Quando voltei para o apartamento, o ar ainda estava pesado com o cheiro de seu perfume e o leve perfume floral dela. Fui direto para o notebook dele. Ele o havia fechado, mas o registro de atividades recentes era condenatório. Uma nova janela de chat estava aberta, uma troca frenética entre ele e Karina. As mensagens dela eram uma torrente desesperada. "Você tem que escolher, Gui! Ou eu ou ela!" Ele não havia respondido às últimas cinco mensagens dela. As confirmações de leitura estavam ativadas.
Meu coração martelava. Ele finalmente estava vendo quem ela era, pensei, um lampejo de algo próximo ao triunfo misturado com os resquícios amargos da minha dor.
Naquele exato momento, a chave dele girou na fechadura. Ele entrou, o rosto tenso, parecendo não ter dormido. Ele me viu imediatamente, de pé ao lado do notebook. Seus olhos saltaram de mim para a tela, depois de volta para mim. Um rubor lento e agonizante subiu por seu pescoço.
"Você acordou", ele disse, a voz neutra. "Você... você viu?"
"Vi o quê, Guilherme?" Minha voz estava calma, calma demais. "Que a Karina te deu um ultimato? Ou que você está prestes a me pedir em casamento, tão casualmente, como se fosse uma consulta médica?"
Ele se encolheu. "Eu ia. Hoje à noite." Seus olhos imploravam por compreensão, mas não vi remorso, nem amor genuíno. Apenas um homem encurralado.
Ele caminhou até a mesa de jantar, tirou uma pequena caixa de veludo do bolso. Ele não se ajoelhou. Ele nem mesmo olhou para mim. Apenas a abriu, revelando um anel de diamante que brilhava zombeteiramente sob a luz forte da cozinha. "Case comigo, Clara. Vamos nos casar. Em breve. No próximo mês."
Meu estômago revirou. Era isso? O grande gesto, desprovido de qualquer sentimento genuíno? "No próximo mês?", ecoei. "E depois, vamos começar a tentar ter um bebê? É esse o cronograma que você traçou para nossas vidas, agora que a Karina está te causando problemas?"
Sua mandíbula se contraiu. "Estamos juntos há dez anos, Clara. Está na hora. Meus pais estão perguntando. Não estamos ficando mais jovens." Ele falou sobre isso como uma tarefa, uma caixa a ser marcada.
Uma raiva fria, diferente de tudo que eu já senti, começou a queimar dentro de mim. Minhas mãos se fecharam em punhos. "Hora? Pais? É por isso que você quer se casar comigo, Guilherme? Porque está na 'hora'? Onde está o romance? Onde está o pedido de casamento com que sonhei, aquele em que você realmente quer se casar comigo?"
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Eu não tenho tempo para grandes gestos, Clara. Você sabe como estou ocupado. É desnecessário. Nós sabemos o que sentimos um pelo outro."
Desnecessário. A palavra ecoou em minha mente. Desnecessário para mim, mas não para Karina, não é? Lembrei-me dos presentes caros que ele comprou para ela, das viagens noturnas para buscá-la, do apelido cuidadosamente escolhido. Todos os floreios românticos que ele se recusou a me dar, ele prodigalizou a ela.
Ele tirou a carteira, extraindo uma pilha de notas de cem reais, depois vários cartões de crédito. Ele os colocou na mesa ao lado do anel. "Isso é uma entrada para o novo apartamento. E isso é para o seu vestido de noiva, sua lua de mel, o que você quiser. Apenas me diga que tipo de casamento você quer, e eu farei acontecer. É o suficiente?"
Olhei para o dinheiro, depois para o anel, depois para seu rosto impassível. Ele parecia um estranho. Este não era o homem que eu amava. Este não era o homem com quem passei dez anos. Esta era uma casca vazia, oferecendo-me dinheiro e obrigação em vez de amor.
Pensei nas inúmeras noites que ele passou pacientemente me explicando seus projetos arquitetônicos, seus olhos brilhando de paixão. Pensei na primeira vez que ele me disse que me amava, sua voz tremendo de sinceridade. Onde estava aquele homem? O que aconteceu com ele?
Eu estive tão focada na minha carreira, em provar a mim mesma, que o deixei escapar? Ele se sentiu negligenciado, desvalorizado? A culpa era toda minha? Procurei desesperadamente por uma razão, uma justificativa para sua traição que de alguma forma me deixaria menos quebrada. Não. Minha ambição não desculpava seu engano.
"Guilherme", eu disse, minha voz perigosamente suave. "Você ainda me ama?"
Ele hesitou. Uma pausa longa e agonizante. Ele desviou o olhar, depois voltou para mim, seus olhos nublados. "Claro, Clara. Você é... você é a minha vida." As palavras eram ensaiadas, desprovidas de calor. Seu olhar ainda vacilava, um sinal revelador que agora eu reconhecia como uma mentira.
"Não, você não ama", sussurrei, a percepção uma nova facada. "Você não me ama. E isso dói, Guilherme. Dói mais do que qualquer coisa." Lágrimas brotaram em meus olhos, não de tristeza, mas de uma clareza profunda e avassaladora.
"Não seja dramática, Clara", ele retrucou, sua paciência se esgotando. "Você é sempre tão emotiva. Apenas aceite o anel. Vamos seguir em frente."
Algo dentro de mim se partiu. Eu o empurrei, com força. "Seguir em frente?! Você acha que isso é seguir em frente?! Você acha que sou algum prêmio a ser reivindicado, um dever a ser cumprido?!"
Minha voz se elevou, crua e trêmula. "Eu não vou me casar com você, Guilherme. Não assim. Nunca."