/0/2129/coverbig.jpg?v=7da4f6a45d4fecac3a06f24ecd723caa)
Se houvesse a mínima possibilidade de recomeçar de novo, ela apagaria aquele ser da existência da Terra. Agora, começava a preferir Georgia. Essa pelo menos não tagarelava sem parar. Talvez ele estivesse determinado a ser irritante? Encarando a parede na sua frente, Jessika esforçou-se por controlar a respiração, tornando-a pausada e calma, tal e qual como se estivesse a dormir. Assim ele acabaria por parar. Ninguém, aguentaria falar para o vazio tanto tempo.
- Aquele tipo, o que estavas prestes foder? Sabes? É teu namorado? - Ele perguntou. Havia algo na sua voz, como se ele a julgasse. - Podemos passar horas nisto. Se foderes tão mal como representas, o pobre coitado vai ficar agradecido pela interrupção. Acho que lhe fiz um favor. - Ela podia imaginar o seu ar de gozo ao pronunciar cada palavra. Ele estava a testar os seus limites e ela sabia disso.
Apesar de toda a concentração e esforço por o ignorar, ela sentia-se a ferver. Intrigada, magoada e até mesmo insultada. A sua escolha de palavras era ofensiva e de mau gosto. Quem era ele afinal? Para a julgar sem mesmo a conhecer?
- Vá lá... - Ele suspirou o suficientemente alto para ela ouvir. - Acaba lá com esse teatrinho mal feito e responde à minha questão. Ele é...
Ela não suportava mais ouvir o que fosse, então num impulso Jessika estava de pé, os seus pulsos estavam cerrados e o seu olhar era matador. O clima no quarto mudou, o ambiente era de cortar à faca. - Porque queres saber hã? - Disparou.
- Não é namorado pois não? - Ele prosseguiu a sua declaração. Passando os dedos pelo cabelo ele levantou-se ficando frente a frente com ela quase próximo demais. Ela sabia onde ele queria chegar, e reconhecer esse facto era demasiado vergonhoso. Era demais para um dia só. - Era só uma foda não era? Quem é o tipo? Anda aqui na universidade? - Ele fez uma curta pausa. A sua sobrancelha arqueou constatando o facto. - Não. Parece mais velho que tu. - O ar trocista apareceu no seu rosto. Ele até era bonito visto assim de perto, os seus olhos eram claros. Cor de amêndoa, riscados com pequenos traços verdes podiam ser vistos junto da tetina. A sua boca era grossa mas não demasiado e o seu rosto era fino. Ele parecia jovem, talvez demais para andar na universidade.
- Eu... eu... - Realmente embaraçada ela desviou o olhar. - Eu não quero falar disso! Por favor pára! - Quase numa súplica olhou para ele.
- Wow! Estou de queixo caído. - Divertido perante a sua humilhação ele riu. - Eu juro. Que se eu mesmo não tivesse visto. Eu não acreditaria. Pareces tão inocente, delicada. Até apostaria que eras virgem, mas depois daquilo que quase vi. Estou impressionado!
- Cala-te! - Frustrada ela gritou. A facilidade com que ele mexia com o seu sistema nervoso, era angustiante. Que mal teria feito para merecer algo assim. Que tipo de relação poderia agora haver, depois de tudo?! Teria de ser humilhada desta forma todos os dias? Angustiada mordeu a bochecha de forma a conter as lágrimas. Não ia chorar não, não na frente dele.
- Atingi um nervo? - Os seus olhos cor de mel procuraram os dela. Brilhantes e tristes, ela procurava segurar o choro. - Oh!! Realmente?
- Não eu não sou. Mas acredito que isso não é de facto da tua conta. - Disparou. Ela realmente já não era virgem, mas ter sexo com alguém era das coisas que ela não desejava com frequência. Pelo menos não do jeito que desejou com Matthew. Isso era novo para ela. - Agora faz-me um favor, e cala-te!
- Acontece... - Ele saiu da sua frente e rescostou-se novamente na cama. - Eu tenho tempo livre, estou aborrecido e tu estás aqui... Então junto o útil ao agradável. Não me vou calar a menos que prefiras foder?
Ela não acreditava no que acabara de ouvir. Agora ela estava escandalizada, o seu colega de quarto era inconveniente, estúpido e pervertido! A palavra foder parecia ser uma constante no seu vocabulário, se é que ele tem algum. - Se me apetecesse "foder" obviamente não seria contigo. Quero dizer... - Jessika observou-o com desdém. - olha bem para ti!
A verdade é que ele seria pouco compatível com ela e ela já não o suportava minimamente.
- O quê? - Agora ele parecia irritado. - O que queres dizer com isso? Hã? - Colocando as mãos nos seus ombros, ele pressionou-a contra a parede. A brutalidade do momento, fez com que o medo surgisse. Ao contrário do que Jessika esperava ela sentiu coragem, ainda não sabia de onde vinha mas ele desafiava-a.
Olhando bem nos seus olhos ela respondeu. - Quero dizer... - Ela lambeu o lábio inferior prendendo ligeiramente entre os dentes. O aperto diminuiu e ele já não parecia mais irritado. - que deves ter mais doenças que um folheto sobre DST. - Empurrando-o com força ela afastou-se. - Ouve bem o que te vou dizer, porque só o direi uma vez. Nunca, mas nunca mais me toques. Faz de conta que eu não existo, não te metas na minha vida que eu não me meto na tua! Entendes-te?
- Ok! - Agarrando a maçaneta da porta ele girou-a para a abrir. - Farei exactamente isso, vou fazer de conta que não existes! - Fechando a porta com força ele foi.
Jessika não conseguia compreender o significado das suas palavras. E em parte, o porquê de parecer mais uma ameaça do que uma declaração. Talvez ela tenha sido dura com ele, mas tinha que marcar o seu ponto. Ela exigia respeito, e se para isso o tinha de enfrentar. Então que fosse.
O seu dia tinha sido repleto de drama, completamente exausta ela tratou de se trocar. Deslizando o pijama verde com um padrão xadrez às riscas ela estava confortável.
Preparando a cama deitou-se sentindo o seu corpo afundar, confortável e quente. Ela tratava de por as ideias em ordem, Matthew não lhe saía do pensamento e a convivência permanente com o seu colega de quarto dava-lhe cabo dos nervos.
Fechando os olhos ela esforçou-se por adormecer. Ela não queria estar acordada quando ele voltasse nem queria suportar os seus disparates. Só desejava acordar amanhã e esperar que o dia fosse mais fácil.