Capítulo 3 A CARTA

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Arfo surpresa. Não esperava receber uma carta depois da morte de ambos os meus pais. Eu sempre achei que isso fosse só coisa de filme, mas parece que eu me enganei feio.

Subitamente curiosa sobre o conteúdo dessa carta, resolvo abri-la. Tremo em antecipação, será que aqui tem a explicação para a morte repentina dos meus pais ou, pelo menos, o que realmente aconteceu. Uma história sem cortes ou embelezamentos para que eu não sofra, com a brutalidade de suas mortes. Rasgo o lacre, retiro a carta e começo a ler em voz alta:

Querida Mine, se você está lendo essa carta, obviamente o pior aconteceu. Sinto muito querida por fazer você passar por tudo isso. É preciso lhe contar as causas dessa missão.

Um grupo de terroristas, assassinos e mercenários, que se denominam A liga, é, na verdade, um grupo que acredita que o mundo é deles e que seu soberano deve ser o único governante de toda a humanidade, o soberano supremo de todo o mundo. Há anos tentamos erradicar esse grupo que crescia rapidamente, estávamos tendo bons resultados, quase conseguimos. Infelizmente descobrimos um informante entre nós. Era tarde demais, o que restou da Liga invadiu nossa base e entre eles estava seu líder, Sebastian I. Foi uma batalha sangrenta, mas conseguimos contê-los. Porém Sebastian e mais alguns dos seus conseguiu fugir. Desde então tentamos localizar Sebastian e seus homens, que desapareceram como poeira ao vento.

Detectamos a pouco, atividades específicas deles, seguimos a pista e descobrimos algumas coisas, sabemos que ele pode usar a família dos soldados, e ninguém está a salvo. Absolutamente ninguém.

Fique de olho sempre e tome bastante cuidado. Não confie em ninguém. Caso eles tentem algo contra você ou seu tio, você terá que se esconder por um tempo. Ser outra pessoa por um tempo. Liam sabe o que fazer.

Nós te amamos muito, baby.

Lembre-se sempre que estamos com você, de um jeito ou de outro.

Cuide-se Mine.

Beijos filha.

PS: Se quiser saber mais basta abrir o cofre do escritório.

Com amor, papai e mamãe.

Encarei a carta de olhos arregalados e totalmente de boca aberta. Nunca fui de dizer palavrões, mas PUTA QUE PARIU! O que é tudo isso que eu acabei de ler? Quer dizer que meus pais foram mortos por um cara loucão super-ultra maníaco.

Inacreditável.

- Oh merda! – exclamou tio Liam, quebrando o silêncio que havia se instalado na sala.

- Não acredito. É muito surreal, é sério isso? – perguntei, ainda sem acreditar, talvez fosse uma brincadeira de mau gosto, um trote. Qualquer coisa do tipo.

- Bem... É sim. Então Mine. O que vai fazer agora? –perguntou ele.

Não sabia o que responder, as minhas prioridades, foram jogadas ao vento e eu não sabia mais ordenar nada, minha cabeça e meu mundo estavam do avesso. Respondi a única coisa que fazia sentido.

- Vou viver um dia de cada vez. –disse decidida, e daquele momento em diante eu sabia que minhas fraquezas estariam guardadas para mim mesmas. Para o mundo lá fora, eu serei forte, decidida, implacável.

Serei forte como eles foram.

Resolvi ocupar minha cabeça, não pensar em tudo o que aconteceu, será bom. Peço para tio Liam começar imediatamente a me mostrar como funcionam algumas coisas, para que eu possa me informar e ficar por dentro do funcionamento da empresa, que logo serei presidente. Quando dou por mim já são sete horas da noite e me sinto faminta e exausta. A única coisa que quero fazer agora é jantar, tomar um banho quente e me jogar na cama. Porque, vou te contar... Foi um dia daqueles. Um dia de cão.

- Nossa, tô morrendo de fome. Que tal uma pizza? – pergunto.

- Eu também. E pizza parece ótimo, vou fazer o pedido, o de sempre né? –pergunta ele.

Aceno em aceitação à sua pergunta. Enquanto ele vai em direção à sala, resolvo abrir o cofre e dar uma olhada, só pra saber o que há dentro.

Digito a senha e abro a porta, encontro várias coisas além de documentos da empresa. Casos que meus pais trabalharam enquanto ainda estavam na agência, alguns envelopes pardos, joias, dinheiro, uma arma e a planta de nossa casa. Essa última me interessou, pois, nunca tive acesso total a certas partes da casa.

Agarrei a planta, fechei o cofre e espalhei-a sobre uma pequena mesa de mogno. Observei parte por parte e pasmem! Descobri várias passagens secreta além das que eu conhecia, algumas davam na rua, e mais uma sala de treinamento e uma sala com armas, só arma de todo tamanho e calibre, logo atrás do escritório. Não sabia da existência dessa sala em particular, ate porque eu treinava sempre ao ar livre com mamãe ou na academia, mas às vezes me perguntava onde ela guardava o equipamento.

Perdida em meus devaneios, não vi tio Liam entrar com pizza e refrigerante algum tempo depois. Ele se juntou à mim e também observava a planta, quando ouvi seu assovio.

- Fiuuuuu, nossa. Eu sabia que essa casa era bem projetada, mas não tão arrojada assim. –disse ele enquanto fitava a papel ao meu lado. Assenti em aprovação.

Era impressionante com eu sabia pouco sobre o lugar onde morei minha vida toda. Depois de analisar mais um pouco, resolvemos comer. A pizza estava ótima e tivemos um jantar agradável. Ao terminar, resolvi fazer uma proposta:

- Que tal ficar hoje tio? Podemos ver um filme e comer pipoca. – disse tentando soar animada, mas a verdade era que eu não queria ficar só e me afogar em lágrimas e tristeza e dor. Quero companhia, prefiro não descansar, assim vencida pela exaustão não precisarei pensar no que foi esses últimos dias.

- Ok Mine. Vamos logo tomar um banho e mudar de roupa. Será melhor. Não há nada melhor que um bom banho quente. – diz ele.

- Certo, te vejo em alguns minutos. – digo animada. Subo logo e já me sinto melhor.

Tomo banho rápido, visto algo confortável, faço um coque bagunçado e desço. Chego à sala e sei que tio Liam ainda está lá em cima. Resolvo fazer pipoca, começo a lembrar de que algumas vezes tínhamos uma noite na semana e ficávamos em casa assistindo filmes e comendo pipoca. Começo a sentir a tristeza me atingir novamente, então digo a mim mesma que eu não devo ficar triste por essas coisas. Empurro a tristeza lá para o fundo. Sinto que se toda vez que eu olhar para algo que lembre os meus pais desmoronarei. Não foi assim que eles me formaram.

- Seja forte. – digo a mim mesma.

Terminei de fazer a pipoca e me dirijo à sala. Tio Liam já está separando filmes que ele sabe que eu gosto.

- Hey, tio. O que temos para hoje? – pergunto.

- Não sei Mine. Comédia ou ação? – pergunta. Vejo que ele está um pouco indeciso e que espera a minha resposta um pouco ansioso.

- Que tal ação? Preciso de algo emocionante, cheio de efeitos e muita adrenalina. – digo.

Não sou como a maioria das garotas. Vale ressaltar que: eu não sou mimada, não dou importância a futilidades e começo a suspeitar que eu não tenha sequer uma célula romântica no corpo. Só de pensar em romance "água com açúcar", sinto enjoo.

Eca!

Tio Liam sorri e coloca um dos seus filmes favoritos. Carga explosiva. Também gosto. Tenho certa predileção por filmes assim, ação e tiroteio acompanhado de homens bonitos e carros velozes.

Simplesmente demais.

Depois de carga explosiva e mais dois filmes de velozes e furiosos. Sinto que minhas pálpebras vão cair e tio Liam já ronca suavemente ao meu lado. Pego meu celular e vejo que já é madrugada. Pego um cobertor e um travesseiro e coloco suavemente a manta sobre ele e o de3ixo dormindo lá. Faço meu caminho pro meu quarto e me jogo na cama, mergulhando em um sono profundo e tranquilo.

Acordo me sentindo um pouco desorientada e com um pouco de frio, olho ao redor e percebo onde estou. Esclarecimento cai em cima de mim como um tijolo na cabeça.

Ah, merda.

Estou deitada só de pijama e camiseta no meio da área de treinamento que mamãe e eu usávamos durante a manhã. E fica no meio do jardim dos fundos. Sorte minha que não está frio.

Raramente isso me acontece, mas quando estou sobrecarregada tenho crises de sonambulismo. Depois de praguejar mais um pouco, levanto e me dirijo à porta da cozinha, certamente os vizinhos iam adorar assistir-me entrar só de pijama e de forma muito suspeita em minha casa.

Tomo café com tio Liam e depois de revisar mais algumas coisas a respeito da empresa e da entidade do mal que matou ambos os meus pais.

Sentamos no sofá e começamos a conversar descontraidamente sobre passar o fim de semana fora ou até viajar e conhecer algum país, quem sabe Dubai, talvez o clima oriental e cheio de mistério me faça bem. Ou quem sabe o Brasil, terra de pessoas bonitas, hospitaleiras e de belas paisagens.

Seria bom. Muito bom.

Enquanto ainda discutimos amenidades, começamos a ouvir um barulho estranho, como se alguém estivesse atirando em algo. Nesse momento, surpresa me bate. Realmente são tiros, com silenciador.

Pop, pop, pop.

O alarme da casa dispara, meu coração perde uma batida e volta a acelerar com tudo quando a realidade me bate.

A casa está sendo invadida!

            
            

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