A Rosa Traída Renasce
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Capítulo 3

Flora Viana POV:

Guilherme interpretou mal meu silêncio. Ele provavelmente pensou que eu estava emburrada, talvez com ciúmes, mas ainda leal, ainda dele. Ele se ajoelhou diante de mim, tirando uma pequena caixa de veludo do bolso do paletó. Não era o anel que eu vi na mensagem da Carla, mas um pingente de diamante menor e elegante.

"Flora", ele começou, sua voz um sussurro praticado de ternura. "Eu sei que estive distante ultimamente. Trabalho, você sabe. Mas você está sempre na minha mente. Isto é para você. Um símbolo do meu amor inabalável."

Ele estendeu a mão, o pingente balançando, brilhando sob a luz do lustre. Ele esperava que eu me derretesse, perdoasse, caísse de volta em seus braços. A ironia era uma queimadura amarga na minha garganta. Ele estava me dando bugigangas enquanto dava a Carla seu nome, seu futuro. E ele estava fazendo isso com tanta facilidade casual, tanto charme praticado. Ele realmente acreditava que poderia ter as duas coisas.

"Guilherme, eu vi você", eu disse, minha voz plana, desprovida de emoção. "Com a Carla. O noivado."

Seu rosto ficou rígido. A máscara terna escorregou, revelando um lampejo de pânico, rapidamente substituído por indignação.

"Flora, do que você está falando? Isso é ridículo. Carla é só uma amiga. Você sabe como somos próximos. Ela provavelmente comprou aquele anel para si mesma. Ela sempre foi um pouco... extravagante."

Ele estava me manipulando, aqui e agora, depois de ser pego em flagrante. A audácia era de tirar o fôlego. Meu olhar passou por ele, pousando em um alerta de notícias piscando na TV no canto da sala. Uma foto da Carla, mostrando a mão, o diamante inconfundível. *Herdeiro dos Monteiro Fica Noivo da Estrela em Ascensão Carla Bastos*. Era uma piada cruel, encenada em um palco público.

De repente, o celular dele vibrou. Ele olhou para a tela, sua expressão mudando de raiva fingida para preocupação genuína. "Eu tenho que ir", ele disse abruptamente, levantando-se. "A Carla precisa de mim. Algum tipo de emergência no apartamento dela."

Ele estava indo embora. De novo. Por ela. A mulher com quem ele supostamente era apenas "amigo", que tinha acabado de comprar um anel de noivado falso para si mesma. Meu coração, já estilhaçado, sentiu uma nova rachadura.

"Vá", eu disse, minha voz mal um sussurro. "Vá para ela."

Ele hesitou, depois me deu um aperto rápido, quase displicente, no ombro. "Eu explico tudo quando voltar, Flora. Não se preocupe, ok?"

Ele saiu, e eu não senti nada além de uma resolução fria e dura. Chega de esperar. Chega de lágrimas. Peguei meu celular, meus dedos voando pela tela. O número da Dra. Helena. "Estou saindo agora", eu disse, minha voz firme. "Para o aeroporto."

Ao sair da mansão, vi o carro do Guilherme acelerando, depois desviando abruptamente. Ele freou bruscamente em frente ao prédio do apartamento da Carla. Ele saiu do carro, seu rosto contorcido de preocupação. Carla estava em sua varanda, segurando o peito dramaticamente, uma única lágrima escorrendo por sua bochecha. Ele correu para ela, envolvendo-a em seus braços, murmurando palavras de consolo.

Ele nunca me olhou com tanto desespero, tanta preocupação frenética, nem mesmo quando quase perdi minha bolsa de estudos. Ele nunca correu para o meu lado com tanto pânico desenfreado, nem mesmo quando eu estava realmente machucada. Sempre foi sobre ele, sobre sua reputação, sobre seu controle.

Meu amor por ele, antes um inferno feroz, havia se reduzido a algumas brasas moribundas. Agora, observando-o embalar a Carla, as brasas viraram cinzas. Ele não me amava. Ele amava a ideia de mim, o pequeno projeto maleável que ele podia moldar. Ele amava a ilusão de controle. E agora, esse amor simplesmente havia se transferido.

"Guilherme", Carla choramingou, sua voz trêmula. "Estou com tanto medo. Acho que alguém estava tentando arrombar. Eu te liguei, mas você não atendeu."

"Está tudo bem, meu bem", Guilherme acalmou, balançando-a gentilmente. "Estou aqui agora. Vou te proteger. Vou garantir que ninguém nunca mais te machuque."

Suas palavras, antes destinadas a mim, agora caíam nos ouvidos da Carla, um eco cruel de uma promessa esquecida. Lembrei-me de uma noite, anos atrás, quando estava doente com febre alta. Ele me segurou, sua mão gentil na minha testa, sua voz um murmúrio suave na escuridão. "Vou te proteger, Flora. Sempre."

Agora, eu era apenas um fantasma em sua memória, um estepe conveniente. Carla era sua nova realidade, seu novo projeto. Meu peito se apertou, uma dor aguda irradiando pelas minhas costelas. Parecia que alguém havia cravado um prego em meu coração.

De repente, um caco de vidro de uma janela quebrada acima da varanda da Carla caiu, arranhando meu braço. Uma fina linha de sangue brotou. Doeu, mas a dor física não era nada comparada à agonia emocional. Eu fiquei ali, sangrando, observando-o confortar a Carla, alheio à minha presença, ao meu ferimento.

Um soluço engasgado me escapou, quente e amargo. Ele nem percebeu. Estava ocupado demais sendo o herói dela. O pensamento, a constatação, me atingiu com uma força esmagadora. Eu era invisível para ele. Minha dor, meu sofrimento, não significavam nada.

Um transeunte ofegou, apontando para o meu braço. "Meu Deus, moça, você está sangrando!"

Guilherme olhou, seus olhos se arregalando um pouco, mas foi Carla quem falou, sua voz tingida de uma estranha mistura de triunfo e malícia. "Oh, querida Flora! Você está bem? É só um arranhãozinho. Guilherme, querido, você deveria mesmo chamar a polícia sobre essa falha na segurança. É tão perturbador."

A preocupação dela era uma zombaria, um prazer mal disfarçado pelo meu ferimento visível. Ela sabia. Ela sempre foi a esperta. Lembrei-me de uma conversa, semanas atrás. Carla estava reclamando de uma rival na APM, alguém "menos talentosa" que estava recebendo toda a atenção. "Eu queria que algo terrível acontecesse com ela", ela disse, um brilho sombrio em seus olhos. "Algo que fizesse o Guilherme me notar em vez dela."

Tentei afastar a memória, mas ela se agarrou a mim, uma mortalha sufocante. Não foi apenas o Guilherme que me traiu. Carla, minha melhor amiga, era igualmente podre. Eram farinha do mesmo saco, manipulando e conspirando.

Minha visão embaçou, não de lágrimas, mas de uma onda de fúria pura e absoluta. Eu não os deixaria vencer. Eu não os deixaria me apagar.

Olhei para o medalhão, ainda aninhado na palma da minha mão. Aquele que ele me deu, o símbolo de sua "lealdade eterna". Segurei-o por um momento, então, com um grunhido resoluto, joguei-o com toda a minha força no bueiro próximo. Ele bateu uma vez, uma despedida final e metálica, antes de desaparecer na escuridão.

Guilherme ainda segurava a Carla, de costas para mim. Ele nem notaria. Ele nunca notava.

            
            

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