Mas Karina, encorajada por sua suposta carta na manga, o ignorou. Seus olhos, ainda cheios de despeito, encontraram os meus. "Não é mentira! Lembra daquela noite, Guilherme, algumas semanas atrás? Quando a Clara estava doente com gripe? Você disse a ela que tinha uma 'emergência com um cliente' e passou a noite na minha casa. Você disse que precisava de consolo. Você disse que eu era tudo para você!" Ela sorriu, um brilho cruel em seus olhos. "Nós não apenas nos consolamos, não é, Guilherme? Nós fizemos um bebê!"
O ar saiu dos meus pulmões em um suspiro doloroso. Aquela noite. Eu estava queimando de febre, sozinha no nosso apartamento em Florianópolis, mandando mensagens para ele em busca de conforto. Ele prometeu ligar de volta, depois ficou em silêncio. Ele estava com ela. Ele estava com ela, fazendo um bebê, enquanto eu estava doente e sozinha, sentindo falta dele. A ironia era um manto amargo e sufocante.
"Sua nojenta, dissimulada, patética!", gritei, minha voz crua com uma fúria que queimou toda a razão. "Vocês dois! Vocês se merecem! Vão para o inferno!" Virei-me nos calcanhares, abrindo caminho pela multidão atônita, indo cegamente em direção à saída.
"Clara! Espere! Não é verdade!" A voz desesperada de Guilherme me seguiu, seus passos batendo atrás de mim. Ele agarrou meu braço, me puxando de volta.
Reagi instintivamente. Minha mão disparou, um tapa ardente em seu rosto. O som foi agudo, definitivo. "Não ouse me tocar! Não ouse tentar me explicar nada! Suas explicações são tão inúteis quanto suas promessas, Guilherme!"
Meus olhos, vermelhos e ardentes, focaram em seu rosto. "Você se lembra, Guilherme? Você se lembra quando eu tive aquela gripe terrível? Eu estava sozinha, a quilômetros de distância, implorando por uma ligação, por algum conforto. Você me disse que tinha uma 'emergência com um cliente'. Agora eu sei que sua emergência era a Karina. Seu 'conforto' era a cama dela."
Inclinei-me, minha voz um sussurro venenoso. "Você ainda se lembra da minha cor favorita? Você se lembra do dia em que nos conhecemos? Você se lembra de alguma coisa sobre mim que não envolva sua conveniência ou sua culpa?"
Ele ficou lá, em silêncio, o olhar fixo no meu rosto, desprovido de qualquer resposta. Seu silêncio foi a confissão mais alta.
Com uma mão final e trêmula, tirei o anel de noivado, aquele que ele finalmente me dera depois de dez anos, do meu dedo. Parecia frio e estranho. Levei meu braço para trás e o arremessei com toda a minha força no chão de mármore polido. Ele deslizou, quicou e pousou com um baque patético, um pequeno e brilhante símbolo de nosso futuro estilhaçado.
"Eu nunca vou te perdoar, Guilherme Cooper", eu disse, minha voz oca. "Nunca. Arrume sua vida. Ou não. Eu não me importo." Endireitei os ombros, sentindo uma estranha clareza. "Esta década da minha vida, estes dez anos com você, foram um desperdício colossal. Um desperdício doloroso, humilhante e totalmente inútil."
Olhei para ele uma última vez, um estranho com um rosto familiar, depois me virei e fui embora, sem olhar para trás.