Quando cheguei, o saguão era uma cena caótica, um turbilhão de flashes de câmeras, sussurros abafados e gritos raivosos. Figuras respeitáveis em ternos impecáveis, seus rostos sombrios, cercavam Karina. Ela estava lá, uma imagem de inocência fingida, seu cabelo loiro desgrenhado, lágrimas traçando cuidadosamente caminhos por suas bochechas.
"Senhorita Harding", uma voz severa bradou, pertencente a um sócio sênior, Sr. Medeiros, seu rosto furioso. "Isso não é apenas um descuido. Isso é negligência grosseira. A integridade estrutural da Torre Paulista está comprometida. Você entende a gravidade disso? E esta não é a primeira vez que você corta caminho, não é? Nós ignoramos seus 'erros' anteriores porque o Guilherme garantiu por você, porque ele te protegeu."
Karina desabou em soluços mais altos, agarrando-se ao braço do Sr. Medeiros como uma criança aterrorizada. "Por favor, Sr. Medeiros! Eu não quis! Foi... um acidente! Guilherme, por favor, diga a eles!" Seus olhos, arregalados e lacrimejantes, se voltaram para Guilherme, que estava a poucos metros de distância, o rosto pálido e sombrio.
Ele avançou, colocando-se entre Karina e o furioso Sr. Medeiros. "Ela é jovem, Sr. Medeiros. Ela cometeu um erro. Eu assumo total responsabilidade. Eu supervisionei o projeto. A culpa é minha." Sua voz era baixa, resoluta.
Meu sangue gelou. Ele disse. Ele realmente disse. As palavras me rasgaram, despedaçando os últimos vestígios do meu autocontrole. Avancei, a multidão se abrindo como água diante de mim, até que fiquei cara a cara com ele.
"Você está assumindo a culpa por ela?", perguntei, minha voz mal um sussurro, mas cortou o barulho. Então, sem pensar, minha mão voou. O estalo agudo da minha palma contra sua bochecha ecoou pelo saguão silencioso. Sua cabeça virou para o lado, uma marca vermelha florescendo em sua pele pálida.
"Você ficou louco, Guilherme?!", gritei, minha voz tremendo com uma mistura de fúria e incredulidade. "Você sabe o que está fazendo? Tudo pelo que você trabalhou, tudo pelo que nós trabalhamos, você está jogando tudo fora por ela?" Meus olhos ardiam, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Lembrei-me das noites sem dormir, do café sem fim, dos sacrifícios que ambos fizemos. Nosso sonho de construir uma vida juntos, de projetar casas que permaneceriam por gerações. Sua paixão, seu brilhantismo. Tudo por isso?
"Você me prometeu, Guilherme! Você prometeu que construiríamos algo significativo juntos! Você me prometeu um futuro!" As palavras eram um apelo desesperado.
Ele me empurrou, seus olhos frios, quase alienígenas. "Fique fora disso, Clara. Esta é minha responsabilidade. Não interfira."
"Interferir?!", minha voz quebrou. "Você está destruindo sua vida! Você está nos destruindo! Você quer arruinar tudo?!" Minhas mãos voaram para seus ombros, sacudindo-o.
Outro estalo agudo. Minha mão conectou-se com sua bochecha novamente, mais forte desta vez. A dor na minha mão não era nada comparada à agonia em meu coração.
Ele agarrou meus pulsos, seu aperto forte. "Você não entende, Clara", ele disse, a voz tensa. "Ela é jovem. A carreira dela estaria acabada antes mesmo de começar. Ela não merece essa mancha em seu histórico."
"E quanto a mim, Guilherme?", gritei, as lágrimas embaçando minha visão. "E quanto ao meu histórico? Meus sentimentos? Meus dez anos? Eu não sou jovem o suficiente para ser ignorada? Não sou inocente o suficiente para ser protegida? Sou apenas um dano colateral em seu senso distorcido de cavalheirismo?"
Seus olhos piscaram, um lampejo momentâneo de luta, um vislumbre do homem que eu conhecia, mas foi rapidamente substituído por aquela mesma resolução fria. "Eu vou ficar bem, Clara. Vou superar isso. Vou sair dessa confusão. Apenas... espere por mim."
"Esperar por você?", ri, um som áspero e sem humor. "Você se ouve? Por quanto tempo, Guilherme? Um ano? Dois? Cinco? Minha juventude não é uma mercadoria para você desperdiçar! Minha vida não é um botão de pausa para seus erros!"
"Eu não me importo com o casamento, Guilherme! Eu me importo conosco! Com uma parceria real, um futuro real, não uma obrigação! E você", apontei um dedo trêmulo para ele, "você escolheu sua obrigação."
"Dez anos", sussurrei, minha voz crua de desespero. "Dez anos da minha vida. Desperdiçados. Idos. Assim." Puxei minha mão de seu aperto com toda a minha força, a luta um rompimento simbólico de laços.
"Acabou, Guilherme", eu disse, minha voz estranhamente calma, as palavras um toque de finados para nosso passado compartilhado. "Nós terminamos."
Ele estendeu a mão para mim, seus olhos arregalados com um pânico súbito, mas antes que pudesse me tocar, uma voz estridente cortou o ar.
"Não, não terminaram!", Karina gritou, passando pelo Sr. Medeiros, seus olhos brilhando com uma malícia triunfante. "Porque ele vai ser pai! Estou grávida do filho dele!" Ela me encarou, um sorriso cruel torcendo seus lábios. "E você, Clara, é só uma velha amargurada que não conseguiu segurar o próprio homem!"