A maldição se manifestou com uma força avassaladora. Meu corpo inteiro parecia estar em chamas, e o ar tornou-se denso demais para respirar. Eu precisava do remédio. Desesperadamente.
Encontrei o frasco, as mãos tremendo tanto que quase derramei. Engoli as pílulas, esperando a dor diminuir. Leal lambeu minha mão, e uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Eu estava sozinha, exceto por este pequeno ser leal.
Pouco tempo depois, Fabrício chegou em casa. Ele me encontrou no sofá, Leal aninhado em meu colo. "Íris, meu amor! Você está mais pálida que o normal. Teve outro mal-estar?" A preocupação em sua voz parecia genuína, e por um instante, quase acreditei.
"Eu estou bem, Fabrício," eu disse, forçando um sorriso. A máscara era pesada, mas eu a seguraria.
Ele se ajoelhou na minha frente, seus olhos fixos nos meus. "Você está diferente. O que aconteceu?"
Ele puxou um pequeno boneco de pelúcia do bolso do seu paletó, um pequeno lobo branco. "Lembra-se disso? Você me deu quando eu estava no cativeiro. Disse que era a sua promessa de que eu voltaria para casa."
Eu me lembrei. Aquele boneco foi o símbolo da minha esperança, da minha luta, quando ele estava preso e eu arriscava minha vida para libertá-lo. "Sim, eu me lembro," minha voz falhou.
"Nós éramos apenas você e eu, enfrentando o mundo," ele disse, sua voz nostálgica. "Lutávamos por cada pedaço de pão, por cada momento de paz."
Ele se levantou, tirando do bolso uma caixa de doces. "Eu trouxe a torta daquela confeitaria que você tanto gosta. A que faz o seu sabor preferido."
Meu estômago se revoltou.
Eu não podia mais suportar. "Fabrício," eu comecei, a voz firme. "Você está me traindo, não está?"
Ele enrijeceu, a caixa de doces quase escorregando de suas mãos. "Íris! Como você pode pensar uma coisa dessas? Eu te amo! Você é a minha esposa, a minha rainha!"
Na manhã seguinte, Fabrício me acordou com beijos no rosto. "Preparei uma surpresa para você, meu amor," ele sussurrou. "Uma celebração do nosso amor."
Ele havia organizado uma cerimônia de sacrifício, um ritual antigo do clã, para abençoar nosso futuro. O salão estava cheio dos membros do clã. Era para ser um dia de união e promessas.
Mas então, Pâmela apareceu. Com sua barriga proeminente, ela parecia um farol de traição. Meu coração doeu ao vê-la, mas a expressão de Fabrício era ainda mais perturbadora para mim, uma mistura de pavor e culpa.
De repente, Pâmela desabou no chão, gritando. "Aii! O bebê! Estou sentindo uma dor terrível!"
Os curandeiros do clã correram até ela. Um deles, com um semblante grave, disse: "Ela foi envenenada! O bebê corre perigo! Precisamos de magia de cura poderosa, Fabrício!"
Pâmela, com os olhos lacrimejantes, olhou para mim. "Íris... por favor... a pulseira... o Coração do Oceano... só você pode nos salvar!"
Fabrício olhou para mim, sua expressão dividida entre desespero e um pedido silencioso. Ele sabia o que a pulseira significava para mim. Ele sabia que ela me mantinha viva.
"Fabrício, Íris é a única que pode nos ajudar! Nosso bebê!", Pâmela choramingou, implorando.
Minha mão tremeu quando eu tirei a pulseira do meu pulso. A energia vital fluiu para fora do meu corpo, e a maldição reagiu, apertando minhas entranhas. Eu sabia que estava assinando minha própria sentença de morte, antecipando o cronômetro da minha vida.
Entreguei a pulseira para Pâmela, minha voz um sussurro frio. "A vida de uma criança é mais importante." Uma mentira, mas uma bela mentira, não era?
A pulseira brilhou intensamente nas mãos de Pâmela, e ela se recuperou rapidamente. Fabrício parecia aliviado.
Eu me virei e saí, sem olhar para trás. A dor física era excruciante, mas a dor na minha alma era infinitamente maior.
Meu celular vibrou. Uma notificação de vídeo. Pâmela. Ela estava em um quarto de hospital, com um sorriso vitorioso. "Fabrício está tão orgulhoso do nosso bebê. E ele me deu a Coração do Oceano de presente. Disse que você não precisava mais."