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Concentração.
Era tudo o que Jessika precisava, juntando todas as suas forças ela tratou de esvaziar a mente. Era bem mais simples retratar um jarro ou mesmo uma cadeira, qualquer objecto. Tudo menos um homem, completamente nu recostado numa poltrona, relaxado e seguro de si mesmo. Seguro com o seu corpo e a tonificação do mesmo. Tirando todas essas evidências, o que a incomodava mais era o seu olhar.
Penetrante, sedutor e absolutamente intimidante. Traçando os primeiros contornos, Jessika tratava de o evitar. Tratando com alguma dificuldade dessimular o desinteresse. Não que ela não estivesse interessada, muito pelo contrário. Ela sentia-se atraída como um íman por uma peça metálica. Mathew representava tudo o que lhe interessava num homem, pelo menos fisicamente. Aparentemente metade da turma achava o mesmo, claro metade da turma feminina. Olhares eram trocados entre umas e outras, alguns murmurinhos eram ouvidos acompanhados de risos suprimidos.
Misturando as cores na sua paleta, Jessika perguntava-se qual seria a probabilidade de retratar na perfeição algo que era tão perfeito por si só. Escolhendo o preto ela decidiu que seria a cor de fundo, assim o manto vermelho sobressairia melhor. Perdida nos encantos daquele ser bem na sua frente ela pincelou o mais rapidamente que conseguia. Grace circulava pela sala, passando de aluno em aluno, dando concelhos enquanto a melodia doce de sinatra ecoava pela sala a partir do pequeno rádio situado no canto.
Segundo Grace era importante aclarar a mente e envolver-se no que se estava a fazer. Só assim se conseguia encontrar a calma e a serenidade. Só assim nasciam as verdadeiras obras primas. No entanto, Jessika encontrava-se tudo menos calma e serena. O pincel tremia na sua mão e os nervos estavam à flor da pele, sob o olhar atento do modelo desconhecido ela lutava por ser profissional ao ponto de que um corpo nu não a afectasse. Espalhando tinta a óleo pela tela, desordenadamente e sem qualquer limite decidiu que o melhor a fazer era um abstracto. Assim não teria que dar tanta importância aos pormenores. Observando com cautela ela subiu o seu olhar, deslizando pelo baixo ventre encontrando a pequena trilha de pêlos que convidava a subir. Os vincos sobressaídos da sua anca e os abdominais colocados a par e par salientes e bem delineados eram um verdadeiro colírio para os olhos. Calmamente e com um ritmo perfeito o seu peito subia e descia, espalhados por ele estavam algum pêlos. No seu rosto uma barba perfeitamente aparada, mas o que realmente sobressaí-a mais, eram os seus olhos.
Favorecidos por um belo tom, era difícil distinguir se eram azuis ou verdes. Como a clareza da água num oceano translúcido de uma praia paradisíaca eram assim que eles pareciam. Desfrutando do momento e da oportunidade Jessika explorou todo o seu corpo só com o olhar.
Chegava a ser até erótico, e ela agradeceu-se a si mesma por escolher aquele curso. Mesmo que não o chegasse a conhecer, certamente esta noite ela teria sonhos melhores.
Onde um verdadeiro Deus do Olímpo a visitaria e confessaria o seu amor eterno. Claro se isto fosse um romance era o verdadeiro desfecho. Mas a sua vida era tudo menos romântica. O príncipe encantado nunca apareceu, e ela também não se atreveu a procurá-lo. O sinal tocou emitindo um som agudo e extremamente irritante. Todos arrumaram as suas coisas, enquanto que Jessika limpava cuidadosamente todos os pincéis. Um a um, demorasse o tempo que fosse necessário ela precisava de garantir a durabilidade dos mesmos.
Quando olhou pelo canto do olho, já não se avistava ninguém na pequena poltrona onde anteriormente repousava Matthew. Sem saber porquê a desilusão abateu-se sobre ela, talvez porque esperava que o interesse demonstrado o fizesse mover-se e a tratasse de conhecer. Lançando um pequeno suspiro, ela fechou a sua caixa de madeira, guardando-a de seguida no pequeno compartimento que lhe estava reservado. Colocando o casaco e o gorro preparou-se para a próxima aula Filosofia.
Grace ocupava-se de colocar as estátuas elaboradas em pequenos tabuleiros para os fornear quando tivessem quantidades suficientes. Com um pequeno gesto de mão ela despediu-se, Jessika avançou pela sala e saiu fechando a porta de seguida. Olhando para o telémovel, ela tomou atenção às horas, poderia tomar algo antes da aula de Filosofia começar. Ela precisava de café se queria resistir à palestra enfadonha do Sr.Flores.
- Hey. - Alguém falou. Primeiro Jessika perguntou-se se seria mesmo para ela, mas movida pela curiosidade ela procurou a origem. Recostado na parede, com os braços cruzados junto ao peito agora coberto por uma grossa camisola preta. Estava Matthew, esboçando o mais belo sorriso que alguma vez ela tinha visto.
- Hey - Ela respondeu timidamente, as suas bochechas ruborizaram quase instantaneamente. Ele aproximou-se calmamente, quase como um predador em busca da sua presa. Era petrificante, mas ao mesmo tempo excitante a forma como ele a olhava. Sem se mover, e mesmo quase sem respirar, Jessika esperou. Assim que ele parou na sua frente, o seu aroma exótico foi o que ela notou primeiro. Era como se ele fosse doce e salgado, como se cheirasse a morango e a mar. Era confuso, e quase indecifrável.
- Eu gostava que tomasses um café comigo. - Ele foi directo, sem qualquer rodeio. Geralmente, esse tipo de coisas afastava-a e por cautela era recusaria. Mas, ao contrário do que era de esperar. Ela tinha vontade de aceitar. Como que desafiada pela própria mente ela sentiu-se encorajada a seguir o seu instinto.
- Está bem. - Responde claramente e com segurança. Espantada pela sua própria destreza e ambição encarou os seus olhos, certa que esses eram os olhos mais bonitos que ela alguma vez tinha visto.