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A pequena cafetaria estava parcialmente cheia quando alcançaram uma mesa situada a um canto. Sentada na sua frente Jessika ponderava a sua escolha, seria realmente acertado estar com alguém que desconhecia por completo? Pressionando as pernas juntas, ela esfregava as mãos pelos seus jeans desgastados na tentativa de as aquecer e também esconder o nervosismo.
Uma jovem de cabelos loiros bastante bonita, aproximou-se, exibindo um grande sorriso ela literalmente derreteu-se perante Matthew.
- Então o que vai ser? - Ela perguntou olhando unicamente para ele.
- Café. - Ele respondeu com frieza. A indiferença estava estampada no seu rosto e os seus olhos nunca deixaram Jessika, o que em certa forma a agradou. Era como se analiza-se cada centímetro do seu rosto. - Para os dois. - Ele pausou enquanto aguardava que a garçonete anota-se o pedido e por um segundo os seus olhos pararam na garçonete loira. - Queres comer algo? - Voltando o seu olhar para Jessika ele esboçou um sorriso toda aquela frieza desapareceu dando espaço a um ar simpático.
Ela negou com a cabeça, apreciando o ar de derrota estampado no rosto da garçonete ela observou enquanto se retirava abanando exageradamente as ancas. De alguma forma aquilo soube bem.
- Eu gostaria de saber o teu nome. - Ela não sabia se era uma pergunta ou uma declaração.
- Jessika. - Respondeu rapidamente. Colocando uma madeixa de cabelo atrás da orelha,e então sorriu timidamente. - Então... Tu és modelo? - acrescentou querendo iniciar um diálogo.
- Não, nada disso. - Ele riu como se ela tivesse perguntado a maior besteira do mundo. Entretanto a mesma garçonete voltou trazendo duas chávenas fumegantes de café preto. Colocando-as sobre a mesa retirou-se de seguida ainda observando pelo canto do olho Matthew e olhando com desdém para Jessika. - Na verdade, sou escritor.- Declarou por fim como se fosse uma coisa demasiado óbvia.
Ela não conseguia acreditar que ele fosse realmente escritor. Quando ele obviamente tinha sido abençoado com tamanha beleza. Percebendo a sua surpresa, ele declarou. - O que acontece é que ser escritor não chega para pagar as contas, então eu faço pequenos trabalhos de modelo.
- Entendo. - Contornando a chávena com as mãos ela finalmente sentiu o calor, e lentamente o frio começou a desaparecer. Com cuidado, bebericou um pouco do seu café. Matthew repetiu o gesto sem nunca deixar de a olhar.
Pousando a chávena sobre o pires, ele apoiou os cotovelos sobre a mesa. As suas mãos juntaram-se e descansou o queixo sobre elas. Aquele momento era estranho. Obviamente a conversa não fluia com naturalidade necessária então ao fim de uns segundos ele rompeu o silêncio.
- Sabes... - Remexendo-se sobre o banco ele inclinou-se para a frente. - és extremamente linda eu diria praticamente perfeita. Sim Jessika pareces-me perfeita.
Corando, Jessika sentiu as bochechas arder. Apanhada desprevenida e sem saber se deveria agradecer ou não a tamanho elogio. Ela rapidamente se repreendeu pela sua escolha ousada. Um homem como ele deveria ter múltiplas mulheres por onde escolher. Então, porque demónios era ela que estava ali?
- Isso, deve ser o que dizes a todas. - Ela falou baixo desviando o olhar. Não se conteve, e mesmo que o pudesse fazer já estava dito.
- Mas tu não és como todas. - Ele falou seriamente, colocando o indicador sobre o seu queixo elevando o seu rosto até que os seus olhos se encontraram uma vez mais. - Porque se fosses, o certo é que não estarias aqui.
Nos seus olhos cristalinos ela viu espelhada a sinceridade. Ele estava a falar a sério e como uma adolescente ela estava a acreditar. Dentro dela uma voz gritava freneticamente, e logo o seu coração disparou, então ela sentiu-se especial.
Afastando a mão do seu queixo ele agarrou delicadamente a sua, entrelaçando os dedos. Aquele mero contacto, tão fútil para uns e tão carinhoso para ela fez com que o seu corpo vibra-se de excitação, mas ao mesmo tempo algo dentro de si dizia que era estranho. Que não se começavam assim qualquer tipo de relacionamento e que se deveria afastar. Mas depois, havia também outra voz que lhe dizia para baixar a guarda. Então, não querendo ficar mal, ou mesmo constrangida ela permitiu. Permitindo-se saborear o momento. Apreciando a onda electrizante da sua mão quente sobre a dela, quando por fim ele a afastou ela sentiu-se vazia. Como se lhe roubassem algo que sempre fora dela, só que ela não sabia ainda.
Ela precisava de refrescar a mente, afastar por um momento Matthew e toda a sua sedução. Isto se ela queria pensar com clareza e consciência. Desculpando-se ela preparou-se para levantar. - Vou aos lavabos e venho já.
Assentindo em concordância, ela deixou a mesa. Mesmo de costas ela sentia o seu olhar sobre ela, era incrível a forma como ele a conseguia fazer sentir era como se estivesse na berma de um precipício. Um passo em falso e ela cairia desamparada.
Uma vez dentro da casa de banho ela respirou profundamente. Apoiando-se no rebordo do lavatório ela encarou o seu reflexo no espelho. Hoje não era o seu melhor dia, desprovida de qualquer maquilhagem ela não podia parecer pior. As suas olheiras estavam profundas em torno dos seus olhos rasgados, e ela amaldiçoou-se por não aplicar pelo menos um pouco de corretor. O seu cabelo estava achatado e desgrenhado, culpa do vento. Jogando um pouco de água fria no rosto ela esforçou-se por esconder o cansaço.
Com os dedos tratou de escovar o longo cabelo, fixando uma vez mais o espelho ela viu uma imagem ligeiramente melhor. Ela tinha noção de que não era propriamente feia, mas não se considerava uma beleza rara. Só não entendia ao certo o que Matthew via nela.
Ao longo da sua adolescência ela tinha tido um namorado ou dois, daqueles namoros a sério. Respeitando todos os parâmetros gerais, mas sendo como é, nunca foi popular ou mesmo teve rapazes daquele calibre atrás dela.
Inspirando e expirando algumas vezes ela tomou coragem e preparou-se para sair e voltar à mesa. Fazendo o seu caminho ela percebeu que o espaço estava mais desocupado, e ao longe viu Matthew conversando animadamente com a garçonete.
A mesma que há instante tinha despresado, ela ria para ele como uma criança ao ver um chocolate, e ele correspondia. Então ela viu como a garçonete se debruçava exibindo o decote enquanto recolhia as chávenas da mesa. Era bom demais para ser verdade foi então que como uma faísca a raiva tomou conta dela, sentindo-se estúpida ao ponto de acreditar ser especial para ele, ela avançou rapidamente. Recolheria as suas coisas e iria embora para nunca mais olhar para a cara daquele idiota.
Já na mesa, ela recolheu o seu casaco e tratou de o vestir rapidamente. Escondendo o sentimento azedo da traição, ela esboçou o melhor sorriso que conseguia.
- Desculpa mas tenho de ir. - Falou sem rodeios. Matthew franziu o cenho olhando atentamente, os seus movimentos. Talvez os ciumes fossem óbvios, talvez ela não fosse tão boa actriz como pensava que era. Sem esperar que ele dissesse algo ou se despedisse, virou costas dirigindo-se para o exterior.
O ar frio rodeou o seu corpo mal ela abriu a porta, caminho ferozmente enterrando as mãos nos bolsos do casaco. Ela avançou o mais rápido que conseguia, a verdade é que não queria fazer uma cena ou mesmo parecer infantil e mimada.
Mas alguém que a fazia sentir especial num momento e no outro se atira para a primeira que vê não é merecedor do seu tempo. É simples e fácil.
- Jessika! - Ela ainda o ouviu gritar chamando o seu nome, mas ignorou. Não iria fazer o papel de estúpida, isso não permitiria.
A sua voz era crescente e ela sabia que ele se estava a aproximar, ela só queria que ele a deixasse e não insistisse. Mas por qualquer motivo ele não parou. Colocando a mão no seu ombro ele girou-a sobre si, como uma bailarina.
Apanhada desprevenida, ela desequilibrou-se escorregando na camada fina de gelo que se estava a formar, foi então recebida pelo aconchego dos seus braços e então ela sentiu-se segura. E foi quando os seus olhos se encontraram que ela sentiu.
A química, a atracção, a tensão estava presente entre eles.
E sem falar nada, ele juntou os seus lábios pressionando-os apaixonadamente. Pequenos e cintilantes flocos de neve caíam sobre eles tornando aquele momento, o momento mais mágico de sempre.