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New York
Estou há duas semanas em New York. Desenvolvi alguns hábitos e entrei de vez no "personagem". Tenho que confessar que estou muito nervosa. A perspectiva de ir à escola me assusta. Toda a minha educação foi em casa, nunca fui muito social e praticamente não tenho amigos. Na verdade, eu nem sei o que garotas da minha idade costumam fazer, isso só demonstra o quão patética eu sou.
É um fato lamentável, mas é a verdade.
Só espero aprender logo.
Respiro fundo, tentando acalmar meus pensamentos. Sinto-me curiosa, nervosa, preocupada e empolgada. Tudo ao mesmo tempo.
O turbilhão de emoções que tomam meu corpo é quase demais para controlar. Minha ansiedade está me matando e eu sinto que se não me controlar, posso desmaiar a qualquer momento.
Droga.
Tenho que me controlar logo. Estou agindo como uma louca ansiosa e um pouco maníaca. Ok, eu sempre fui um pouco assim, mas quem se importa? Eu, certamente não me importo.
Me processe por isso.
Depois de uma boa conversa com Rose, discutimos mais alguns pontos sobre como eu devo agir, e falar em certas situações. Dessa forma, eu não vou me meter em situações embaraçosas, das quais eu não quero estar.
Eu também tinha algumas dúvidas sobre como lidar com garotos, mas, é claro que eu preferi não fazer perguntas. É ridículo a forma como eu sou capaz de manusear quase qualquer arma, mas não sei como agir diante de um garoto.
Simplesmente patético.
Nesses momentos que eu me chuto mentalmente por não ter sido mais social.
Estou me preparando para o meu primeiro dia de aula. Não me sinto nem um pouco preparado, na verdade, tenho vontade de sair correndo para as montanhas, ou entrar para alguma tribo nômade (se é que existe alguma).
Estou suando frio. Toda vez que penso nessa nova fase da minha vida, tenho vontade de chorar até morrer. Mas lembro da promessa que fiz aos meus pais, respiro fundo e engulo o choro.
Vou ser forte.
Por eles.
Respirando fundo e usando a minha melhor cara de pôquer, aceito a coisa toda e resolvo logo a merda sobre o meu medo do colégio.
Eu agora era uma colegial e devia agir como tal, seja lá o que isso for. Tenho certeza que vou descobrir em breve.
Rose me deixa não frente do colégio, segundo ela, é um dos melhores da região.
Droga. Acho que não vai ser tão fácil assim.
Estou de pé na frente da minha nova escola, não gosto nem um pouco da sensação de pânico, e da bola crescente em meu estômago. Sinto como se estivesse prestes a vomitar.
E eu achando que isso ia ser fácil. A quem quero enganar? Nunca estive em um lugar desses. Toda a minha educação foi em casa, rodeada de segurança. Eu adoraria que Rose estivesse aqui comigo, seria mais fácil. Eu também não posso ficar aqui parada o dia inteiro.
Respiro fundo, observo a grande construção de pedra na minha frente, o lugar é enorme e muito bonito. Apesar da arquitetura tradicional na entrada, por dentro se vê que é um lugar moderno, com direito a tudo o que a tecnologia pode oferecer. Respiro mais algumas vezes e tomo coragem.
Bem, aí vou eu.
Entrei devagar, tentando absorver o máximo possível dos meus arredores. As pessoas e como se parecem, seu modo de agir. A parte em mim que aprendeu a observar, faz anotações mentais sobre algumas coisas.
Sou recebida pelo diretor, Sr. Shane. Trata-me de forma agradável, porém, profissional. Mostra-me as dependências do lugar e me explica sobre as regras da instituição, entrega um papel com todas as minhas aulas e me deixa para ir na minha primeira aula. Estava totalmente perdida e um pouco em pânico, mas estava fazendo o meu melhor para não surtar. Os corredores pareciam todos iguais e eu estava confusa. Depois de finalmente encontrar o meu armário, sigo para a minha primeira aula. Eu não sei o que me aguarda e isso me deixa um pouco nervosa, não sei o que me espera dentro da sala de aula e como eu vou me sair, é a minha primeira vez fazendo isso e o nervosismo está quase levando a melhor nessa situação. Tenho medo de cometer um erro logo no meu primeiro dia e receio descobrir.
Será que é muito tarde para querer dar meia volta e correr para fora daqui?
Eu já estava atrasada e ninguém ia sentir a minha falta, mas por um senso de dever maior que eu, continuei a procurar a minha sala até o momento em que eu me encontrei em frente a ela. Engoli seco, respirei fundo e segui em frente e bati na porta e abri uma pequena fresta, eu não fazia a mínima ideia do que fazer em uma situação dessas, então eu fiz apenas o que achei que devesse fazer.
Muitas pessoas me observavam em silêncio e curiosamente enquanto a professora me mandava entrar. A professora até foi compreensiva comigo, e disse que perdoaria o meu atraso apenas por ser o meu primeiro dia. Eu estava satisfeita com isso e um pouco desesperada para deixar de ser o centro das atenções. Tolamente, pensei que poderia ir sentar, estava totalmente alheia às próximas palavras da professora.
– Por favor, apresente-se para os seus colegas.
Merda!
Será que eu vou ter que fazer isso em todas as salas que eu for hoje?
Pelo menos eu já estou pensando nos palavrões como uma maneira de me expressar livremente.
Parabéns para mim.
Vamos lá, respire fundo e concentre-se, você consegue fazer isso. Não é nada difícil de fazer.
– Olá, sou Evie Miller e venho de Los Angeles. Obrigado. – digo.
Básico e objetivo. Parece bom para mim, ninguém precisa saber mais do que o meu nome e de onde eu vim.
Lembrei de fazer cara de tédio, como se olhar para um bando de garotas e garotos da minha idade não me colocasse em pânico. Enfiei as mãos no bolso do meu casaco para esconder o tremor, se isso fosse descoberto poderia estragar o meu disfarce de garota má.
Confesso que até eu fico intimidada com a minha aparência. Olhos delineados, cabelo longo e platinado, roupas pretas. Uma presença um pouco marcante e ligeiramente intimidante, mas eu gosto.
Percebendo que é só isso que eu estou disposta a falar, a professora manda que eu me sente. Pego o primeiro lugar que eu encontro vazio, pego meu caderno, não olho e nem falo com ninguém.
As primeiras aulas passaram sem muito o que dizer. Foram tranquilas e correram bem, mas juro, eu nunca pensei que a rotina escolar fosse tão cansativa. Agora que eu estou indo para o refeitório, percebo o quão cansada eu já estou. Comprei minha comida e procurei um lugar vazio para sentar, infelizmente, não há muitos, mas eu consegui achar um lugar livre. Sentei e enquanto mastigava meu sanduíche, observei os demais estudantes. O refeitório é uma cacofonia só. As pessoas falam todas ao mesmo tempo e gesticulam efusivamente, cada um falando mais alto que o outro. Cada grupo tem sua mesa, as lideres de torcida, o time de futebol americano, os nerds e tantos outros grupos. Percebo que eu estou sozinha e de muitas formas. Suspiro resignada por saber que eu não tenho muitas escolhas em relação a isso.
Quando estou saindo do refeitório, resolvo dar uma rápida olhada no meu celular, gostaria de saber como tio Liam está. E sem querer, acabei esbarrando em alguém.
– Droga. – caí sentada no chão.
– Merda. Garota, você não olha por onde anda? – a pessoa que eu esbarrei pergunta.
Droga.
Péssima forma de começar a minha vida escolar.