Sua Esposa Indesejada, Seu Coração Vingativo
img img Sua Esposa Indesejada, Seu Coração Vingativo img Capítulo 7
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Capítulo 7

Ponto de Vista de Isabela Ferraz:

A casa da minha infância estava silenciosa e melancólica, um fantasma de sua antiga glória. A Galeria Ferraz, antes um centro vibrante de arte e conversa, agora estava fechada com tábuas, um monumento à ruína. Andei pelos cômodos empoeirados, cada sombra guardando uma memória, cada espaço vazio um eco de risos e vida. O ateliê do meu pai, onde o cheiro de tinta a óleo e terebintina ainda pairava fracamente, foi o mais difícil. Foi aqui que passei inúmeras horas com ele, onde ele me ensinou a ver a beleza em cada pincelada, em cada nota.

Comecei a tarefa dolorosa de vasculhar seus pertences. Cada item, um conduto para um passado do qual eu sentia uma falta desesperada. Sua poltrona favorita, gasta pelo uso de anos de contemplação. Seus óculos, repousando sobre uma palavra cruzada inacabada. A dor era um peso físico, pressionando meu peito.

Enquanto limpava sua velha escrivaninha de carvalho, meus dedos roçaram em um painel solto. Ele cedeu com um clique suave, revelando um compartimento secreto. Dentro, aninhada entre cartas antigas e flores secas, havia uma pequena caixa de madeira trancada. A curiosidade lutava com o pavor que sempre acompanhava os segredos da minha família. Encontrei a chave delicada e ornamentada escondida sob uma tábua solta do assoalho.

Dentro da caixa, sob uma fotografia desbotada dos meus pais, havia uma pilha de documentos legais. Minhas mãos tremeram enquanto eu os lia. Não eram apenas documentos quaisquer. Eram registros meticulosamente detalhados de transações financeiras, escrituras de terras e transferências de propriedade relacionadas à galeria. Datas. Nomes. Assinaturas. Eles pintavam um quadro devastador: uma campanha sistemática e deliberada para minar os negócios do meu pai, para levá-lo à falência. A peça final e condenatória de evidência era uma série de e-mails criptografados, trocados entre Clarice Almeida e várias figuras sombrias, discutindo a "aquisição" da propriedade Ferraz.

Minha respiração falhou. Clarice. Não foi apenas uma consequência de má sorte ou má gestão. Foi orquestrado. Minha sogra, a mãe de Caio, havia planejado meticulosamente a queda da minha família. O casamento forçado não foi apenas para salvar a galeria; foi para tomá-la, depois que ela já havia garantido sua ruína.

Uma fúria fria e dura se instalou em minha alma, substituindo a dor crua. Isso não era mais apenas sobre a crueldade de Caio. Era sobre uma traição calculada e geracional.

Eu sabia o que tinha que fazer. Contratei um investigador particular, um ex-detetive de quem ouvi falar bem, dando-lhe os documentos e uma única instrução: "Encontre tudo. Não deixe pedra sobre pedra."

Dias depois, recebi uma ligação frenética do investigador.

"Sra. Almeida, você precisa ir para a antiga propriedade Ferraz imediatamente. Eles estão demolindo. As equipes de demolição acabaram de chegar."

Meu coração saltou para a garganta. A propriedade. A galeria. A casa da minha infância. Não. Isso não. Peguei minhas chaves, meu corpo se movendo antes que minha mente pudesse processar completamente o choque.

Corri pela cidade, minhas mãos brancas no volante, minha mente repassando cada memória ligada àquele lugar. Os jardins extensos onde meus pais tiveram sua recepção de casamento. O ateliê ensolarado onde meu pai pintou suas obras-primas. Os cantos secretos onde eu me escondia com meus livros. Não era apenas um prédio; era a última personificação física da história da minha família, do legado do meu pai, da minha própria infância.

Quando cheguei, nuvens de poeira já subiam para o céu. Guindastes roíam a elegante fachada de pedra, suas mandíbulas rasgando o coração do meu passado.

"Parem!", gritei, minha voz rouca, correndo pela fita amarela, ignorando os gritos dos trabalhadores da construção. "Parem a demolição!"

Uma figura emergiu da poeira, alta e imponente. Caio. Ele olhou para mim, um lampejo de surpresa, depois algo parecido com preocupação, em seus olhos. Ele começou a andar em minha direção.

"Isabela? O que você está fazendo aqui? É perigoso."

"Perigoso?", cuspi, minha voz carregada de veneno. "Você quer falar sobre perigoso, Caio? Você destrói vidas, você orquestra a ruína, e você chama isso de 'perigoso'?"

Mostrei os documentos, amassados em minha mão.

"Você sabia, Caio? Você sabia que sua mãe arquitetou tudo isso? A ruína da minha família? O casamento forçado? Tudo fazia parte do grande plano de demolir nossa história para que você pudesse construir suas torres sem alma?"

Ele olhou para os papéis, depois para mim, seu rosto de repente pálido.

"Do que você está falando? Minha mãe? Isso... isso é para a Eva. Ela queria um novo começo, uma tela em branco para o nosso futuro. Um lugar para construir nossa casa."

Ele gesticulou vagamente para a mansão em ruínas.

"Eu prometi a ela. Não se preocupe, Isabela. Vou construir uma nova galeria para você, uma melhor, quando for a hora certa. Um memorial, talvez."

O insulto, a pura audácia, era de tirar o fôlego.

"Um memorial? Você acha que pode comprar séculos de história com um 'memorial'? Você acha que pode substituir uma vida inteira de memórias com seu concreto estéril e sem alma? Nunca!"

Rasguei os papéis, espalhando-os ao vento.

"Eu não aceitaria uma única pedra de suas mãos contaminadas!"

Eva Dantas emergiu de trás de Caio, uma carranca delicada em seu rosto.

"Isabela, sério. Você precisa ser tão dramática? É apenas um prédio antigo. Sentimentalismo é tão... ultrapassado. Caio está te oferecendo um novo começo. Uma lousa limpa. Você deveria ser grata."

Ela se virou para um dos operadores de guindaste.

"Não fique aí parado! Continue! Temos um cronograma a cumprir!"

O guindaste rugiu de volta à vida, sua enorme bola de demolição balançando em direção à última ala intacta da galeria - o ateliê do meu pai.

"Não!", gritei, lançando-me para frente, desesperada para pará-lo, para salvar o último pedaço dele.

Mas era tarde demais. A bola atingiu com um estrondo trovejante, enviando detritos voando. Um precioso vitral, uma obra-prima projetada por minha bisavó, se estilhaçou em um milhão de fragmentos brilhantes. A parede desmoronou, revelando os destroços lá dentro. O cavalete do meu pai, sua pintura inacabada, enterrados sob escombros.

Um grito primal rasgou minha garganta. Cega pela dor e pela raiva, virei-me para Eva. Com uma força nascida da pura fúria, lancei-me sobre ela, minhas mãos voando, esbofeteando-a, arranhando seu rosto.

"Sua bruxa má e sem alma! Você destruiu tudo! Tudo!"

Caio rugiu, me puxando de cima dela. Sua mão se fechou em minha garganta, seus olhos brilhando com uma raiva aterrorizante e assassina.

"Sua vadia! Não ouse tocar nela!"

Ele apertou, cortando meu ar, levantando-me do chão. Meus pés balançavam inutilmente.

Uma dor aguda atravessou meu lado. Um pedaço de detrito voador, uma viga lascada, me atingiu. O sangue floresceu rapidamente em minha camisa. Mas Caio não percebeu. Ele estava consumido por sua raiva, seu aperto se intensificando. Minha visão nadou.

"Caio... pare...", minha voz era um arranhão desesperado, mal audível. A escuridão se aproximou novamente.

                         

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