Capítulo 2 SUMIÇO

6 meses depois...

Preocupada.

Sim, essa palavra resume muito o meu estado. Desde a noite passada que tento falar com meus pais e nenhuma resposta.

Absolutamente nada.

O dia seguinte chegou e nada, nem uma mensagem, absolutamente nada. Meu tio Liam já estava comigo, tentando obter respostas do que pode ter acontecido.

Já era por volta do meio-dia. Estava me preparando para o pior, quando o celular tocou. Corri para atender, porém, meu tio foi mais rápido. Pegou o celular e atendeu rapidamente.

- Alô? - disse ele, esperando uma resposta.

- Sim. É o meu irmão.- disse logo depois.

Percebi seus olhos arregalados, enquanto ele empalidecia. Vi a esperança morrer em seus olhos e nascer outra coisa, forte e devastadora.

A dor da perda.

Então eu soube, naquele momento eu soube que meus pais estavam mortos. Eu os perdi. Não pude fazer nada.

A dor e o choque foram tão fortes que eu desabei em uma bagunça silenciosa e em estado de choque profundo.

Mortos,mortos, mortos.

Eu não conseguia parar de repetir isso dentro da minha cabeça. Fitei o vazio sem saber o que fazer. Acho que fiquei horas sem fazer nada, sequer piscar, mas sei que foram apenas alguns segundos antes de acordar do meu torpor. Sem perceber, senti braços ao meu redor. Meu tio me abraçava, quando enfim comecei a chorar copiosamente. Chorei como nunca tinha chorado antes enquanto ele tentava me confortar em vão.

Tio Liam é apenas um ano mais novo que meu pai. Cresceu com meu pai sendo sua inspiração, exemplo a seguir, um herói.

Ele também era meu herói.

Naquele momento, fui esmagada pela realidade, e chorei mais ainda, caindo em um abismo de vazio e dor.

- E agora tio Liam? - perguntei entre soluços. Não sabia o que fazer, estava confusa, desesperada.

- Não sei baby. Depois veremos o que fazer. - disse ele fungando.

Entrei em estado de negação. Não acreditei que foi assim, tão de repente. Arrancados de mim. Não pensava com clareza, a dor era demais.

Levantei com um pulo, e comecei a gritar e me descabelar. Não queria acreditar no que estava diante de mim. Comecei a pegar coisas e atirar em paredes, vasos, enfeites e tudo mais que houvesse na minha frente, tinha que descontar minha dor em algo. Olhei para o lado e vi um porta retrato dos meus pais, fui em direção a ele e peguei e comecei a gritar histericamente com a foto.

- Não podem, não vão me deixar. Não podem fazer isso comigo. - gritei.

Levantei o braço estava pronta para jogar também e vê-lo se estilhaçar igual meu coração, quando senti mãos me agarrando em um aperto de morte, me debati mais um pouco e depois de me dar por vencida desisti e parei de lutar.

-Não...na-ão pode ser. Não, eles não por favor, diz que é mentira. Não por favor. - disse desesperada.

- Sinto muito Mine. Infelizmente eles se foram. - disse ele, totalmente abalado, talvez tanto quanto eu.

Após alguns minutos chorando e sendo confortada por meu tio, consegui me acalmar um pouco. Pelo menos o suficiente para que eu possa ouvir o que realmente aconteceu.

Pelo que disseram a respeito, que foi uma explicação um tanto vaga, devo dizer, foi o seguinte: Eles estavam em campo realizando a missão, aparentemente algo deu muito errado e Cabum! houve uma explosão e tudo foi pelos ares. Inclusive meus pais.

Nem poderei olhar para eles uma ultima vez.

Sem um toque.

Uma ultima olhada.

Nada.

Depois de tudo isso resolvi ir para o meu quarto, enquanto tio Liam resolvia todas as questões para o funeral. Afinal ele era o irmão, sócio e melhor amigo do meu pai, ninguém melhor para cuidar dos trâmites legais e tudo mais.

Acordei sobressaltada, tive um sono turbulento, cheio de ultimas palavras que os meus pais podiam ter dito. Novamente os acontecimentos caem sobre mim e estou prestes a me debulhar lágrimas outra vez. Então ouço a voz do meu pai em minha mente: "Lembre-se sempre querida, nós te criamos para ser forte. Você já nasceu sendo uma guerreira, por isso, tenha sempre em mente que o inimigo próspera usando nossas fraquezas. Sempre."

Seja forte.

É isso que eu vou ter em mente agora. Ambos podem ter morrido, mas sempre estarão comigo, sempre.

Não importava mais nada, eu só precisava me manter no controle e agir normalmente. Enfrentarei tudo de cabeça erguida, chega de chorar. Está na hora de colocar em prática tudo o que ambos os meus pais me ensinaram. Não posso cair agora, pois algo me diz que isso é só o começo.

Apenas o começo.

No dia seguinte houve o velório, foram poucas pessoas, apenas os mais íntimos da família, uma pequena despedida, sem muito alvoroço.

Não foi fácil saber que ali, naqueles caixões estavam meus pais. Sabendo que não haveria mais o som de suas risadas, conversas, o brilho em seus olhos quando se olhavam apaixonadamente, o calor de seus braços quando me embalavam em um abraço cheio de carinho e amor.

Nada.

Tudo aquilo tinha acabado.

Foram enterrados lado a lado, do mesmo jeito que foi em vida, juntos sempre. Estava colocando flores em seus túmulos, fazendo minhas ultimas homenagens e me despedindo.

Refletia sobre o que ia acontecer de agora em diante, tinha apenas dezesseis, como faria sem os conselhos do meu pai, a clareza e a compreensão da minha mãe. Aparentemente agora seria só eu. Lembrei que a leitura do testamento seria em uma hora na minha casa, sabia que precisava me apressar se quisesse chegar a tempo.

As poucas pessoas que compareceram ao velório me olhavam atravessado, enquanto murmuravam que eu parecia não me importar com a morte dos meus pais, já que eu não derramei uma lágrima sequer. O que esperavam? Que eu me prostrasse sobre seus caixões e me derretesse em lágrimas? Não foi assim que eu fui criada, e eu não me importava com o que eles pensavam.

Aqueles urubus! Apenas esperando mais um espetáculo, para que possam falar até que suas línguas nojentas caiam.

Danem-se!

Sim. Bando de idiotas.

Corri para o carro e segui para casa. Mas não antes de ter a sensação de que eu estava sendo observada. O que é deveras estranho, já que havia somente eu no cemitério naquele momento. Todos já tinham saído, pois, era quase meio-dia. Senti calafrios percorrerem minha pele e se alojando na minha espinha. Resolvi que já era hora de ir, saí apressada, mas não antes de um "eu amo vocês" aos meus pais.

Mesmo dentro do carro, a caminho de casa, senti a mesma sensação de estar sendo observada, juntamente agora com a de estar sendo seguida. Acho que fiquei paranoica com essa história da morte dos meus pais, esse negócio de explosão e tudo mais, não explodiu só os meus pais e outras pessoas como também mandou pelos ares a vida também. Uma catástrofe total.

Fui direto para casa, não quis passar em nenhum lugar, mas quando cheguei na garagem, me senti mal imediatamente, até um pouco depressiva. Não queria entrar novamente em casa. Sabia que assim que entrasse por aquela porta seria soterrada por uma enxurrada de lembranças de tantos momentos bons. Cada sentimento carregado de lembranças.

Respirei fundo várias vezes e tentei controlar as minhas lágrimas e emoções. Abri a porta do carro e segui em frente, tentando manter a fachada de garota forte, enquanto meu coração morria por dentro a cada passo.

Usei todo meu autocontrole para me conter e não abrir o berreiro totalmente histérica. Sabia que devia ir direto a escritório para que o Sr. Parker, nosso advogado pudesse ler o testamento, necessitando a presença do meu tio e a minha.

Ao entrar no escritório dei de cara com tio Liam e o Sr. Parker à minha espera. Pensei que talvez estivesse atrasada, mas sabia que não. Então percebendo a tempo a minha falta de educação, resolvi corrigi-la.

- Boa tarde. - falei.

- Olá, Mine querida. - falou tio Liam. Ele sempre desprezou um pouco toda essa coisa de formalidade e etiqueta, como manda a ocasião.

- Boa tarde Srta. Minerva. Como se sente? - pergunta o advogado.

- Bem, obrigado por perguntar.- respondi com um sorriso triste.

- Bom, vamos logo à leitura do testamento então. - falou Sr. Parker.

- Ok. Vamos com isso.- disse.

Em resumo, a leitura do testamento correu bem. Meu pai deixou uma cláusula em que eu devo assumir os negócios da família assim que completar 18 anos. Enquanto isso, tio Liam será meu tutor e responsável por todos os aspectos pessoais e financeiros da minha vida, me orientando e me preparando para o cargo que irei assumir em mais ou menos um ano e meio. Felizmente, papai já havia me ensinado algumas coisas, caso contrário eu não seria capaz de assumir a empresa e tão pouco tempo.

Ao sair do escritório para acompanhar o advogado até a porta, me sinto exausta e só quero me trancar no quarto e ficar lá até que a dor passe. Voltando, dou de cara com tio Liam olhando as fotos em cima do piano. Vejo que segura um envelope pardo na mão e tem um olhar distante no rosto, assim que me vê sai do transe e segue caminhando em minha direção. Está sério, para na minha frente e me entrega o envelope pardo.

- O que é isso? - pergunto.

- Isso é uma carta. Recebi alguns dias atrás, com uma nota dizendo que se acontecesse algo eu devia lhe entregar. Aparentemente Jeremy a escreveu. - diz meu tio.

            
            

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