Capítulo 6

O aperto de Caio no volante se intensificou, seus nós dos dedos brancos. As veias em suas mãos pulsavam, um testemunho visível da fúria que fervia sob sua pele. O carro deu um solavanco para frente, acelerando bruscamente.

"Caio, devagar!" Ouvi o grito fraco de Karina do banco de trás. "Não estou me sentindo bem!"

Ele instintivamente aliviou o pé do acelerador, olhando ansiosamente no retrovisor. "Karina, você está bem?" Sua voz estava tingida de preocupação imediata, um contraste gritante com a fúria fria que ele havia dirigido a mim momentos antes. "Me desculpe, meu amor. Não quis te assustar."

Karina gemeu suavemente, então seus olhos, enganosamente doces, encontraram os meus no retrovisor. Um brilho de triunfo, rapidamente mascarado, cruzou seu rosto. Ela estava gostando disso, do drama, da atenção.

Ignorei os dois. O carro parou no meio-fio familiar. Abri a porta antes que Caio pudesse sequer colocar o carro em ponto morto. Não hesitei. Fui direto para minha antiga casa, aquela da qual eu havia fugido, aquela que guardava tantos fantasmas.

A porta da frente se abriu com um gemido, revelando um corredor familiar, congelado no tempo. O ar estava pesado com poeira e memórias. Meu antigo quarto, intocado, silencioso. Empurrei a porta. O cheiro fraco de lavanda, o favorito da minha mãe, ainda pairava.

Meus olhos caíram sobre uma fotografia emoldurada na minha mesa de cabeceira, amarelada pelo tempo. Era uma foto da minha mãe e eu, tirada anos atrás. Ela estava radiante, o braço envolto amorosamente em meus ombros, seu sorriso cheio de calor. Meu dedo traçou seu rosto, uma onda de saudade me invadindo. A dor ainda era aguda, ainda real.

"Alana, você está passando tempo demais com o Caio," sua voz, suave mas firme, ecoou em minha memória. "Suas notas estão caindo. E esse rapaz... ele não é certo. Ele é possessivo demais. Controlador demais."

Lembrei-me do meu eu adolescente, rebelde e apaixonada, revirando os olhos. "Mãe, ele me ama! E você só está com ciúmes porque o papai dá mais atenção à tia Clara e à Karina do que a você!"

As palavras foram ditas em um acesso de raiva, impensadas e cruéis. O rosto dela empalideceu, seu sorriso desaparecendo. Ela apenas me encarou, um olhar profundo e ferido em seus olhos, antes de se virar em silêncio.

Dias depois, ela se foi. Um bilhete, breve e comovente. Um salto da varanda, uma fuga desesperada de uma vida de traição e solidão. E minhas palavras cruéis, tão descuidadamente lançadas, tornaram-se uma marca eterna na minha alma.

Enterrei o rosto nas mãos, um soluço silencioso sacudindo meu corpo. O arrependimento era um gosto frio e amargo na minha boca. Ela tinha visto tudo, as rachaduras em nossa família, a insidiosa infiltração de Karina e sua mãe. Ela tentou me avisar, e eu, em meu amor ingênuo e egoísta, a afastei.

Uma batida súbita e violenta da porta me fez pular. Caio estava lá, o rosto uma máscara de fúria primal. Ele bateu a porta, nos prendendo no pequeno quarto. Ele caminhou em minha direção, seus olhos queimando com uma intensidade perturbadora.

Ele agarrou meus ombros, me empurrando contra a parede. Seus dedos, surpreendentemente gentis mas firmes, traçaram a marca fraca em meu pescoço. Sua respiração estava quente em meu rosto.

"Quem fez isso?" ele rosnou, sua voz baixa e perigosa. "Quem fez isso com você? Foi algum médico patético, algum residente tentando te provocar?" Ele passou o polegar sobre a marca novamente, um gesto possessivo, quase violento. "Você fez isso em si mesma, Alana? Para me provocar?"

Suas palavras eram tão absurdas, tão completamente divorciadas da realidade, que uma risada histérica borbulhou em minha garganta. Ele realmente acreditava que eu ainda estava obcecada por ele, ainda tentando chamar sua atenção. A arrogância era de tirar o fôlego.

"Me solta, Caio," eu disse, empurrando seu peito, tentando criar algum espaço entre nós. Ele estava perto demais, sufocante demais.

Nesse momento, a porta se abriu novamente. Karina estava lá, as mãos sobre a boca, os olhos arregalados de choque fingido. Lágrimas brotaram neles, perfeitamente cronometradas.

"Caio? Alana? O que está acontecendo aqui?" ela sussurrou, sua voz tremendo. "Vocês... vocês voltaram?"

Eu zombei, um som frio e áspero. "Não se iluda, Karina," eu disse, minha voz pingando desdém. "Ele não saberia o que fazer com uma mulher de verdade, muito menos com uma mulher que sabe o seu valor."

O aperto de Caio em meus ombros se intensificou, seu rosto contorcido de raiva. O maxilar de Karina se cerrou, sua fachada inocente rachando por um momento. O ar no quarto estava denso com ameaças não ditas, com uma rivalidade que era mais profunda do que qualquer um deles poderia compreender.

                         

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