Só com um beijo
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Capítulo 6 (-6-)

Anna entrou nervosa para a entrevista; precisava fazer tudo certo. Levava meses tentando encontrar um trabalho que ao menos os tirara dos apertos mais urgentes. Tinha colocado sobre os ombros o peso e a responsabilidade de seu lar; se não fosse por Alex, teria voltado para a casa dos pais para trabalhar no campo quando as coisas ficaram difíceis. Não quis deixá-lo sozinho, ao acaso; ele não tinha nada nem ninguém.

- Anna? - perguntou um homem, aparecendo na porta.

- Sim.

- Entre, por favor... Bem, sente-se... Não vamos prolongar muito isto. Sei que veio recomendada pelo senhor Walker. No entanto, como deve entender, preciso fazer algumas perguntas de praxe. - Ele entrelaçou os dedos sobre a mesa.

A moça parecia comum - bonita, mas simples - e dava para perceber que precisava do emprego. Estava extremamente nervosa, mexendo nas mãos para tentar se acalmar. Como alguém assim podia ser amiga de Lali Walker?

- Diga-me, fale sobre suas experiências de trabalho.

- Sim... Atualmente tenho um trabalho de meio período em uma cafeteria.

- Que tarefas realiza?

- Todas.

- Todas?

- Preparo café, faço a limpeza, cubro os turnos dos meus colegas quando faltam... Às vezes fecho o caixa...

- Entendo...

O semblante do homem mostrava claramente que ele não estava impressionado. Que tipo de vaga poderia existir para alguém com esse perfil em um lugar como aquele? Ainda assim, ela estava disposta a aceitar qualquer trabalho.

Outra indicada da prima do Diretor. Os gritos de Owen por causa daquele desastre anterior ainda ecoavam em sua cabeça. Mas aquela ali não se parecia em nada com a outra - não estava tão bem vestida e maquiada, nem usava salto alto ou saia curta.

Anna percebeu a dúvida dele e resolveu se arriscar um pouco mais:

- Serei sincera, não vim com grandes expectativas. De verdade, eu preciso trabalhar, e sei que posso ser útil em algum lugar; só preciso de uma oportunidade.

- Entendo...

A única vaga disponível que lhe ocorreu, para alguém sem outra experiência além de fazer café, era na limpeza. E Anna aceitou feliz. À noite, às vezes à tarde; não era nada difícil. E começaria no dia seguinte.

A primeira coisa que fez ao sair daquele enorme prédio foi correr para a primeira entrada do metrô que encontrou. Não precisou viajar muito para encontrá-lo, tocando violino entre os vagões e passando um boné. Desceram na estação perto do apartamento, e Anna, entusiasmada e feliz, contou que tinha conseguido um emprego.

- Limpando? - perguntou ele, com um traço de desagrado.

- É o que tem. Não posso me dar ao luxo de ser exigente; precisamos do dinheiro.

O violinista sem casa nem trabalho era, ironicamente, um classista. Não tinha nada, vivia às custas da namorada, mas ainda assim tinha pretensões. Para ele, certos trabalhos não eram dignos - eram até motivo de zombaria. Sempre dizia que o universo iria prover tudo o que desejassem, mas ao que parecia, o universo era surdo.

As palavras de desprezo não apagaram o entusiasmo nem a alegria de Anna. Ela sempre tinha trabalhado e sabia que o esforço traz resultados.

Saiu do apartamento naquele primeiro dia às 6h30. Seu turno começava às 8, mas ela queria chegar antes. Caminhava com a sensação de que finalmente as coisas começariam a se acertar, que a água que vinha encobrindo sua cabeça baixaria um pouco - e que, enfim, ela poderia respirar.

A nova oportunidade que surgia para ela era mais do que uma renda extra. Era voltar a sentir aquela sensação de realização, de dar mais um passo adiante. Quando a esperança se renova, seu sabor é doce, quase picante no fundo do estômago, e o ímpeto cresce; o caminho se ilumina um pouco.

- Então você é a nova? Sou Maria, a encarregada.

- Muito prazer, sou Anna.

- Bom, Anna, você vai cuidar da limpeza dos escritórios da Presidência. Recomendo que tenha bastante cuidado nos detalhes, porque ali trabalham os chefes. Se, às vezes, entrar em alguma sala e tiver alguém, deixe para depois. Alguns têm o costume de trabalhar até tarde. O que acha?

- Perfeito!

A mulher lhe mostrou onde estavam todos os materiais de que precisaria para suas tarefas e fez um tour pelo lugar. Não era nada complicado, e ela poderia descansar e usar a copa caso tivesse fome. Ficaria sozinha naquele andar enorme com apenas três escritórios.

Arregaçou as mangas, prendeu o cabelo e começou. Aquele era o primeiro dia do início de sua mudança; precisava fazer tudo com capricho e dedicação para manter o emprego.

Quando terminou, já era quase meia-noite, e o último metrô havia passado. Teria de pegar o ônibus. Por sorte, Alex tinha ido esperá-la para que não voltasse sozinha.

- Como foi? - perguntou ele.

Anna contou com aquele entusiasmo e otimismo que surgem da satisfação de um trabalho bem feito, mas ele mal a ouviu; não se importava.

- E quando você recebe?

- No fim do mês...

- Bom, não falta tanto.

Mas chegar em casa depois de trabalhar foi dar de cara com a pilha de pratos sujos na cozinha, a roupa ainda na máquina, a cama desfeita e as compras sobre a mesa, dentro das sacolas.

- Você não fez nada... - ela reclamou.

- Ah, desculpa. Eu também trabalhei a tarde inteira - respondeu ele, já com tédio.

O que ele pretendia? Será que queria que ela fizesse também as tarefas domésticas?

- Pelo menos podia ter lavado os pratos...

- O quê? - Ele nem estava prestando atenção; já tinha ligado a televisão.

- Nada.

Ele quase não contribuía com a casa, passava o dia todo nas ruas tocando e também não ajudava nas tarefas mais básicas. Aquela noite, Anna foi dormir às duas da manhã; às oito tinha aula, ao meio-dia começava o trabalho na cafeteria e depois seguia para a empresa. Respirou fundo enquanto o via roncar ao seu lado e se ajeitou na cama.

Mas as semanas passaram e, de repente, ele parou de esperá-la no ponto do ônibus. Assim, ela voltava sozinha e encontrava sempre a mesma cena: o apartamento bagunçado. A desculpa dele era que, como terminava de tocar com o último metrô - que o deixava do outro lado da cidade -, não tinha como voltar de ônibus e depois pegar outro para esperá-la. Era "cansativo demais".

Se ao menos encerrasse sua "jornada" no penúltimo metrô, poderia esperá-la tranquilamente, e ainda o faria na estação perto do trabalho dela, sem precisar pegar ônibus algum.

Na verdade, ele não se importava se Anna chegava bem em casa; Alex não se importava com nada além de se tornar um músico famoso e encontrar sua própria essência.

Ele sempre encontrava desculpas para justificar seu fracasso. Era mais fácil culpar o "sistema arbitrário" em que vivia - que exigia "entregar a vida" a um trabalho - do que encarar sua mediocridade e tentar melhorar. É assim que os covardes agem: escondem-se atrás de teorias ridículas para dar sentido a uma vida vazia, em vez de aceitar seus erros e corrigi-los. Quão difícil pode ser vestir as calças e lutar? Para Alex, muito difícil. Faltava-lhe aquilo que em Anna sobrava: coragem.

Tinha tanto medo da vida e das responsabilidades que buscava até o mais inverossímil e ridículo para se esconder. Como na tarde em que disse, muito sério e concentrado, que finalmente tinha descoberto o motivo de sua apatia por tudo - exceto por suas teorias místicas.

- Tenho TDAH - declarou solenemente.

- O quê? - perguntou Anna, surpresa.

- Sim, é isso que eu tenho. Por isso tudo me entedia e me custa ficar quieto num lugar só. - E seu rosto estava tão sério que, por um momento, ela acreditou.

- Como você sabe?

- Fui diagnosticado.

- Você foi ao médico? Quando?

- Não! Que médico? Eles só sabem encher a gente de comprimidos.

- Então?

- Fiz um teste de 10 perguntas num site especializado nesse tipo de comportamento.

Só podia ser piada! Anna o olhou cansada e exausta. Mais uma história, mais uma justificativa sem sentido.

O mais triste era que ele realmente acreditava nisso - acreditava que um teste aleatório em uma página qualquer tinha o mesmo peso de um diagnóstico feito por um profissional que passou dez anos mergulhado nos livros. Sem mencionar o insulto que isso representava para pessoas que verdadeiramente convivem com a condição todos os dias.

Um covarde.

            
            

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