício, com os cabelos despenteados, puxando Pâmela para mais perto. As mãos dele em sua cintura, os lábios dela nos dele. Era real. Era nojento.
"Você é minha rainha, Pâmela," Fabrício sussurrou, suas palavras ecoando as mesmas que ele me disse uma vez. "Minha única."
Pâmela olhou para ele, um sorriso vitorioso. "E Íris? Ela é apenas uma criança com um coração fraco. Ela não entende o mundo dos lobos."
Um grito se formou na minha garganta, mas não era de dor. Era da maldição. Meu coração se apertou, como se uma mão invisível o estivesse esmagando. O ar faltou. O mundo girou.
Cambaleei para longe da porta, o som da risada de Pâmela perseguindo meus ouvidos. Eu mal conseguia respirar. Cada passo era um esforço monumental.
Cheguei ao carro, minhas pernas cedendo. O motorista me olhou, seu rosto contorcido pela preocupação. "Senhora Lisboa! Você está pálida como um fantasma! Devo chamar um médico?"
"Não," eu disse, minha voz rouca. "Apenas... apenas me leve para casa. E não diga uma palavra a Fabrício."
A viagem de volta foi um inferno. Cada batida do meu coração era uma punhalada. A maldição estava se manifestando, mais forte do que nunca. Meu corpo, meu coração, estavam rendendo.
Entrei em casa, trancando-me no meu escritório. A caneta em minha mão tremia, mas não de fraqueza, e sim de uma fúria ardente. As lágrimas escorriam, misturando-se à tinta, borrando as palavras na terceira carta.
"Fabrício, você disse que eu era sua rainha. Mas eu vi você ajoelhado diante de outra..."
Quando terminei a carta, meu corpo estava em colapso. O ar se recusava a entrar em meus pulmões. Procurei desesperadamente meus remédios, a pequena garrafa de vidro. Minhas mãos escorregaram, derrubando a caixa.
Eu caí no chão, a escuridão me convidando. Minha última visão antes de tudo se apagar foi a pulseira Coração do Oceano em meu pulso, brilhando fracamente.