Capítulo 5 O PLANO

- Tio Liam! Ah meu Deus. Que bom que você está bem. – não sei como, me jogo em cima dele e nos abraçamos em um ângulo esquisito e meio dolorido. Estou contente de saber que ele está bem e a salvo.

- Baby, eu também estou feliz que você está acordada, mas você precisa voltar para a cama. E você também está em cima do meu braço machucado. – fala com voz sufocada.

- Onde você estava? – questiono.

- Eu estava falando com os policiais. Aparentemente nossa interação foi um show e tanto para os vizinhos. – diz tranquilamente.

- Isso é um problema? – pergunto receosa. Será que vamos para a cadeia, ou pagar alguma multa ou coisa assim. Não. Acho que não.

- Venha, vamos te colocar na cama. – ele me ajuda a voltar para a cama, e me deita delicadamente.

***

Passei alguns dias no hospital, depois voltamos para casa. Aparentemente, vamos nos mudar por um tempo, pelo menos foi o que meu tio me falou. Saio do quarto e vou caminhando com a ajuda de muletas, já que a minha coxa ainda dói um pouco, então me arrasto por aí.

Chego à sala e dou de cara com tio Liam, ele está falando com um cara grande de terno sob medida. O cara parece um tanque de guerra. Eles não percebem a minha presença até que eu me sento no sofá.

- Mine, quero que você conheça o agente Smithe. Ele trabalha na agência que seus pais trabalhavam, ele está aqui para nos dar orientação sobre como agir daqui pra frente. Não podemos passar a vida inteira isolados nessa casa e você precisa viver normalmente. – diz meu tio com um olhar ligeiramente preocupado.

- Bom, basicamente eu vim explicar como devem proceder a partir de agora. Tivemos uma reunião e resolvemos que você Liam, vai ficar aqui, enquanto a sua sobrinha virá com dois dos nossos agentes para New York. – certo confesso que quando o homem tanque falou isso eu tive uma espécie de engasgo ou coisa do tipo.

- O quê? Você ficou louco? Eu não vou a lugar nenhum sem o meu tio. – digo apressadamente.

Nem se esse cara tentasse me arrastar daqui, não vou a lugar nenhum, que diabos eu vou fazer em New York. Estão todos loucos.

Isso mesmo.

Completamente loucos.

Quando estou pronta para continuar a falar os motivos de eu não ir a lugar nenhum, meu tio intervém.

- Sim, você vai para New York, Mine. – Diz calmamente.

Certamente o cérebro do meu tio virou mingau. Porque ele quer que eu vá embora se o meu lugar é ao lado dele?

Jamais!

- Não vou. Porque quer que eu vá embora? – Questiono. Não estou entendendo absolutamente nada. – Você não me quer por perto, tio? – pergunto com medo da sua resposta.

Ele corre para mim, senta ao meu lado e toca meu rosto com tanto carinho que tenho medo de chorar.

- Não, baby. Não é nada disso. É que é uma medida de proteção para nós. Eu não posso estar sempre com você e se você estiver só pode correr um grande perigo. – diz ele.

Olho para o agente Smithe que nos olha estoicamente, suspiro derrotada.

- Qual é o plano? – pergunto.

Ele cruza as mãos nas costas e respira fundo, como se o que fosse dizer tivesse grande importância.

- Daqui a uma semana você não será mais Minerva Blake. Você irá se transformar em outra pessoa. – diz o agente Smithe.

- Nesse caso, quem serei? – pergunto.

- Seu nome será Evie Miller, você é loira de olhos azuis, gosta de tatuagens temporárias e seu estilo é uma contradição desgrenhada, ou seja, gosto eclético. Outras informações você receberá junto com seus documentos falsos. Ah! Você mora com os tios. – dito isso ele se retira como se eu não tivesse todas as dúvidas do mundo.

- Mas... Mas. – não consigo sequer completar uma frase. Felizmente, o meu tio vem em meu socorro e explica boa parte do processo e não me resta alternativa a não ser a de aceitar.

Nos próximos dias me vejo em uma avalanche de mudanças e coisas para fazer. Resolvi que se eu vou ser outra pessoa, então nesse caso, colocarei meus toques pessoais sobre a nova "eu".

Vou ao salão tingir o cabelo, aproveito e escolho um loiro platinado que combina bem com minha pele clara, resolvo adicionar mechas azul-turquesa. Até que o resultado ficou legal. Vou comprar roupas novas, a maioria preta. Peço para uma garota customizar e tudo fica bastante bagunçado e rasgado, mas é assim que vai ser.

Na véspera da minha mudança vamos conhecer o casal de agentes que tomará conta de mim. O homem tem cerca de 1,85 por aí e está vestido casualmente, assim como a mulher loira ao seu lado que aparenta ter 30 e poucos anos, ela é alta e esbelta.

Seus olhos transmitem uma energia tranquila e eu poderia apostar meu braço que ela faz negociações em resgates.

Eles vêm até nós e temos as devidas apresentações.

- Mine, estes são Dave e Rose. Eles serão seus guardiões daqui pra frente. Como você sabe, eu irei visitá-la duas vezes por mês enquanto você estiver com eles. – diz meu tio calmamente.

Estendo minha mão para o homem que a aperta suavemente. Quando estendo minha mão para a mulher ela me surpreende me puxando para um abraço caloroso e diz:

- Não precisamos de formalidades, afinal vamos morar juntos, Evie.

É estranho ouvir esse som da boca de alguém. Eu sei que devo agir com naturalidade. Mas eu não vejo muito que fazer já que nunca me chamaram assim antes.

É bastante complicado você ser outra pessoa que não você mesma. Empurro esse pensamento para o fundo da minha mente e foco no que realmente interessa. De hoje em diante eu sou mais uma garota normal, que estuda e nunca aprendeu a atirar, bater em alguém ou matar pessoas.

Não.

Agora eu sou Evie Miller. Uma garota que mora com os tios e tem um estilo de vida mais rebelde. Eu não serei culta e educada, agora eu falo gírias e palavrões.

Acho que estou com um pouco de medo por conta de toda essa mudança. Principalmente, a parte de estudar em um colégio normal, já que fui educada em casa.

Saio do meu devaneio e sorrio para Rose. Acredito que vamos nos dar bem, já que ela tem essa coisa carinhosa e maternal. E passa a sensação de segurança e bem-estar.

- Hum, obrigado Rose. – digo.

- Por nada querida. Tenho certeza que vamos nos dar muito bem. – diz ela com alegria aparente.

- Certo então, agora que as apresentações já foram feitas, vamos comer e combinar alguns detalhes importantes. – interrompe meu tio.

Sentamos e começamos a comer, estamos todos em silêncio, até que eu não aguento mais o suspense e resolvo que eu realmente preciso algo a respeito das minhas dúvidas.

- Então Rose, onde vamos morar? – pergunto. Será que vai ser em alguma casa cercada de cercas elétricas e segurança? Penso comigo mesma. Sou tirada do meu devaneio louco quando descubro que não é nada disso.

- Bem, nós vamos morar em uma cobertura na Quinta Avenida. – diz ela calmamente.

Nossa que legal, eu sempre quis morar lá, mas depois um pensamento invade minha mente. Será que não é um lugar óbvio demais para eles nos acharem. Penso comigo. Uma voz invade minha mente e diz que eu não passo de uma garota qualquer, louca e no auge de sua rebeldia. Penso sobre isso e me sinto um pouco mais confortável com a situação.

- Então o que mais devo saber? – pergunto ansiosa em relação às coisas que podem acontecer.

- Não muito. Sabemos que você é culta e nunca fala palavrões nem gírias, então vamos falar isso o tempo inteiro e você também vai falar, precisa acostumar ao novo linguajar. – diz Dave, como se pedisse que passasse a salada ou algo assim.

- Evidentemente não usaremos uma linguagem muito chula, apenas o suficiente para que você se habitue a esse tipo de coisa. Como foda-se ou porra, por exemplo. – diz Rose.

Nessa hora meu tio engasga com a comida e tosse sem parar, fica vermelho e eu corro e lhe dou tapas nas costas. Um pedaço do filé que ele estava comendo voa e acaba caindo no prato de Dave. Que por um acaso estava muito entretido vendo algo no celular e não percebe o pedaço de filé clandestino e mastigado no seu prato. Agradeço que ele não tenha presenciado essa cena, mas infelizmente não se pode ter tudo. Rose acaba vendo tudo de camarote e assim que a carne aterrissa no prato de Dave, ela solta um assovio agudo e ri.

- Realmente, para uma garota da sua idade e tamanho, você tem uma força muito boa. Não é a toa que pode ser uma diplomata se quisesse ou uma mercenária. Ambos fariam com louvor. Garanto. – sorri.

Solto uma risada nervosa. Tio Liam já se recuperava da sua engasgada épica. Ainda com os olhos cheios de lágrimas e um pouco de falta de ar.

- Obrigado Rose.

- Bem, agora que nos conhecemos vamos aos detalhes sobre a escola e como você deve se comportar e que tipo de comportamento você deve ter.

- Então, o que devo fazer? – questiono.

- Você vai agir normalmente como uma garota revoltada da sua idade, você vai ter maquiagem pesada nos olhos e vai usar tatuagens temporárias. O que você quer e onde. É só dizer. – diz Dave.

Penso por um momento no que eu gostaria de ter como primeiro desenho temporário em mim.

Já sei!

Digo o que eu gostaria, eles até se impressionam com o tipo de desenho que eu quero. Conversamos mais um pouco depois de acertarmos os detalhes da viagem.

Recapitulando para mim mesmo sobre meu novo status na escola, eu sou uma aluna normal, ninguém sabe quem eu sou além do diretor e eu tenho que praticar matérias extracurriculares.

Só isso. Não pode ser tão difícil.

            
            

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