Capítulo 4 ALGUÉM QUER NOS MATAR

Alguém quer nos matar.

Tudo acontece muito rápido. Vários homens vestidos de preto e vermelho sangue, entram por portas e janelas. Agi rápido e pego as duas pistolas que estão escondidas debaixo da mesinha de centro. Jogo uma delas para tio Liam, que se joga atrás do sofá e começa imediatamente a atirar, também corro e me protejo atrás de uma pilastra de concreto que tem no meio da sala, perto do piano.

Já tem cerca de seis homens caídos por toda a sala. Pela minha conta a munição está quase no fim. Resolvo fazer uma manobra arriscada. Acerto o último cara que entrou e corro até o piano, retiro uma submetralhadora do encaixe embaixo do piano e jogo até meu tio.

- Tio Liam. Vamos, me dê cobertura até o escritório. – grito.

Ele apenas assente e começa a atirar. Vamos correndo até o escritório e quando já estou segurando a maçaneta, ouço um grito, muito perto.

Ah não!

- Tio Liam! – grito em meio ao caos. Vejo que ele segura o braço e há sangue. Sinto uma fúria tão crua e primitiva borbulhar em meu ser. Não vão tirá-lo de mim também. Eu já perdi gente demais. Não permitirei isso.

Nunca mais.

A pistola uma vez esquecida agora encontra seu caminho para cima, enquanto puxo tio Liam e me jogo dentro do escritório e fecho a porta. Já sei o que vou fazer. Corro para uma estante de livros que tem atrás da cadeira do escritório. Puxo um livro em especial. Que bom que eu tinha olhado logo que livro era, senão certamente íamos morrer. Ouço a trava sendo liberada. Puxo e a porta se abre suavemente, e finalmente estou em frente a tudo o que eu desejava encontrar nesse momento.

A sala de armas do meu pai.

Felizmente, a preocupação aqui sempre foi crucial e todas as armas estão carregadas. Tenho que ser rápida, então ajo depressa. Pego duas Glock, uma metralhadora e uma escopeta calibre 12. Quando estou de saída, me deparo com gás sonífero e máscaras. Tio Liam me espera na porta e entrego a máscara que ele coloca. Quando terminei de colocar a minha que por milagre, a porta era resistente e segurou-os lá fora. A hora é agora.

A porta vai ao chão com um baque. Puxo o pino e jogo o sonífero, enquanto isso tio Liam me dá cobertura. Pego escopeta e começo a atirar, enquanto o gás faz seu trabalho.

Continuo atirando, tento me mover um pouco, para que possa ter mais apoio para poder atirar. Na hora que movo minha perna um pouco para fora, sinto a dor rasgar a minha coxa. No mesmo instante sinto o ombro deslocar e o meu braço fica largado ao lado do meu corpo em um ângulo um pouco estranho. Distraio-me com a dor e sou surpreendida quando um tiro passa a poucos centímetros do meu nariz, enquanto eu inspecionava meu braço e atinge meu ombro. Grito de dor, mas ainda não posso me entregar.

Uso minha outra mão para atirar (ainda bem que eu sou ambidestra). Graças a Deus, só restava um que se escondia atrás da parede, mas que ficou deveras lento pelo gás, caindo antes de poder atirar.

Escorrego pela parede até o chão.

Sinto uma dor horrível. Começo a chorar em desespero, por mim e meu tio que segurava o ferimento tentando estancar o sangramento. Será que há mais deles lá fora? Será que é só o começo? Não sei, não tinha respostas para essas perguntas, tudo o que eu sei é que agora nós poderíamos estar mortos se não fosse meu treinamento e o do meu tio.

Ouço sirenes ao longe. Acho que os vizinhos ouviram tudo e chamaram a polícia, bem, pelo menos estão chegando. Nesse tempo penso em tudo o que aconteceu e definitivamente nossas vidas estão em perigo. Sinto a ameaça de perigo ao meu tio gelar meu sangue e calafrios sobem por minha espinha

Sinto um frio congelar meus ossos. Constato que hoje eu matei pessoas, não importa se foram os mesmos que mataram os meus pais, eu os matei. Não consigo chorar, as lágrimas não vem. Um entorpecimento me toma e enquanto vejo a polícia entrar na casa por todos os lados me entrego ao torpor e caio na escuridão. Totalmente entregue ao abandono.

Abro os olhos de vez em quando, oscilando entre vida real e a escuridão da minha inconsciência. Vejo flashes, alguns envolvem meus pais, agora mortos. Outro vejo pessoas correrem de um lado para o outro, como se tivessem pressa. Não me importo, sequer consigo acompanhar os acontecimentos que vejo. Não me esforço, só sinto a escuridão me tomar pouco a pouco novamente, não consigo nem falar. A exaustão me leva, e eu mergulho novamente.

Acordo, mas ainda não abro os olhos, deixo que meus sentidos voltem totalmente. Agora abro os olhos devagar. A claridade faz meus olhos arderem enquanto se ajustam. Tento captar o máximo que eu posso. Ouço um bipe constante e quando olho ao meu lado vejo vários aparelhos ligados a mim. Constatação cai sobre mim quando olho a minha volta.

Um quarto branco, frio e estranho.

Hospital.

Estou internada e lembro-me de tudo o que aconteceu.

O tiroteio, meu tio e eu feridos, a confusão, a chegada da polícia.

Tio Liam!

Preciso vê-lo. Tenho que descobrir onde ele está e como está. Tenho que sair dessa cama agora.

Tento me mexer, mas meu ombro dói. Cerro os dentes e tento novamente, não vou deixar a dor me vencer. Nesse momento lembro-me das palavras da minha mãe quando eu me machuquei, cortando uma das mãos com uma faca de cozinha que peguei escondida. Eu chorava horrores, mina mãe pegou meu rosto com as duas mãos, olhou-me carinhosamente e disse: "Mine, baby. Não chore e sempre lembre que você não é imune a dor. Ela vai estar sempre lá, mas você pode fazer dela sua força, ao invés de sua rfraqueza".

Depois dessa lembrança, respiro fundo algumas vezes e reúno toda a concentração que posso. Levanto aos poucos, apesar da dor no ombro e da coxa baleada.

Tento andar, mas uma dor horrível me rasga. Ranger os dentes é o melhor que eu posso fazer agora. Nunca fui uma pessoa doce e calma. Porém, sou controlada, só que agora não tenho controle sobre nada.

Acabo de perder meus pais, homens terroristas tentam matar a mim e ao meu tio, não sei onde ou como ele está e estou muito mal humorada. Nesse caso em especial quero muito sair desse lugar frio e sem vida.

Foda-se.

Começo a arrancar fios e agulhas conectadas ao meu corpo. Tento novamente dar um passo, mas a dor na coxa e no ombro é mais do que posso suportar.

Descarrego todas as emoções dos últimos acontecimentos num acesso de raiva. Praguejo alto e tento andar mais uma vez. Dessa vez minha raiva é tão maior que a dor que consigo dar dois passos arrastados, mas uma enfermeira entra e tenta me levar de volta para a cama.

- Senhorita, não posso deixar que saia da cama, volte, por favor. – diz ela.

Diabos. Se ela pensa que vai conseguir me arrastar de volta para a cama sem dizer onde e como meu tio está ela certamente ficou louca.

- Não chegue perto de mim. Eu quero saber onde está o meu tio e qual seu estado de saúde. – falo.

- sinto muito, mas você tem que voltar para a cama. Agora. – disse ela.

Oh não. Ela não falou comigo usando esse tom de quem está falando com uma criança. Raiva sobe através de mim, não posso mais segurar minha frustração.

- Você vai me dizer onde ele está. AGORA! – grito.

A enfermeira assustada sai em disparada pela porta balbuciando algo sobre chamar o médico e tantas outras coisas. Pouco me importa o que ela vai fazer. O caso é que, quando estou a ponto de sair pela porta ela se abre e vejo um tio Liam com um braço na tipoia e cara de cansado.

            
            

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