Sua Esposa Indesejada, Seu Coração Vingativo
img img Sua Esposa Indesejada, Seu Coração Vingativo img Capítulo 6
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Capítulo 6

Ponto de Vista de Isabela Ferraz:

"Trivial?", rosnei, minha voz rouca de fúria. "Você ao menos sabe o que é sofrimento, Eva? Você tem alguma noção do que significa perder tudo, ser tratada como lixo, ter seu pai morrendo por causa da indiferença cruel deles?"

Aproximei-me, meus olhos em chamas, ignorando a dor latejante em minhas costelas.

"Deixe-me te dizer o que é sofrimento. É ver seu pai definhar, sabendo que você não pode salvá-lo. É beber veneno para ganhar dinheiro para a cirurgia dele, apenas para ser abandonada enquanto você sufoca em seu próprio sangue. É acordar e descobrir que ele se foi e que o dinheiro nunca chegou. É ser trocada como gado para um monstro, depois espancada e jogada de uma varanda. É ser encharcada de imundície, ofegante, enquanto o homem com quem você se casou fica parado assistindo!"

Minha voz falhou, crua de emoção.

"E você, com suas unhas perfeitamente feitas e sua interminável 'iluminação filosófica', ousa chamar isso de situação desagradável?"

Eva realmente deu um passo para trás, um lampejo de medo genuíno em seus olhos. Bom. Deixe-a sentir algo pela primeira vez.

Nesse momento, Caio apareceu na entrada do jardim, o telefone pressionado contra a orelha, o rosto tenso de aborrecimento. Ele viu o rosto pálido de Eva, depois o meu em chamas, e sua mandíbula se contraiu.

Eva imediatamente foi até ele, agarrando seu braço.

"Caio, querido, graças a Deus você está aqui. Ela está sendo difícil. Ela se recusa a assinar o termo. É apenas uma formalidade, mas ela está fazendo tanto barulho."

Ela olhou para ele, seus olhos arregalados e suplicantes.

"Você disse que precisava disso para nós, para o nosso futuro."

Ela era boa. Ela sempre sabia como torcer a faca, como fazer seus desejos serem as prioridades dele.

Caio olhou para mim, um lampejo de algo em seus olhos - irritação? Alívio por não ter que lidar com isso diretamente? Ele hesitou por uma fração de segundo, seu olhar caindo para o termo em minha mão.

"Caio, por favor", implorei, minha voz mais suave, desesperada. "Não me faça fazer isso. Não os deixe escapar impunes. Meu pai..."

Eva soltou um suspiro dramático.

"Se você não consegue nem lidar com essa coisinha, Caio, talvez não estejamos tão alinhados quanto eu pensava. Talvez eu tenha cometido um erro ao voltar."

Ela começou a se afastar dele.

Os olhos de Caio endureceram. Era isso. Esse era o ponto de ruptura dele. Ele não arriscaria perdê-la novamente. Ele se virou para mim, seu rosto uma máscara de fria determinação.

"Assine, Isabela." Sua voz era baixa, perigosa.

"Mas não é certo!", protestei. "É um encobrimento! É absolver criminosos! Por um pássaro de madeira, Caio! Você trocou minha vida por um pássaro de madeira!"

Ele zombou.

"Não é sobre o pássaro, Isabela. É sobre proteger o que é meu. Meu futuro. Nossa reputação."

Ele deu um passo mais perto, sua voz caindo para um sussurro ameaçador.

"Ou você quer que eu lembre a todos dos pequenos 'acidentes' que aconteceram na galeria Ferraz durante os últimos anos do seu pai? Ou talvez o verdadeiro motivo pelo qual sua mãe foi embora?"

Meu sangue gelou. Ele sabia? Ele ousava usar isso contra mim?

"Você não faria isso."

Seus olhos eram de aço.

"Tente me impedir. Assine a droga do papel."

Minha mão tremeu, minha visão embaçando com lágrimas de raiva impotente. Ele realmente pensou em tudo. Ele me encurralou. Pelo meu pai, eu havia suportado. Pela minha própria sanidade, eu tinha que sobreviver. E agora, sobreviver significava assinar.

Meus dedos, rígidos e doloridos, encontraram a caneta. Rabisquei meu nome, minha assinatura um testemunho trêmulo da minha derrota. O papel embaçou através de uma cortina de lágrimas. Meu corpo tremia com soluços reprimidos, meu peito doendo como se mil espinhos estivessem rasgando meu coração. Acabou. Tudo. O último resquício da minha dignidade, se foi.

Caio me observou, um lampejo de algo ilegível em seus olhos, uma sombra fugaz de desconforto. Mas foi fugaz. Ele arrancou o papel da minha mão, examinando-o rapidamente.

Eva sorriu, um sorriso triunfante iluminando seu rosto.

"Perfeito, querido. Viu? Não foi tão difícil, foi?"

Ela apertou o braço de Caio, seus olhos brilhando.

"Agora, vamos. Aquela gala não vai se frequentar sozinha, e eu preciso de você."

Caio assentiu, uma satisfação presunçosa em seu rosto. Ele me olhou uma última vez, um olhar frio e vazio, depois se virou e seguiu Eva para fora do jardim, seus passos desaparecendo na distância.

Caí no chão, o último fio da minha resistência se rompendo. Meu corpo tremia, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, quentes e furiosas. Não era apenas a dor; era o desespero total, esmagador. Fiquei ali, ofegante, até que a escuridão me engoliu por completo.

Acordei em um pequeno e anônimo quarto de hotel, do tipo com paredes finas e letreiros de néon piscando do lado de fora. Semanas se passaram. Semanas de febre, de dor, de me forçar a curar, a sobreviver. A memória daquele dia no jardim ainda queimava, uma dor constante em minha alma.

Mas algo mais queimava também: uma determinação fria e dura. Eu não era mais apenas uma vítima. Eu era uma arma.

Comecei a arrumar os poucos pertences que tinha. Roupas, uma cópia gasta do meu livro de poesia favorito, um pequeno medalhão de prata com a foto do meu pai dentro. Todo o resto eu deixei para trás. Tudo associado a Caio, aos Almeidas, àquela casa de horrores. As roupas de grife, as joias caras, o piano de cauda - tudo isso, eu descartei. Estava contaminado. Não era meu.

Minhas mãos, embora ainda um pouco rígidas, traçaram o contorno do violoncelo que eu amava. Não podia levá-lo. Mas eu poderia conseguir outro. Eu poderia tocar novamente. Eu iria.

Olhei para a mala barata e simples, depois para o espelho. Meu rosto estava pálido, meus olhos assombrados, mas havia um novo brilho ali, uma determinação de aço. Eu não era mais Isabela Ferraz, a vítima. Eu era algo novo, algo forjado nos fogos da traição e da dor.

Eu estava pronta.

            
            

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