A Rosa Traída Renasce
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Capítulo 4

Flora Viana POV:

A mente de Guilherme, eu imaginava, era uma bagunça caótica de autojustificação. Ele provavelmente estava se parabenizando por lidar com a "situação da Carla" enquanto simultaneamente tentava racionalizar minha "reação exagerada". Ele provavelmente se convenceria de que eu estava apenas sendo dramática, ciumenta. Minha dor, minha verdade, seria distorcida em outra faceta de sua narrativa egoísta.

Ele ainda estava fora, ainda confortando a Carla. Eu estava sozinha na vasta e fria mansão. O corte no meu braço latejava, uma dor surda que espelhava o vazio no meu peito. Minha cabeça martelava, um ritmo frenético contra meu crânio. Eu me sentia fraca, esgotada, como se alguém tivesse drenado toda a vida de mim.

Lembrei-me das vezes em que estive doente antes. Guilherme se preocupava comigo, me trazia chá, lia para mim. Ele me abraçava, sua presença um calor reconfortante. "Você é tudo que eu tenho, Flora", ele sussurrava, sua voz rouca de ternura fabricada. "Nunca me deixe." Agora, essas memórias pareciam uma piada cruel, uma ilusão distorcida. Ele nunca se importou de verdade. Ele se importava com como minha presença, minha dependência, satisfazia suas próprias necessidades.

Agora, ele estava satisfazendo as necessidades da Carla. Ele era seu cavaleiro de armadura branca, seu protetor. E eu era apenas um brinquedo descartado, deixado quebrado no canto. Eu acreditei em suas promessas de lealdade eterna, suas declarações de amor. Eu acreditei que estava segura com ele. Que idiota eu fui.

Meu celular vibrou. Carla. *Ah, Flora, soube do seu braço! Sinto muito, querida. Apenas um pequeno acidente, tenho certeza. Fico feliz que o Gui estava lá para garantir que eu estivesse segura. Ele é um herói!*

O veneno em suas palavras era palpável, um veneno destinado a torcer a faca mais fundo. Ela não estava apenas gostando da minha dor; ela estava contribuindo ativamente para ela.

Mais tarde, vi uma reportagem online. Carla, sendo entrevistada na rua, seu braço ainda envolto protetoramente em torno de Guilherme. Ela falou de sua "experiência horrível" e como o "corajoso Guilherme" a salvou. Ele sorriu para a câmera, uma imagem de devoção heroica.

Uma risada amarga me escapou. Herói. Ele era um monstro em um terno sob medida. E o público, o público ingênuo e facilmente manipulável, comprou sua farsa inteira. A raiva que estava fervendo dentro de mim transbordou. Eu não estava apenas triste; eu estava incandescente de fúria. Ele me fez de boba. Ele me usou. E ele achava que poderia se safar.

Ele finalmente voltou para casa horas depois, parecendo exausto, mas presunçoso. "Foi uma noite e tanto, Flora", ele disse, sua voz tingida de falsa preocupação. "A Carla estava muito abalada. Ainda bem que eu estava lá."

Suas mentiras se acumulavam, uma montanha de engano. Eu apenas assenti, meu rosto em branco. Eu cansei de reagir. Cansei de sentir. Eu era um fantasma na minha própria vida.

"Você parece cansada, amor", ele disse, seus olhos examinando meu rosto, procurando por uma reação. "Por que não saímos amanhã? Para espairecer. Jantar, talvez um show."

Ele estava tentando amenizar as coisas, reafirmar seu controle, me fazer esquecer. Mas eu não esqueceria. Eu não podia.

"Não", eu disse, minha voz plana. "Estou cansada. Quero descansar."

Ele franziu a testa, depois estampou um sorriso conciliador. "Tudo bem, então. Uma noite tranquila em casa. Vou pedir comida para nós."

Ele ainda estava interpretando o papel, ainda tentando parecer o namorado dedicado. Ele se achava tão convincente. Mas eu via através dele agora. Cada palavra, cada gesto, era uma performance.

Na manhã seguinte, eu o observei da janela da cozinha. Ele estava ao telefone, de costas para mim, sua voz baixa e urgente. Então Carla chegou, seu carro parando na entrada. Ele desligou rapidamente, sua expressão mudando para uma de leve aborrecimento.

"O que ela está fazendo aqui?", perguntei, minha voz desprovida de curiosidade, apenas constatando um fato.

Guilherme se virou, assustado. "Flora! Você acordou cedo. A Carla? Ah, ela só precisa de um conselho legal para o 'incidente' de ontem. Meu avô insistiu que eu a ajudasse. Você sabe como ele é com as conexões familiares."

Mentiras. Mais mentiras. Ele nem conseguia manter sua história reta. O avô dele odiava a Carla. Ele queria que Guilherme se casasse com alguém de "igual status". Carla era um meio para um fim, um peão em seu jogo.

"Certo", eu disse, minha voz escorrendo sarcasmo. "Conexões familiares. Eu tinha me esquecido totalmente disso."

Ele me olhou, um lampejo de suspeita em seus olhos. "Flora, você está bem? Você tem estado... diferente ultimamente."

"Estou bem, Guilherme", eu disse, forçando um sorriso frágil. "Só um pouco cansada de todo o drama. Quando você volta?"

"Logo, amor, logo", ele disse, já se virando para a Carla. "Apenas uma reunião rápida." Ele deu a ela um sorriso tranquilizador, depois a seguiu para fora.

Ele se foi. De novo. Por ela. A mulher que ele supostamente estava apenas "ajudando". Observei seu carro se afastar, um nó frio e duro se formando em meu estômago.

Mais tarde naquela noite, ouvi suas vozes do escritório. A porta estava entreaberta, e suas palavras, suaves e íntimas, flutuavam pelo corredor.

"Ah, Guilherme", Carla ronronou, sua voz uma carícia doentiamente doce. "Nosso segredinho. Não é simplesmente perfeito?"

"Perfeito", Guilherme concordou, sua voz rouca. "Meu avô ficará emocionado. E a Flora... ela nunca suspeitará de nada."

Uma onda de náusea me invadiu, mais forte do que qualquer coisa que eu já senti. Não era apenas a traição; era a maldade pura e absoluta de tudo aquilo. Eles estavam se deleitando com a minha dor, se banqueteando em seu engano.

Eu precisava sair. Precisava de ar fresco. Precisava escapar. Saí silenciosamente pela porta dos fundos, precisando colocar distância entre mim e suas palavras venenosas. Corri, cegamente, pelos jardins bem cuidados, passando pela fonte ornamentada onde meu medalhão agora jazia esquecido. Meu braço, ainda latejando do corte, raspou em um arbusto de rosas espinhoso. Uma dor aguda rasgou minha carne, mas eu mal registrei. A agonia emocional ofuscava tudo.

Tropecei, meu tornozelo torcendo sob mim. Um estalo agudo, depois uma dor lancinante. Gritei, caindo no chão, minha cabeça batendo no caminho de pedra com um baque surdo. O mundo girou, depois desapareceu em uma escuridão vertiginosa.

A última coisa que ouvi, antes que a escuridão me reivindicasse, foi a voz frenética de Guilherme. "Carla! Carla, você está bem?!" Suas prioridades eram claras, mesmo em meu estado inconsciente. Sua preocupação, seu medo frenético, nunca foi por mim. Foi por ela.

            
            

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