Olhei para o soro no meu braço, uma linha fina me conectando a este presente estéril. Este era o meu alerta. Fechei os olhos, uma única lágrima escapando. Eu estava farta. Farta das mentiras, farta da dor, farta dele. Um pensamento, claro e nítido, perfurou a névoa: Europa. Eu aceitaria aquela oferta de emprego. Lisboa. Uma nova vida.
Minha mente, no entanto, se recusava a ficar no presente. Ela reprisava nosso passado, um cruel rolo de destaques. Guilherme. Meu Guilherme. Aquele que costumava rastrear meus voos pelo país, que me surpreendia em aeroportos obscuros, com um buquê dos meus lírios favoritos na mão.
Ele aparecia sem avisar no meu apartamento em Florianópolis, tendo voado de São Paulo só para ver meu rosto por um fim de semana. Ele me mandava mensagens de seu escritório em São Paulo: "Contando os minutos para poder te abraçar de novo." Ele sempre me encontrava, não importava quão remota fosse minha localização para uma conferência de tecnologia. Sua dedicação era um farol em nossa realidade à distância, um testemunho do amor que eu acreditava ser inabalável.
Mas então, o farol começou a piscar. As ligações semanais se tornaram quinzenais, depois esporádicas. As chamadas de vídeo, que já foram nossa tábua de salvação, tornaram-se breves e tensas. "Ocupado demais", ele dizia. "Muitos prazos." Meu coração se contraía.
Lembrei-me das inúmeras vezes que mandei uma mensagem para ele, apenas um simples "Pensando em você". Às vezes, ele não respondia por horas. Às vezes, respondia com um genérico "Eu também". Meus dedos pairavam sobre o teclado, querendo exigir respostas, querendo gritar, mas o medo me segurava. Medo de afastá-lo ainda mais, medo de confirmar o abismo crescente entre nós.
Uma noite, pedi para fazermos uma chamada de vídeo. "Só cinco minutos", implorei. A resposta dele foi rápida, quase impaciente. "Não posso, Clara. Meu cabelo está uma bagunça. Não quero que você me veja assim." Essa era nova. Em dez anos, ele nunca se importou com sua aparência para mim. Senti uma pontada familiar de autorrecriminação. Eu estava sendo exigente demais? Eu não estava sendo compreensiva o suficiente com o estresse dele? Engoli minha decepção, pedindo desculpas por incomodá-lo.
Então veio a noite em que ouvi outra voz na ligação, leve e feminina, rindo ao fundo. "Quem era?", perguntei, um nó se formando no meu estômago. "É só a Karina", ele disse, "minha estagiária. Ela está trabalhando até tarde comigo." A linha ficou muda um momento depois. Ele havia desligado.
Parei de iniciar as ligações. Parei de mandar as mensagens de bom dia. Ele não pareceu notar. Ou se notou, não se importou. O silêncio se estendeu entre nós, um vazio crescente. Eu me sentia doente de saudade, com um luto que não tinha nome.
Uma manhã, meu mundo desmoronou ainda mais. Tentei ligar para ele, meu coração doendo para ouvir sua voz, mesmo que por um momento. Mas uma voz fria e robótica me informou: "O número para o qual você ligou não está disponível." Meu número estava bloqueado. Olhei para a tela, as lágrimas embaçando minha visão. Meu estômago se contraiu e uma onda de tontura me atingiu. O estresse do trabalho, o peso esmagador de nosso relacionamento moribundo, era demais. Eu sentia como se estivesse me afogando.
Ele ligou de volta horas depois, de um número diferente. "Clara", ele disse, sua voz tingida com uma estranha mistura de irritação e preocupação fingida. "A Karina deve ter mexido no meu celular. Sabe como ela é, sempre fazendo brincadeirinha. Sinto muito." Uma brincadeirinha? Eu deveria acreditar nisso?
Ele me mandou uma mensagem mais tarde, um pedido de desculpas embrulhado em uma notificação de transferência bancária. Uma quantia substancial. "Pelo seu incômodo", dizia. "Compre algo legal para você." Meu incômodo? Nossa década juntos, minha dor, era tão facilmente quantificável, tão baratamente descartada? Ele achava que podia comprar meu perdão, amenizar sua traição com dinheiro.
Não foram as brincadeiras de Karina que me machucaram. Não foi a distância ou as exigências de seu trabalho. Foi ele. Sua indiferença. Suas mentiras. Seu completo descaso pelos meus sentimentos. Ele era o maior dano. Ele era a maior ferida.
No entanto, mesmo depois de tudo isso, uma parte tola de mim se agarrou à esperança. Comprei uma passagem, decidi deixar minha carreira em ascensão em Florianópolis, me convenci de que a proximidade consertaria tudo. Eu me mudaria para São Paulo, fecharia a distância, reacenderia o que tínhamos. Contei a Júlio, nosso amigo em comum, sobre meus planos, minha voz cheia de um otimismo desesperado.
Ele fez uma pausa, então sua voz baixou, pesada de pena. "Clara", ele disse, "eu não sei como te dizer isso, mas... Guilherme e Karina? Eles estão em todos os lugares. Jantares, noites até tarde, até mesmo indo para a casa de campo da família dele nos fins de semana. Todo mundo no escritório sabe."
As palavras me atingiram com a força de um golpe físico. A esperança que eu havia nutrido tão desesperadamente, o futuro que eu havia imaginado, se estilhaçou em um milhão de pedaços. A verdade, feia e inegável, finalmente me encarou. Guilherme não havia mudado. Ele havia seguido em frente. Ele se fora. E eu, por tanto tempo, estive agarrada a um fantasma.