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Voltei o meu olhar para cima apenas para ver uma garota linda e toda suja de coca cola.
Sim, que dia perfeito esse. Bela forma de ter um primeiro dia de aula. Essas merdas só acontecem comigo.
– Desculpe, eu estava distraída. – admito meu erro. Eu não deveria ter dado tanta atenção ao meu celular e esquecido o caminho à minha frente.
– Ei, você não é a garota nova? – pergunta. Suspiro resignada. Começou as perguntas.
– Sim, sou eu. – respondi.
Ou a garota vai me xingar ou coisa parecida. É nessas horas que eu sofro por não ter ido à escola como as pessoas normais.
Um gritinho sai dela e isso me assusta me tirando do meu devaneio sobre injustiças. A garota estende a mão para mim com um grande sorriso entusiasmado, com um pouco de receio eu seguro sua mão e ela me ajuda a levantar.
O que diabos eu perdi enquanto devaneava?
– Incrível! Eu estava louca para te conhecer melhor, mas eu fiquei com medo de você não gostar de mim, ou talvez me bater. – diz.
Faço uma careta para o argumento dela. Bom, agora eu sei que o visual deu certo.
– A propósito, eu sou Kim. E você? – se apresenta e pergunta em seguida.
Nossa. Eu fiz uma amiga. De um jeito estranho? Sim, mas eu fiz.
Ponto para mim!
Esse dia não parece tão ruim agora.
– Evie. – respondi. O nome soando estranho em meus lábios.
– Certo, Evie. Estou sentindo que vamos ser grandes amigas. – saltita e começa a me arrastar para fora do corredor. Eu não sei como eu saí da pessoa desconhecida e desastrada que derramou refrigerante nela para a potencial grande amiga. Ela parece um pouco louca e tudo, mas eu gosto do jeito dela e se depender de mim, a parte da amizade vai funcionar.
Vou me esforçar para fazer essa amizade dar certo. Se depender de mim, seremos boas amigas.
***
Não consigo acreditar que faz uma semana que estou nesse colégio. Kim está em quase todas as minhas aulas e é incrível o quão bom é ter uma amiga. Conversamos sobre tudo, bem, sobre quase tudo dentro do possível, considerando que, boa parte das coisas que eu contei é uma mentira. Mas, o lado bom é que eu realmente estou começando a minha vida como uma colegial comum.
Considero isso um grande feito.
Aos poucos, estou conhecendo as pessoas e os grupos. Alguns que eu só observo de longe e o grupo de amigos de Kim. A maioria é legal, alguns são até parecidos comigo na aparência. Ok, talvez um pouco mais mórbidos, mas o que importa? Eu tenho amigos!
Eba!
Tem também a elite, os alunos mais ricos da cidade, todos no mesmo grupinho. Líderes de torcida e os caras do time do colégio, eu sei, minha parece um pouco um filme adolescente clichê. Às vezes me sinto um pouco ridícula com isso. E como se não bastasse todos nós sabermos que eles são tão ricos quanto Creso, temos Megan e Don, rei e rainha do colégio. Fale-me sobre algo mais clichê que isso.
Megan é linda como uma modelo da Victoria Secrets e Don é o amado quarterback do colégio, sem mencionar o fato incontestável de que ele é lindo demais. Infelizmente, qualquer garota que se aproximar dele vai sofrer as consequências. Eu fui advertida, mas não posso deixar de suspirar um pouco quando o vejo. Ele é tão lindo com seu cabelo loiro bagunçado, seus olhos azuis e seu corpo construído.
Uma semana e eu já estou me apaixonando pelo cara bonito da área, porém, a cobra já está enrolada em torno dele e não deixa ninguém se aproximar.
Uma grande injustiça.
Diabos! O que eu posso fazer afinal? Eu sou só a garota nova e estranha. Eu devo ser invisível para todos eles. A única que iria sentir a minha falta é Kim, mas é porque é a minha amiga e sabe que eu existo. Há um certo drama nessa vida de colegial, quem diria que um dia eu me importaria com garotos e se eu seria notada pelo cara mais gato do colégio ou não.
Bem, o que eu disse.
Drama.
Com isso resolvido, faço meu caminho até o meu armário, antes de chegar, já sou abordada por Kim, que me cumprimenta com um beijinho estalado na bochecha e um tapinha na bunda. Ainda não acostumei com esse jeitinho louco que ela tem. Só que eu estaria mentindo se dissesse que eu não gosto dessa adolescente inquietantemente feliz.
O que posso dizer?
Ela me conquistou pela peculiaridade.
Ela faz meu dia melhor e um pouco melhor, talvez um pouco da sua alegria seja transmitida para mim.
Faz sentido para mim.
Então é isso.
Sou despertada do meu transe quando Kim solta: – Você sabe, hoje não adianta inventar uma desculpa para não ir à aula de educação física, não é?
Merda.
Eu havia esquecido isso.
Na última semana eu criei uma série de desculpas para não ir a essa aula. Não me sentia psicologicamente preparada para ver muitas pessoas e socializar, eu ainda estou enfrentando e o luto e lidando com todas as mudanças repentinas, é muita coisa para ficar bem rapidamente e embora eu pense que estou fazendo um bom trabalho aqui, ainda não é fácil lidar com tudo isso. Então eu dei uma desculpa qualquer sobre uma dor de barriga ou coisa do tipo, liguei para Rose, que entendeu a minha situação e veio me buscar.
Não acho que vou ter a mesma sorte dessa vez. Respiro fundo e resolvo que vou tentar passar por essa situação da melhor forma que puder.
– Não trouxe roupa. – solto.
Eu ainda posso fazer uma tentativa de escapar dessa.
Kim abre um sorriso conhecedor, juro que sinto uma pontada de medo. Ela é linda, mas pode ser sinistra quando quer.
– Eu trouxe uma roupa extra. – diz.
Sabia que ela estava tramando algo!
Ok. Acabo de admitir a derrota, ela venceu.
– Tudo vem. – suspiro derrotada.
Com um gritinho e uma dancinha estranha, ela comemora. Assumindo a melhor postura de garota séria, ela me arrasta para a nossa primeira aula do dia.
Quase cheguei atrasada para a minha primeira aula de educação física, corri para o vestiário. Todas as garotas já estão saindo, apenas algumas ainda conversam entre si e permanecem no lugar. Encontrei Kim já me esperando com a roupa na mão. Ainda bem que somos praticamente do mesmo tamanho. Vesti a roupa às pressas, ficou um pouco apertado, mas o que eu posso fazer?
Saio do lugar onde eu praticamente estava escondida para ninguém me ver. Ainda não acostumei com outras pessoas da minha idade olhando para mim, esse tipo de coisa me deixa desconfortável, ou talvez a palavra certa seja envergonhada.
Continuo fazendo o meu caminho e respiro fundo, ainda estou usando o casaco preto por cima da blusinha branca de ginástica e shorts preto. Junto-me a Kim que me dá um olhar estranho e faz uma careta e aponta para o meu casaco. Assim como todos os alunos que param de falar e ficam me olhando como se tivesse saindo uma cabeça da minha bunda. Que porra!
É só o maldito casaco, o que há com essas pessoas?
O nosso professor, senhor Tyson, limpou a garganta afim de chamar a atenção de todos. É um homem muito bem construído, bonito, eu acho que pode estar em torno de seus quarenta anos. Varre a multidão com seu olhar firme e por fim, seus olhos param em mim. nesse momento, tenho o pressentimento de que estou prestes a ter atenção de todos em mim.
Merda dupla.
Eu não gosto disso. A atenção me deixa demasiada nervosa, realmente preferia levar outro tiro agora.
Ok, acho que exagerei. Deixe-me pensar... Um tiro é algo bastante doloroso. Talvez um soco, isso!
Definitivamente, estou sendo contaminada pela veia dramática de Kim. Engulo em seco e me preparo para o que quer que venha do professor.
– Senhorita Miller. Sei que é nova aqui, mas peço que tire o casaco, não pode se exercitar assim. – diz.
Oh, diabos. E agora?
Eu me arrependo profundamente de ter ouvido o que Rose e Dave disseram antes, eles obviamente não sabem nada sobre adolescentes ou estavam brincando comigo de uma forma distorcida.
É melhor respirar fundo e fazer o que eu tenho que fazer logo de uma vez. Não tem como ser tão ruim.
Com um suspiro derrotado, sigo em direção à arquibancada, respiro fundo e começo a tirar o casaco, penso em virar e ficar de frente para todos, porém, resolvo acabar logo com isso. Prefiro que todos vejam de uma vez.